domingo, 14 de dezembro de 2014

QUEM LIMPOU O TERRENO?



Na frente da minha casa tem uma mata.

O terreno não me pertence, mas, mesmo assim, preservo limpa uma área, aproximadamente, uns de dez metros quadrados, para inibir as visitas dos "vizinhos", como as cobras, as aranhas e outros bichinhos que já vieram na minha casa antes.

Trata-se de uma mata da aeronáutica e, mesmo sabendo da proibição do acesso, eu faço essa limpeza. Mas mantenho todo o cuidado de não provocar outra modificação no ambiente. Faço isso desde que comprei a minha casa, há mais de cinco anos. Recebi essas instruções da antiga proprietária.

A área limpa fica embaixo de um cajueiro de folhagens ralas e cajuzinho miúdos e também de um pé de mangaba. Ambos ficam carregadinhos de frutas na época. Essa é a visão privilegiada que tenho da janela do meu quarto.

Neste sábado pela manhã, enquanto varria o terreno, uma experiência da infância me veio na memória. Lembrei-me que quando criança eu ia passar as férias no sítio dos meus avós que era cercado de grandes mangueiras e outras fruteiras. Lá, eu reparava que, diferentemente do interior do sítio, o espaço que ficava mais próximo da casa era impecavelmente limpo. Uma areia branquinha, como uma praia, surgia embaixo das grandes mangueiras. O cenário era diferente do restante do sítio, que era cheio de matos e folhas. Eu achava aquilo, simplesmente “mágico”.

Que sorte tinha a minha avó, pensava eu, um terreno maravilhosamente limpo e branquinho cercava toda a sua casa. Muito convidativo para brincar; pendurar balanços; descansar na sombra e até fazer algum tipo de trabalho em baixo das árvores. Uma maravilha.

Muito tempo depois eu descobri que o terreno aparecia limpinho não por uma mágica, como eu pensava. Descobri que a minha avó acordava bem cedo, antes ainda do sol nascer totalmente. Ela ia curvadinha, com uma vassoura feita dos cachos de açaí e varria todo aquela imensidão de terreno, deixando exposta a areia branquinha que recebia as pessoas que, como eu, chegavam lá depois.

Ainda imbuída nessa lembrança, continuei o meu dia pensando em quantas pessoas, passando por esse terreno que limpo agora, tem a ilusão de que está assim por uma mágica da natureza. A certeza desse pensamento me veio depois. Confirmada em um episódio, no mínimo perturbador.

Quando eu terminei a limpeza do terreno e vim para dentro de casa dar inicio a faxina interna, passei por acaso pela janela do meu quarto e observei que havia pessoas plantando no local que eu limpara há poucos minutos atrás.

Por certo, aquelas pessoas pensaram estar diante de uma mágica encontrando um terreno limpinho, pronto para ser usufruído. Esse pensamento me veio de imediato.

Essa situação me levou para uma reflexão de que coisas assim acontecem o tempo todo nas nossas vidas, em diversas situações.

Casos como dos profissionais que ao chegarem ao local novo de trabalho, valorizando por extremo a sua competência, ignoram o “terreno que outros limparam” para tornar possível o sucesso do seu trabalho.

Têm também aqueles filhos que alcançando um nível elevado no espaço social ignoram que não conseguiriam se os seus pais, ou outros, não lhes tivesse antes oferecido um “terreno limpo” para caminhar.

 Semelhante ainda é o olhar invejoso que se lança sobre o sucesso do outro.  Avaliando somente o produto final, ignorando o trabalho que aquele tivera “limpando cuidadosamente o terreno” para chegar a esse ponto.

Penso que, em qualquer terreno que chegarmos, devamos valorizar os que estiveram antes. Os que arrancaram os matos e afastaram as folhas para expor a areia branquinha que encontramos agora. Mesmo se as chuvas e o vento já tiverem desmanchado o trabalho feito. Se observarmos direito, veremos que há algo de diferente entre aquele terreno e os outros que nunca foram limpos ao menos uma vez.  

Quanto ao problema do terreno em frente a minha casa, eu tentei resolver com um diálogo. Embora, o limite de alcance do meu discurso tenha esbarrado no caráter individualista já formado e apesar de ter me deparado com alguém sem a insensibilidade para perceber que o segredo da mágica do terreno limpo era o meu trabalho, acredito que alguma coisa nós aprendemos nesse dia.



domingo, 10 de agosto de 2014

SOBRE MIM E... UM POUCO SOBRE EX-PAI

Hoje é o dia dos pais. E eu deveria escrever algo sobre isso.

 Deveria, eu disse! Porque é justamente o fato de não dever a ninguém, nem a mim mesma, que me faz escrever no Blog. Aqui escrevo o que eu gosto, o que sinto, o que compreendo e acredito. Estou aqui pela liberdade de escrever por amor. Por isso as longas pausas, sem inspiração ou por estar muito ocupada com os “deveres”.

Dois meses se passaram e não escrevi nada nesse tempo para publicar no Blog.

 Isso pode ter muitos significados, dependendo de qual seja a justificativa , dentre as que eu falei para as longas pausas. Mas o que me preocupa é justamente o fato de eu ficar tanto tempo sem escrever “o que eu gosto, o que sinto, o que compreendo e acredito...”. Para onde estará indo tudo isso?

