sábado, 7 de junho de 2014

A LEI DA PALMADA - O que isso significa na educação das nossas crianças e jovens?

“O Plenário do Senado aprovou, na noite desta quarta-feira (4), em votação simbólica, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 58/2014, conhecido como Lei da Palmada, que prevê punição para agressões a crianças.

Já é prevista toda a polêmica em torno dessa lei.

Será a falta das “pedagógicas palmadas”, a causa do surgimento de tanta gente mal educada e de uma “geração sem limites”?  Seria mesmo verdade que se todos esses bandidos violentos que há na sociedade tivessem apanhado dos pais quando pequenos seriam hoje homens de bem?

Pipocam também as indagações inconformistas do tipo – Então eu não tenho mais direito de bater no meu próprio filho?

Esse tipo de inquisição transparece um incômodo que se instala nos pais pela invasão externa à propriedade privada que detém sobre o seu filho.

Imagino que seja semelhante, guardando, é claro, as devidas restrições peculiares de cada caso, aos sentimentos que experimentaram, por exemplo, os ex donos de escravos quando perderam os direitos de açoitar os negros para puni-los. É bem provável ter sido comum assistir alguns brancos falando: - Eu quero só ver o que esses negros vão aprontar agora que não se pode mais exempla-lo!

É possível também que, até hoje, muitos homens fiquem indignados por não ter mais “o direito” de bater em “suas mulheres”. Visto que também uma lei foi criada para tornar isso um crime.

A dificuldade em por limites às nossas crianças e jovens não está na negligência de bater neles para educa-los. Está na incapacidade que experimentamos de acompanhar a evolução humana na sociedade. A velocidade das informações, com as suas diversidades e complexidades, chegam aos nossos filhos sem que nós participemos ou, pior, sem termos o menor conhecimento respeito.

Talvez fosse possível tentar manter uma educação hoje em dia onde a base para “correção dos erros” fosse às palmadas. Mas, até quando isso perduraria? Muito cedo as crianças constroem o domínio oral da argumentação.

Cada vez mais precocemente os filhos têm acesso a informações que ampliam suas ideias e seus vocabulários. As crianças, hoje, também são “oficialmente” permitidas de conversar sobre alguns assuntos que antes pertenciam somente aos adultos. Quem não se lembra das recorrentes situações onde as crianças eram enxotadas sob os termos: - Saia daqui menino! Isso aqui é conversa de adulto!

As conversas de adultos e conversas de crianças, agora, estreitaram as suas diferenças e isso significou, para muitas pessoas, uma vantagem das crianças e dos jovens sobre os adultos e motivo para torná-los tão “insolentes”.

Penso que, na verdade, o que nós, pais e educadores, perdemos foi a noção do que é “limites”. Ele se estendeu, de fato. Todavia, o que ocorreu foi que muitos pais perderam a possibilidade de lidar com ele e perderam, inclusive, a  capacidade de compreender até aonde ele se estende para controlá-lo.

Não é de hoje que dialogar com os filhos é uma coisa difícil. As diferenças entre as gerações já causam essas dificuldades desde muito tempo.

O que surge de novidade hoje é que as nossas crianças e jovens não obedecem mais sem ouvir a razão para tal ordem. Antes, o que os pais falavam para os filhos era lei. Muitas vezes nem precisavam dar o exemplo. Era na base do – Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!

Quem não se lembra também de uma época em que aos professores era dado o direito de bater nos alunos para ensiná-los?

Não duvido que seja possível alguém pensar que às indisciplinas nas escolas sejam resultados da ausência das palmatórias. Pois eu, em quase três décadas como professora, sempre me admirei na nossa capacidade em, sem bater, conseguir obediência de certas crianças que as mães ou pais proclamam conseguir somente batendo.

Como seria esse milagre de conseguir obediência e respeito dos filhos sem bater neles?

Tem outro aspecto que considero de extrema relevância a gente refletir sobre ele. Quando batemos em uma criança com o objetivo de castigá-la, ou exemplá-la, na grande maioria das vezes  estamos, na verdade, descarregando sobre ela a nossa ira, a nossa revolta causada pela insatisfação de ter sido desobedecida. A pseudo “palmada” ou surra educativa é na verdade uma descarga de desequilíbrio emocional que trás consequências físicas e psicológicas para ambos os participantes do ato.

E, finalmente, devemos pensar que quando se cria uma lei desse nível, proibindo os pais de baterem nos seus filhos, não se trata de uma preocupação com essas questõezinhas egoístas que estamos levantando a respeito de não podermos mais bater no “nosso” filho. Com relação a isso, cabe a nós nos capacitarmos para conquistar o respeito dos nossos filhos, principalmente não nos anulando para fazer todos os gostos e vontades deles e, acima de tudo, sendo um bom exemplo de pessoas educadas, solidárias e respeitosas com os outros.

 Essa “Lei da Palmada” trata de uma preocupação bem mais grandiosa de “salvar” muitas crianças das garras de monstros que acidentalmente tornaram-se pais.
(Ivana Lucena, 07/06/2014).

A LEI:


Fonte da imagem:
http://www.pavablog.com/wp-content/uploads/2013/10/palmada-agressao-infantil-tapa-violencia-infantil-1323951246989_300x300.jpg


4 comentários:

elora disse...

Faz um tempo que não venho lendo seu blog. Hoje acordei com saudades de seus textos lidos para mim toda manhã, decidi então ler seu blog. Tinha esquecido o quanto você escreve bem, parabéns mãe, belo texto. Muitas pessoas antes de concordarem ou discordarem com essa lei deveria ler seu texo!

Ivana Lucena disse...

Ai que comentario mais gratificante. Fiquei muito feliz em saber que você veio aqui, filha. Em ver que leu e gostou. Obg querida.

vovo cibernetica disse...

IVANA SEU TESTO É DE MUITA IMPORTANCIA COMO DISSE SUA FILHA QUE ANTES DE APROVAR ESSA LEI SERIA BOM LER O SEU TESTO. QUANTA SABEDORIA EM SUAS PALAVRAS.
Eu estava com saudade de suas postagens . APROVEITE E DÊ UMA OLHADINHA NO MEU Ta?
Bjs te amo

vovo cibernetica disse...

OI IVANA QUANTO TEMPO SEM VOCE ESCREVER .SEU TESTO É DE MUITA IMPORTÂNCIA, COMO DISSE SUA FILHA.ANTES DE APROVAR A LEI SERIA BOM LER ESSE TESTO. EU ESTAVA COM SAUDADE DE SUAS BELAS POSTAGENS. APROVEITE E DÊ UMA OLHADINHA NO MEU. GDE ABRAÇO SAUDOSO.

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