“O
Plenário do Senado aprovou, na noite desta quarta-feira (4), em votação
simbólica, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 58/2014, conhecido como Lei da
Palmada, que prevê punição para agressões a crianças.”
Já é prevista toda a
polêmica em torno dessa lei.
Será a falta das “pedagógicas
palmadas”, a causa do surgimento de tanta gente mal educada e de uma “geração sem
limites”? Seria mesmo verdade que se
todos esses bandidos violentos que há na sociedade tivessem apanhado dos pais
quando pequenos seriam hoje homens de bem?
Pipocam também as
indagações inconformistas do tipo – Então eu não tenho mais direito de bater no
meu próprio filho?
Esse tipo de inquisição
transparece um incômodo que se instala nos pais pela invasão externa à propriedade
privada que detém sobre o seu filho.
Imagino que seja
semelhante, guardando, é claro, as devidas restrições peculiares de cada caso,
aos sentimentos que experimentaram, por exemplo, os ex donos de escravos quando
perderam os direitos de açoitar os negros para puni-los. É bem provável ter
sido comum assistir alguns brancos falando: - Eu quero só ver o que esses
negros vão aprontar agora que não se pode mais exempla-lo!
É possível também
que, até hoje, muitos homens fiquem indignados por não ter mais “o direito” de
bater em “suas mulheres”. Visto que também uma lei foi criada para tornar isso
um crime.
A dificuldade em por
limites às nossas crianças e jovens não está na negligência de bater neles para
educa-los. Está na incapacidade que experimentamos de acompanhar a evolução
humana na sociedade. A velocidade das informações, com as suas diversidades e
complexidades, chegam aos nossos filhos sem que nós participemos ou, pior, sem
termos o menor conhecimento respeito.
Talvez fosse possível
tentar manter uma educação hoje em dia onde a base para “correção dos erros”
fosse às palmadas. Mas, até quando isso perduraria? Muito cedo as crianças constroem
o domínio oral da argumentação.
Cada vez mais precocemente
os filhos têm acesso a informações que ampliam suas ideias e seus vocabulários.
As crianças, hoje, também são “oficialmente” permitidas de conversar sobre
alguns assuntos que antes pertenciam somente aos adultos. Quem não se lembra
das recorrentes situações onde as crianças eram enxotadas sob os termos: - Saia
daqui menino! Isso aqui é conversa de adulto!
As conversas de
adultos e conversas de crianças, agora, estreitaram as suas diferenças e isso
significou, para muitas pessoas, uma vantagem das crianças e dos jovens sobre
os adultos e motivo para torná-los tão “insolentes”.
Penso que, na
verdade, o que nós, pais e educadores, perdemos foi a noção do que é “limites”.
Ele se estendeu, de fato. Todavia, o que ocorreu foi que muitos pais perderam a possibilidade de lidar
com ele e perderam, inclusive, a capacidade de compreender até aonde ele se estende para controlá-lo.
Não é de hoje que
dialogar com os filhos é uma coisa difícil. As diferenças entre as gerações já
causam essas dificuldades desde muito tempo.
O que surge de
novidade hoje é que as nossas crianças e jovens não obedecem mais sem ouvir a
razão para tal ordem. Antes, o que os pais falavam para os filhos era lei.
Muitas vezes nem precisavam dar o exemplo. Era na base do – Faça o que eu digo,
mas não faça o que eu faço!
Quem não se lembra
também de uma época em que aos professores era dado o direito de bater nos
alunos para ensiná-los?
Não duvido que seja
possível alguém pensar que às indisciplinas nas escolas sejam resultados da ausência
das palmatórias. Pois eu, em quase três décadas como professora, sempre me
admirei na nossa capacidade em, sem bater, conseguir obediência de certas
crianças que as mães ou pais proclamam conseguir somente batendo.
Como seria esse
milagre de conseguir obediência e respeito dos filhos sem bater neles?
Tem outro aspecto que
considero de extrema relevância a gente refletir sobre ele. Quando batemos em
uma criança com o objetivo de castigá-la, ou exemplá-la, na grande maioria das
vezes estamos, na verdade, descarregando
sobre ela a nossa ira, a nossa revolta causada pela insatisfação de ter sido
desobedecida. A pseudo “palmada” ou surra educativa é na verdade uma descarga
de desequilíbrio emocional que trás consequências físicas e psicológicas para
ambos os participantes do ato.
E, finalmente,
devemos pensar que quando se cria uma lei desse nível, proibindo os pais de
baterem nos seus filhos, não se trata de uma preocupação com essas
questõezinhas egoístas que estamos levantando a respeito de não podermos mais
bater no “nosso” filho. Com relação a isso, cabe a nós nos capacitarmos para
conquistar o respeito dos nossos filhos, principalmente não nos anulando para
fazer todos os gostos e vontades deles e, acima de tudo, sendo um bom exemplo
de pessoas educadas, solidárias e respeitosas com os outros.
Essa “Lei da Palmada” trata de uma preocupação
bem mais grandiosa de “salvar” muitas crianças das garras de monstros que
acidentalmente tornaram-se pais.
(Ivana Lucena,
07/06/2014).
A LEI:
Fonte da imagem:
http://www.pavablog.com/wp-content/uploads/2013/10/palmada-agressao-infantil-tapa-violencia-infantil-1323951246989_300x300.jpg
4 comentários:
Faz um tempo que não venho lendo seu blog. Hoje acordei com saudades de seus textos lidos para mim toda manhã, decidi então ler seu blog. Tinha esquecido o quanto você escreve bem, parabéns mãe, belo texto. Muitas pessoas antes de concordarem ou discordarem com essa lei deveria ler seu texo!
Ai que comentario mais gratificante. Fiquei muito feliz em saber que você veio aqui, filha. Em ver que leu e gostou. Obg querida.
IVANA SEU TESTO É DE MUITA IMPORTANCIA COMO DISSE SUA FILHA QUE ANTES DE APROVAR ESSA LEI SERIA BOM LER O SEU TESTO. QUANTA SABEDORIA EM SUAS PALAVRAS.
Eu estava com saudade de suas postagens . APROVEITE E DÊ UMA OLHADINHA NO MEU Ta?
Bjs te amo
OI IVANA QUANTO TEMPO SEM VOCE ESCREVER .SEU TESTO É DE MUITA IMPORTÂNCIA, COMO DISSE SUA FILHA.ANTES DE APROVAR A LEI SERIA BOM LER ESSE TESTO. EU ESTAVA COM SAUDADE DE SUAS BELAS POSTAGENS. APROVEITE E DÊ UMA OLHADINHA NO MEU. GDE ABRAÇO SAUDOSO.
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