Conhecendo a intensidade com que as coisas me tocam, lamento constatar que estou vivendo na superfície por todo esse tempo.

Viver na superfície é mesmo como sugere o termo,  viver sem aprofundamento. Nesse caso, sem sentimentos profundos, sem reflexões filosóficas.

Eu percebo que a minha mente está mais canalizada para os “deveres”, para as obrigações. Não tenho vivido espiritualmente, mas, materialmente. Ou seja, não tenho vivido, tenho sobrevivido.

No meu trabalho, embora faça o que realmente gosto, não há espaço para intensidade. As normas e regras podam, controlam.   Ousadia  e sentimentos não são bem aceitos.

Estou achando melhor eu falar um pouco sobre o dia dos pais mesmo.

“Um pouco” mesmo, porque eu não tenho muitas referencias pessoais para falar sobre isso.  Na memória afetiva não há nenhum registro sobre o meu pai. Cedo ele se separou da minha mãe e se separou de mim e da minha irmã também.

O que posso dizer sobre os pais? Nunca sejam ex-pais.

A referência de pai que eu tenho é o pai das minhas filhas. Há mais de quatorze anos da nossa separação, totalmente presente na vida delas.

A ele e a outros pais que nunca se permitiram tornassem ex-pais, a minha homenagem nesse dia.  FELIZ DIA (VIDA INTEIRA) DOS PAIS!


sábado, 7 de junho de 2014

A LEI DA PALMADA - O que isso significa na educação das nossas crianças e jovens?

“O Plenário do Senado aprovou, na noite desta quarta-feira (4), em votação simbólica, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 58/2014, conhecido como Lei da Palmada, que prevê punição para agressões a crianças.

Já é prevista toda a polêmica em torno dessa lei.

Será a falta das “pedagógicas palmadas”, a causa do surgimento de tanta gente mal educada e de uma “geração sem limites”?  Seria mesmo verdade que se todos esses bandidos violentos que há na sociedade tivessem apanhado dos pais quando pequenos seriam hoje homens de bem?

Pipocam também as indagações inconformistas do tipo – Então eu não tenho mais direito de bater no meu próprio filho?

Esse tipo de inquisição transparece um incômodo que se instala nos pais pela invasão externa à propriedade privada que detém sobre o seu filho.

Imagino que seja semelhante, guardando, é claro, as devidas restrições peculiares de cada caso, aos sentimentos que experimentaram, por exemplo, os ex donos de escravos quando perderam os direitos de açoitar os negros para puni-los. É bem provável ter sido comum assistir alguns brancos falando: - Eu quero só ver o que esses negros vão aprontar agora que não se pode mais exempla-lo!

É possível também que, até hoje, muitos homens fiquem indignados por não ter mais “o direito” de bater em “suas mulheres”. Visto que também uma lei foi criada para tornar isso um crime.

A dificuldade em por limites às nossas crianças e jovens não está na negligência de bater neles para educa-los. Está na incapacidade que experimentamos de acompanhar a evolução humana na sociedade. A velocidade das informações, com as suas diversidades e complexidades, chegam aos nossos filhos sem que nós participemos ou, pior, sem termos o menor conhecimento respeito.

Talvez fosse possível tentar manter uma educação hoje em dia onde a base para “correção dos erros” fosse às palmadas. Mas, até quando isso perduraria? Muito cedo as crianças constroem o domínio oral da argumentação.

Cada vez mais precocemente os filhos têm acesso a informações que ampliam suas ideias e seus vocabulários. As crianças, hoje, também são “oficialmente” permitidas de conversar sobre alguns assuntos que antes pertenciam somente aos adultos. Quem não se lembra das recorrentes situações onde as crianças eram enxotadas sob os termos: - Saia daqui menino! Isso aqui é conversa de adulto!

As conversas de adultos e conversas de crianças, agora, estreitaram as suas diferenças e isso significou, para muitas pessoas, uma vantagem das crianças e dos jovens sobre os adultos e motivo para torná-los tão “insolentes”.

Penso que, na verdade, o que nós, pais e educadores, perdemos foi a noção do que é “limites”. Ele se estendeu, de fato. Todavia, o que ocorreu foi que muitos pais perderam a possibilidade de lidar com ele e perderam, inclusive, a  capacidade de compreender até aonde ele se estende para controlá-lo.

Não é de hoje que dialogar com os filhos é uma coisa difícil. As diferenças entre as gerações já causam essas dificuldades desde muito tempo.

O que surge de novidade hoje é que as nossas crianças e jovens não obedecem mais sem ouvir a razão para tal ordem. Antes, o que os pais falavam para os filhos era lei. Muitas vezes nem precisavam dar o exemplo. Era na base do – Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!

Quem não se lembra também de uma época em que aos professores era dado o direito de bater nos alunos para ensiná-los?

Não duvido que seja possível alguém pensar que às indisciplinas nas escolas sejam resultados da ausência das palmatórias. Pois eu, em quase três décadas como professora, sempre me admirei na nossa capacidade em, sem bater, conseguir obediência de certas crianças que as mães ou pais proclamam conseguir somente batendo.

Como seria esse milagre de conseguir obediência e respeito dos filhos sem bater neles?

Tem outro aspecto que considero de extrema relevância a gente refletir sobre ele. Quando batemos em uma criança com o objetivo de castigá-la, ou exemplá-la, na grande maioria das vezes  estamos, na verdade, descarregando sobre ela a nossa ira, a nossa revolta causada pela insatisfação de ter sido desobedecida. A pseudo “palmada” ou surra educativa é na verdade uma descarga de desequilíbrio emocional que trás consequências físicas e psicológicas para ambos os participantes do ato.

E, finalmente, devemos pensar que quando se cria uma lei desse nível, proibindo os pais de baterem nos seus filhos, não se trata de uma preocupação com essas questõezinhas egoístas que estamos levantando a respeito de não podermos mais bater no “nosso” filho. Com relação a isso, cabe a nós nos capacitarmos para conquistar o respeito dos nossos filhos, principalmente não nos anulando para fazer todos os gostos e vontades deles e, acima de tudo, sendo um bom exemplo de pessoas educadas, solidárias e respeitosas com os outros.

 Essa “Lei da Palmada” trata de uma preocupação bem mais grandiosa de “salvar” muitas crianças das garras de monstros que acidentalmente tornaram-se pais.
(Ivana Lucena, 07/06/2014).

A LEI:


Fonte da imagem:
http://www.pavablog.com/wp-content/uploads/2013/10/palmada-agressao-infantil-tapa-violencia-infantil-1323951246989_300x300.jpg


domingo, 18 de maio de 2014

ACONTECEU COMIGO

Viajava de um bairro para outro da cidade, dentro de um transporte coletivo. Apenas o meu corpo encontrava-se sentado naquele banco, a mente vagava em outras dimensões conduzidas pela indignação da minha ida obrigatória à missa em homenagem a governadora, a quem, a meu ver, não estava muito merecida de tal manifestação.

Meu estado de “sonhando acordada” foi despertado por muitos gritos que vinham da parte do meio do ônibus. Eu estava na parte de trás. Só nesse momento observei que o ônibus havia parado. Eu, sem nenhum tempo para refletir sobre o que estava acontecendo, corri em direção ao lugar para onde as pessoas estavam olhando.

Eu nunca fui uma pessoa curiosa a ponto de me atrair por qualquer coisa que parecesse escandalosa. Então, com certeza, não foi a curiosidade que me moveu até lá. Na verdade, estou certa de que não foi uma decisão muito da ordem do consciente, foi algo mais intuitivo.

Tudo aconteceu rápido demais e as minhas ações não pareciam guiadas por reflexões. Não eram atitudes previamente planejadas, eu fazia simplesmente “o que tinha que ser feito”.

Do local onde estavam dirigidos todos os olhares, eu vi sobre os braços de uma jovem um bebê e notei que alguma coisa errada acontecia com ele. Deduzi que a jovem era a sua mãe e observei que ela gritava desesperada. Vi que a criança estava tendo algum tipo de ataque, de convulsão. Sem hesitar, arranquei a criança dos seus braços e orientei de forma decidida que me seguisse.

Desci do ônibus, pela porta traseira, carregando a criança, seguida pela jovem que realmente era a mãe da criança e outra senhora que carregava algumas bolsas, depois soube, que era a avó do bebê. O ônibus continuava lá parado, com todas as pessoas, certamente, olhando atônitas para aquela cena que acabara de participar.

Assim que desci, parei imediatamente, acenando com a mão, o carro que vinha atrás do ônibus, falando alto e rápido, expliquei ao motorista que iríamos para o pronto socorro do Hospital Walfredo Gurgel. Não estávamos próximo, mas também não era muito distante do local em que nos encontrávamos no momento.

Enquanto falava, ainda com a criança no braço, abria a porta do carro e empurrava a cadeira, sentei-me no banco de trás, orientando o tempo inteiro que entrassem, a mãe do bebê ficou do meu lado e a senhora, sua mãe, sentou-se junto ao motorista, fechando a porta.

No caminho até o hospital, o motorista e a avó da criança permaneciam calados, atentos para a estrada e o trânsito. No banco de trás a criança desfalecia em meus braços, agora sem os ataques convulsionais. A jovem mãe, chorava, recusando-se a olhar para o filho, repetindo – O meu filho está morrendo! ... O meu filho está morrendo!

Naquele momento, como durante toda a situação, embora tivesse ações rápidas, eu continha calmamente o meu sentimento. Acalentando a criança, que respirava mais tranquila no meu colo, embora sem cor alguma na face. Tranquilizava a mãe dizendo – Calma, minha querida, está tudo bem agora. Seu filho teve uma convulsão e isso é normal acontecer em caso de febre. Ele está bem e logo estaremos no hospital. Vai dar tudo certo. Não se preocupe.

Quando chegamos no hospital, descemos imediatamente em direção ao pronto-socorro. Nem me recordo de haver ao menos olhado para o motorista que nos trouxe, que dirá agradecido a ele o favor. Passei a criança para os braços da mãe e empurrei ambas para dentro da porta de acesso aos médicos, enquanto continha a recepcionista que insistia na necessidade de “preencher a ficha de entrada”. Deixei a avó preenchendo a ficha. Despedi-me dela de forma breve, sem tempo para saber nenhum outro detalhe a seu respeito ou deixar qualquer informação que me identificasse. Nem me lembrei dessas coisas. Lembrei-me apenas de orientá-la, quando me falou que o bebê estava com febre desde a madrugada e que elas haviam voltado para casa da parada do ônibus, porque naquela hora não passava nenhuma, a ligar para a SAMU, caso ocorresse outra situação semelhante. Pedi a moça do hospital que a orientasse melhor sobre isso e saí dali para continuar o meu caminho.

Já dentro do outro ônibus, que me levaria para o meu destino inicial daquele dia, sentada novamente encostada na janela, eu não conseguia mais conter a emoção por tudo aquilo que se passou. O choro veio descontroladamente. Uma sensação de gratidão me invadiu inteira. Como eu estava agradecida por ter colaborado com aquela missão.

Não me senti grande, mas importante instrumento de auxilio. Eu acabara de ser a mais beneficiada de todos e não entendia o meu merecimento para isso.

Entendi que não há nada de especial em mim para fazer essas coisas, qualquer um faz e muita gente já deve ter tido experiências semelhantes. O único pré-requisito para que isso ocorra é está disponível para ajudar.

Compreendi também que a minha indignação em ser obrigada a ir à missa da governadora, me vendava os olhos impedindo de enxergar que ir a igreja poderia se uma boa experiência. O mais estranho é que, depois de ter tido consciência disso, quando a minha ida era dessa vez por vontade própria, dei de cara com a igreja fechada. Por algum motivo, que soube depois, a missa fora adiada e todos já haviam ido para as suas casas. Eu que agora queria entrar na igreja já não podia mais.

Toda essa experiência, do começo ao fim, foi muito significativa para mim. Isso me aconteceu há uns vinte anos atrás e resolvi escrever agora a fim de estimular outras pessoas a terem atitudes ao passar por circunstâncias semelhantes. Aconteceu comigo, mas, pode acontecer com qualquer um.


Ajudar ao outro é o modo mais eficiente de aprendermos mais sobre nós mesmos.  

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O LIMPADOR DE PARA-BRISAS

Que o transito da cidade de Natal está um caos, isso todo mundo já sabe. Os motivos também: As terríveis e infindáveis obras da copa (“os legados”); A falta de estrutura das vias públicas para acomodar uma absurda frota de veículos particulares que, de acordo com as pesquisas, trata-se da segunda maior frota no Brasil em comparação com o numero de habitantes, perdendo apenas para São Paulo; As outras obras inacabadas que se arrastam lentamente há anos ou encontram-se totalmente paradas, por pura incompetência dos governantes e comodismo nosso; Os motoristas inábeis e, pior ainda, os maus educados que se acham espertos furando filas e ignorando totalmente o que é gentileza.

Agora, imaginemos esse trânsito, às seis horas da noite, na véspera de um feriado, na saída do conjunto Cidade Satélite para atravessar a BR 101 e alcançar o sinal da entrada da Avenida Maria Lacerda... Foi o que enfrentei ontem.

Lá venho eu, seguindo uma procissão de carros para alcançar a BR. Na esquina, ponho o braço para fora, esticando o polegar, em apelo às gentilezas das pessoas para me deixarem atravessar e rezando que uma moto não me pegue de surpresa pelo meio ao transpassar os corredores dos carros.

Consegui, enfim, chegar ao outro lado da pista. Agora exercito a paciência de enfrentar uma fila enorme de carros, passando apenas a primeira marcha e me arrastando um metro por vez até alcançar o sinal.

Por sorte, uma músiquinha nessas horas ajuda a relaxar e isso eu sei bem aproveitar, faço um showzinho particular dentro do carro ignorando os motivos para estresses lá de fora e ignorando também os olhares nos outros carros com os balõesinhos saindo da mente: - É uma doida?

Eis que subitamente acaba o meu “relex”, de longe eu já observo os benditos “flanelinhas” limpando (ou sujando mais ainda) os para-brisas dos carros em troca das moedas que a gente se vê na obrigação de dar. A sensação que eu tenho é quase a mesma de ser pega numa blitz da polícia rodoviária. A vontade de fugir daquilo.

Já começo a tatear dentro do carro tentando encontrar o pagamento para o serviço do rapaz. Não encontro nenhuma moeda. Inicio então o ensaio mental do meu discurso para me justificar: – Desculpe-me, estou sem nenhuma moeda. Fica para uma próxima vez?!

Dito e feito. Lá vem ele, direto pra meu carro, ignorando os meus apelos de – Não, não precisa! Não limpe, estou sem moedas! – O tal já inicia o seu trabalho espremendo uma garrafinha de plástico e jogando aquele jato de água no para-brisa que dá a impressão de ir atingir os nossos rostos.

Fico ali, impotente, assistindo, torcendo que ele, ao menos, não quebre as palhetas do limpador, como fez outro, me dando um prejuízo maior de ter o vidro arranhado.

O jato de água escorrega pelo vidro e aos poucos vai revelando a imagem daquele menino-homem, compenetrado no seu serviço instantâneo de limpar o vidro. Fico prestando atenção nele.

Observo o seu “quase sorriso” de dentes estragados e a minha mente viaja em questionamentos: - A quem será que ele recorria quando criança, em seu sofrimento com dor de dente? – Quem lhes acalentava os medos, as ansiedades e as frustrações? – Quem lhes supria as carências de mimos, de atenção e até mesmo de necessidades básicas? – Quem contribui para torna-se o que hoje é - “um limpador de para-brisa”?

Lhes pago apenas com um sorriso carinhoso e um obrigado. Recebo de volta outro gesto e palavras de gentileza e saio liberada pelo sinal verde, com o coração apertado levando a imagem daquele rapaz que poderia ser meu filho e que se fosse não estaria ali naquelas condições.
(Ivana Lucena 01/05/2013).


domingo, 13 de abril de 2014

NÓS FABRICAMOS OS BANDIDOS


Eu me poupo de assistir a esses programas pseudojornalísticos, de caráter meramente sensacionalista, porque não suporto mesmo os hipócritas discursos inflamados de seus apresentadores.  Não vou me deter em justificar essas minhas acusações e, ainda por cima, acrescento que, considero desrespeitosas as imagens chocantes que eles apresentam.

Todavia, não posso deixar de concordar que eles veiculam de verdade a realidade “nua e crua” da nossa sociedade. Ou, pelo menos, da parte podre dela.

Ontem, por acaso, assisti por uns dez minutos a um desses noticiários. Foi o tempo suficiente para ver ao vivo e em cores dois assassinatos registrados, em um único dia, em São Paulo, por câmeras de seguranças. A leviandade e a frieza com as quais se tiram a vida humana estavam lá, claramente expostas, e repetidas dezenas de vezes sob os gritos teatrais do apresentador. Ele, ainda fazia questão de confirmar que estava certo na sua previsão: - Eu bem que avisei... – Dizia ele referindo-se a sua afirmação de que o sábado, 12 de abril de 2014, seria extremamente violento na cidade de São Paulo.

Este mesmo programa também mostrou, nesses dez minutos em que eu assisti, a prisão de alguns bandidos responsáveis por atos de extrema crueldade com as suas vítimas. O pior deles, se é que pode haver alguma classificação em atos desumanos, tratou de um jovem perito em praticar assaltos a idosos e, utilizando as palavras do apresentador “Deixar a sua assinatura” quebrando o nariz do idoso que ele assalta.

Sobre esse caso, a minha filha fez uma constatação muito pertinente, dizendo que uma criatura dessa chegou ao topo da indiferença com o outro ser humano. Não há mais nele nenhum tipo de sentimento de empatia, nenhuma referência de compreensão do outro ou de compaixão.

Pergunto - O que pode ter acontecido na vida de uma pessoa para torná-la “isso”?

            O apresentador, na sua “demonstração de ira e indignação”, declarava que – “São pessoas que já nascem com a genética do mal!”. Embora saibamos que existem caso de psicopatologias provocadas por algum tipo de deficiência no cérebro, é comprovado que, na maioria das vezes, o desenvolvimento desses distúrbios ocorrem por fatores de ordem psicológica, ou seja, provocados por traumas e por sofrimentos que de alguma forma essas criaturas estiveram expostas.

Reconhecer essa construção psicológica que fabrica centenas de indivíduos violentos e perversos nessa sociedade desigualitária, não significa dizer que “estamos passando a mão na cabeça dos bandidos”. Significa reconhecer a culpa de todos nós pela triste condição de vida social que temos hoje no nosso país. Não somente nas capitais, mas também as pequenas cidades dos interiores, antes refúgios de paz, hoje locais expostos à essa violência desenfreada.

E onde está a nossa culpa? Está, principalmente, lá no princípio, no descumprimento do mandamento cristão “Amar o próximo como a ti mesmo”. Nenhuma outra lei precisaria ser criada se essa fosse realmente cumprida. Não se trata de pregação religiosa, mas, de uma sabedoria repassada até nós que, independente de crença ou fé, não pode ser negada a sua eficiência se considerada e praticada por todos nós.

Mas, “amar o próximo como a ti mesmo”, dito assim, sem detalhamento, pode parecer algo muito subjetivo, passível de várias interpretações. Para mim, não. Para mim está muito claro que se eu amar o próximo como a mim mesmo, jamais poderia me considerar feliz tendo um teto para morar enquanto o meu próximo também não o tivesse, ou qualquer que fosse meus bens tendo eu, faltasse a ele. Confesso sem falsa bondade que não me sinto confortável passando sozinha em meu carro por paradas lotadas de pessoas em situações totalmente desfavoráveis e até desumanas.

O que posso fazer? Acreditar que todo mundo merece ter um carro igual a mim, ainda que não tenha o empenho e a luta que eu tive para adquiri-lo? Não. Não se trata de forma alguma dessa opção. Amar aos outros significa permitir a todos as mesmas oportunidades que eu tive, de família, de carinho, de cuidados, de educação e, principalmente de amor.

Isso é utopia? Falo de algo totalmente impossível para o mundo atual? Acredito estar falando de algo totalmente difícil e complexo para se realizar em termos macros. Porém, se cada um de nós, cada “pessoinha”, cada indivíduo assumir em pequenos atos e até em grandes atos o exercício diário de observar os outros, de compartilhar, de ajudar, de possibilitar oportunidades... As sementes irão ser plantadas.

Aos pais, uma lição: Não é suficiente garantir aos seus filhos boas escolas para estar assegurar a sua educação. Boas escolas, em alguns casos, asseguram somente os conhecimentos necessários para seus filhos estarem aptos para a competitividade social. A educação dos filhos quem garante são os pais, família, os adultos que estão envolvidos com a criança.  A garantia da educação está, sabemos, principalmente no exemplo, mais do que nas orientações teóricas.

As escolas não podem ser responsabilizadas sozinhas pela educação total dos indivíduos. Não adianta investir em educação escolar enquanto a sociedade estiver falida, enquanto as famílias não forem parceiras das escolas e cobradas por isso. A escola não é um lugar de milagres. Todavia, essa ainda é a instituição que representa a principal coluna de uma sociedade. Se contar com a família, aí sim, é possível acontecer a educação. E a família, por sua vez, só tem possibilidade de contribuir com a escola se lhes for permitido ter as condições de uma vida digna e tranquila.

Para que uma sociedade deixe de fabricar bandidos é necessário primeiramente desmistificar a crença de que bandido só nasce na pobreza. Isso seria verdade se estivéssemos nos referindo a pobreza no sentido geral, não somente econômica, mas de ausência de todos aqueles valores e condições que já falamos.

Está claro que não é na pobreza econômica que nascem os que desviam os dinheiros públicos que deveriam ser investidos na educação, na saúde e na segurança de nossa sociedade. Eles são os “verdadeiros” bandidos que deveriam estar lotando as cadeias. Ao invés disso, são reeleitos constantemente graças a “educação” escolar que os permitiu desenvolver uma habilidade de discursos inteligentíssimos, capaz de enganar até aos eleitores.

Finalmente, penso que não adianta a hipocrisia de “amarrar bandidos ao poste”, de levantar bandeiras para fazer justiça com as próprias mãos linchando esses infelizes. Eles merecem sim, estar preso, junto com os “bandidos de colarinhos brancos”. Aí, sim, feita essa faxina, a sociedade deve se empenhar em projetos de investimento humano baseado na premissa de “amar o próximo como a ti mesmo”.

Mas, não podemos esquecer que, apesar de tudo, eles, os bandidos, de todas as espécies, são também os “nossos próximos” Assim, associadas às punições merecidas, eles devem ter oportunidades reais e humanas de se regenerar.

            (Ivana Lucena, 13/04/2014)

domingo, 6 de abril de 2014

QUEM SOU?


- Escritora. Já quase me convenci de outras vezes que era. Mas eu leio muito, sei o que é um escritor. Estou
certa de que posso até escrever bem, mas... Escritora? Não. Não me atrevo nunca a dizer que sou.

- Poetisa. Achei-me poetisa, diversas vezes. Gosto de escrever poesias, mas, também não. Isso eu não quero afirmar de mim. Escrevo somente quando gosto, lá uma vez na vida, quando estou a fim. Poesia é assim, pra mim, apenas saciar a vontade de botar pra fora o que me ecoa por dentro. Seria pretensão tomar assento por igual aos verdadeiros poetas.

- Cantora. Ah, isso sim. Já quase acreditei mesmo que sou. Adoro mesmo cantar. Porém, seria injusto e imprudente declarar isso de mim. Eu que não nunca ensaio; não treino técnicas; não tenho disciplina... Não há como me comparar a um cantor, seria injusto. E além de tudo, fico insegura diante do público, somente sozinha, ou bem à vontade, consigo demonstrar meus talentos. Poderia eu sair assim dizendo que sou cantora?

- Desenhista. Até já me passou pela cabeça de ser. Desde criança, adolescente, costumava reproduzir ampliando e dando toques criativos nos corpos nus das moças dos calendários de carteiras. Todavia, com o tempo, aos poucos, fui abandonando o desenho. Nunca me aperfeiçoei. Hoje ainda desenho, mas é assim, desenho o que eu quero, quando quero, como quero e quando quero, sem intenção de ser desenhista mais.

- Atriz, comediante. Gosto demais de atuar sim, mas sem profissionalismo, no meio de amigos. Apenas me delicio fazendo os outros rirem. Jamais diria ser uma atriz ou uma comediante.

- Psicóloga, psicanalista... Por muito tempo e por muitas vezes acreditei que nasci pra isso. Naturalmente sou procurada pelas pessoas para ouvi-las e aconselha-las. Por diversas até me surpreendo com a sabedoria das orientações que sou. Não sei de onde elas vêm, mas, sinto-me totalmente insegura, despreparada e, além de tudo, nunca estudei pra isso, até tentei, mas, não tenho formação e não posso dizer que sou.

- Espiritualista; religiosa... sei lá. Já estudei. Até me formei nessa área. Li muito, pesquisei e  ainda é uma área que gosto de pesquisar. E no que deu? Hoje sou agnóstica. Praticamente não cheguei a lugar algum. Sou questionadora demais para ser uma pessoa de fé. Fé em um único ser superior. Porque fé nas pessoas, essa eu tenho. Na capacidade de cada um, que acreditando, seja em quem for que apegue a sua fé, consegue realizar seus milagres e bênçãos. Então, religiosa, isso jamais eu nem ninguém diria que sou.

- Professora. Foi aqui que descobri a única profissão capaz de continuar sendo todas as outras. Mas, uma mestra, uma educadora de verdade, também isso, do modo que penso que deveria, não afirmo que verdadeiramente sou. Para tal, deveria ser mais empenhada, mais tolerante, mais estudiosa. Não, não sou.

- Então, volto outro dia. Ou nunca mais, ou sempre, quem sabe. Talvez todos os dias, eu volte aqui para me fazer a mesma pergunta:

- Quem sou?

domingo, 30 de março de 2014

QUANDO ESTUDAR É CHATO – QUEM PRECISA CEDER, O ALUNO OU A ESCOLA?


É impressionante constatar que, ao nos fazemos autodidata diante de algum objeto de estudo, que obviamente somos conduzidos pelo encantamento a esse, o encantamento transfere-se normalmente à ação de estudá-lo.

Tal efeito retira do ato de estudar o objeto, o caráter enfadonho que possivelmente teria se o mesmo objeto fosse estudado obedecendo às exigências acadêmicas.

Daí a resposta para o levante  estudantil: - Odeio estudar! – Odeio a escola!

Aqui se trata, infelizmente, apenas de uma constatação. Visto que, a solução está longe de ser alcançada. Mais distante ainda nas escolas brasileiras.

Seria, pois, a ocasião de considerarmos que as exigências acadêmicas são dispensáveis para a aprendizagem? Embora a minha resposta pareça contraditória, estou certa de que não. A contribuição acadêmica vai para além da legitimação do estudo, ela é responsável pela sistematização do mesmo, ou seja, conduz para que não nos percamos pelo caminho.

Nesse caso, onde está o foco do problema? Onde o estudo acadêmico retira o encantamento do estudo espontâneo e torna, para muitas pessoas, insuportável estudar?

Penso que, “o foco” é plural, ou seja, está em vários motivos. Sobre esses focos podemos tratar que o mais pernicioso é a didática, ou, didáticas.

As didáticas que sobrepõe o valor dos conteúdos ao prazer das descobertas e da construção do saber individual são responsáveis pelo desencantamento em estudar.

Mas, como em todo espaço social, também na escola é impreterível entender desde cedo que “nem tudo não é como gostaríamos que fosse”. Essa é uma aprendizagem emocional, chamamo-la de maturidade. É o suporte para as relações sociais.

Contudo, não devo me acomodar e aceitar tudo. Assim, descobrir o que “posso mudar e o que não posso mudar” se torna a base da sabedoria. Cobrar e ceder faz parte dessa dialética. Todavia, esse exercício não pode ser unilateral quando se refere à estudante e escola. As mudanças devem vir das duas partes e só há consonância onde houver diálogo.

Ivana Lucena 30 de março de 2014. 

sábado, 29 de março de 2014

A OUSADIA DOS QUE ACREDITAM EM SI

Quando penso nos homens e mulheres que inventam coisas e, ou, revelam teorias, imagino tratar-se de pessoas inevitavelmente ousadas e com elevada autoestima. Isso porque, estou ciente das dificuldades que se enfrenta nas incredulidades alheias e nas barreiras sociais com as suas normas e apegos ao status quo.

Estou certa também que, em alguns casos, para se chegar ao produto final há um longo caminho de experimentos, de dúvidas e conflitos. Sem sombra de dúvida, esse período de insegurança se estende ou se agrava quando se trata de teorias relativas ao estudo sobre o comportamento humano. Obviamente pela complexidade da constituição individual humana.

Nesses casos, mais do que as invenções de objetos materiais, para o enfrentamento das dúvidas é impreterível a confiança em si mesmo, a crença na possibilidade que se tem de ultrapassar as etapas conflituosas e alcançar as respostas.

 Isso se torna mais fácil, obviamente quando já conseguimos “provar” alguma coisa anteriormente. O começo não é fácil para ninguém. Lembra-me inclusive aquele velho dilema do jovem que vai a procura do primeiro emprego e se depara somente com empregadores que exigem experiências anteriores.

Sabe-se, porém, que para acreditar em si não é suficiente, tão pouco indicado, basear-se somente na prepotência de achar que está certo. Faz-se necessário fundamentar as próprias teorias para que o auto convencimento, posto a prova, não se abale à desistência.

Com relação a “estar fundamentado” é elucidativo pensar que não se trata obrigatoriamente na fundamentação em pessoas que fizeram as mesmas coisas antes, desse modo, não seria invenção, criação, inovação. É preciso crer que a base das provas pode estar em si mesmo, nas observações, nos testes, nos erros e, principalmente, nos acertos e resultados.

Todavia, ficaria no plano fútil da prepotência, dispensar a contribuição de pesquisadores anteriores que, reconhecendo a dificuldade que deve haver enfrentado, esforçaram-se para deixar-nos como legado.  

De tudo o que se pode fazer para encarar as desconfianças alheias; as faltas de condições para trabalhar; o medo de errar e tantas outras barreiras que há no caminho, acreditar definitivamente na nossa potencialidade é o primeiro passo.

Sabendo, que não há facilidade para acreditar em si quando o território que pisamos é inovador. Nesse, as dúvidas são bem mais evidentes do que as respostas certas e, neste ponto, a confiança em nós mesmos deve ser reforçada para se abalar com a falta de apoio externo que provavelmente ocorrerá.

Acreditar em si é o combustível para seguir em frente apesar de...

(Ivana Lucena, 29 de março de 2014)






quarta-feira, 12 de março de 2014

VETERINÁRIOS


Tenho uma boa notícia para dar: Hyuna, a minha cachorra, recebeu alta hoje e já está comigo em casa. Foram sete dias de internação para tratamento de “Cinomose”.
Assim que ela deu entrada e foi diagnosticada com a doença, comecei a pesquisar a respeito. Passei a divulgar na internet para que os amigos, donos de cachorros, se prevenissem e vacinassem seus animais contra essa doença.
Aprendi que a “Cinomose” é uma doença provocada por um vírus altamente contagioso, que passa de um cão para o outro através do ar. Embora não afetem os humanos, o vírus pode ser transportado por eles através das suas vestes ou do corpo em contato com o animal infectado.
Constatei, no hospital, que existe quase que uma epidemia dessa doença, muitos cachorros sendo internados com os sintomas - anorexia, vômitos, diarreia, olhos remelando e até convulsões.  
Ela pode ser evitada com uma vacina anual, mas, diferente da “raiva”, não existe um investimento público na vacinação dos cães porque não atinge os humanos é fatal apenas para os animais.
Descobri o motivo dos veterinários não se empenharem na divulgação e esclarecimento sobre a prevenção essa doença quando recebi a conta do hospital, R$ 1.400,00 (mil e quatrocentos reais).
Faço uma ressalva de alguns profissionais valorosos e lamento demais está dizendo isso.
Quando pensamos em Veterinários, concebemos pessoas que dedicam as suas vidas para salvar os animais. Não estou dizendo que não o fazem. Também não digo que o devam fazer só por amor aos bichos. Embora tenha sido essa a razão de muitos de nós quando criança sonharmos em nos tornarmos veterinários quando crescêssemos.  

Quero dizer, e com toda a certeza, que assim como a profissão de médico e de advogado, a maioria dos veterinários parece ter se tornada mercenária.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

MAS, RACISMO NÃO É CRIME?

Um fato noticiado nessa semana passada na tv  me tocou e perturbou profundamente. Acredito que também a muitos brasileiros. Estou me referindo as cenas explícitas de racismo demonstrada durante uma partida de futebol no Peru, para com um jogador brasileiro.

“A torcida do Real Garcilaso protagonizou cenas lamentáveis nesta quarta-feira (12 de fevereiro) em Huancayo. Quando o volante Tinga, do Cruzeiro, pegava na bola, os torcedores imitavam sons de macaco em atos de extremo racismo.(http://www.foxsports.com.br/videos/149626435800-racismo-torcida-rival-imita-sons-de-macaco-quando-tinga-pega-na-bola )

Assistir depois o depoimento do jogador chorando e declarando que “trocaria todos os títulos que já conseguiu na vida pelo respeito” foi o ápice para compreender a dor de uma pessoa quando se ver humilhada por algo que não depende da sua escolha, que não se liga a avaliação do seu caráter e da sua integridade moral. E, diga-se de passagem, algo tão medíocre como enxergar inferioridade humana por causa de uma cor de pele.

Chorei todas as vezes em que toquei no assunto com alguém. Da ultima vez, com a minha filha mais nova e ela me questionava: - Mas, racismo não é crime?

Eu tentava fazê-la entender que as coisas só são consideradas “crimes” perante a sociedade se houverem leis que diga que os são. Disse-lhes que eu não sabia se naquele país havia leis para considerar isso e que mesmo no Brasil o crime de racismo é uma lei recente.

Compreendi a sua dificuldade em entender. Na sua cabeça, só o fato de ser “absurdo” era suficiente para ser considerado como crime e passível de punição.

Sabemos bem que as coisas não são assim nem quando a lei já prever ser mesmo crime.

Outro exemplo, também no futebol:

“O zagueiro Paulão, ex-Atlético-MG, foi alvo de racismo durante o clássico entre Sevilla e Betis, pela 14ª rodada do Campeonato Espanhol, neste domingo. Ele foi expulso aos 41min do primeiro tempo pelo segundo amarelo. Enquanto o jogador do Betis deixava o campo, a própria torcida do time do brasileiro começou a imitar macaco para ofendê-lo. Ele saiu de campo chorando.” Esse fato ocorreu em 24 de novembro de 2013, no ano passado.

Agora, pensando positivo:

O carnaval está chegando e para que não seja tão definitivamente “o ópio do povo”, penso que essa música deveria se tornar a nossa bandeira diante da realidade que conversamos aqui: “Nossa Cor” de Léo Santana e Parangolé.


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