Esta semana, o nosso estado amanheceu cercado de greve por todos os lados. Já está, inclusive, sendo apelidado no Twitter de “Rio Greve do Norte.”´
“No Twitter, Vítor Barros resumiu a situação. "A população também está em greve, sem trabalhar, sem poder aprender, sem poder ficar doente, sem poder ser assaltados. #riogrevedonorte". Carine Figueiredo conta que a greve já atingiu outras instituições. "Greve geral da Emater, Detran, Polícia Civil, Professores, SET, UERN, Fundação José Augusto, Emparn, Idiarn, ônibus e IDEMA".
Embora o título seja, propositalmente, provocativo, esclareço que já fui por diversas vezes militante e apoiadora de greves, chegando inclusive a participar de ocupações dentro de prédios públicos na minha cidade juntamente como os demais companheiros e companheiras do Sindacato dos Trabalhadores em Educação. Se pudesse voltar o tempo, com certeza faria tudo exatamente do mesmo jeito como o fiz naquela época. Greve ali não era sinônimo de ficar parado não era luta mesmo.
Hoje eu tenho uma opinião especifica a respeito deste instrumento de luta ( a greve) relacionando-o com o atual contexto político e social, de que o mesmo já deveria ter sido substituído por outro com a mesma eficiência. Certamente essa minha posição confronta com a da maioria e é tomada muitas vezes por ingênua.
Tenho, afirmo, muita clareza de que a Greve é um grande instrumento de luta que foi propriamente criado para reivindicar os direitos e a dignidades dos trabalhadores. Nesse sentido, considero proeminente rever um pouco de história para compreendermos de fato o significado legítimo de tal instrumento. No site http://www.lainsignia.org/2008/marzo/soc_005.htm. Luciano Oliveira, professor da UFPE, apresenta no texto “Uma brevíssima historia da greve”, riquíssimas informações, que certamente é bastante providencial para a nossa reflexão. “A palavra greve ... No início ela significava simplesmente um tipo de arbusto existente nas margens do rio Sena, em Paris. Em francês, grève. Num terreno contíguo a uma dessas margens, formou-se uma praça, que veio a ser designada como Place de Grève. A praça tornou-se um local onde se juntavam trabalhadores sem emprego em busca de alguma ocupação. Quando os parisienses precisavam de algum trabalhador, iam lá atrás dessa mão-de-obra. Daí surgiram expressões como "ir a greve" (aller en grève), "estar em greve" (être en grève) e outros correlatos, para designar o trabalhador que, sem trabalho, lá ficava de braços cruzados sem ter o que fazer.
Isto, relata o autor, ocorreu ainda na época medieval. A greve mesmo, no sentido que conhecemos hoje está relacionada ao período da revolução industrial, ao surgimento da classe operária. Por volta do século XIX. Ainda utilizando os seus esclarecimentos conduzimos a nossa reflexão para o contexto histórico do berço desse de luta.
“Já era o século XIX e o movimento operário tinha surgido. Eram tempos duros, aqueles. Completamente desregulado, o capitalismo submetia os trabalhadores a uma exploração tão brutal que o revolucionário Engels, no livro A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, observou (bem antes de Gilberto Freyre, autor de idêntica observação...) que as condições de vida dos escravos nas Américas eram mais amenas do que aquelas dos assalariados europeus na época da revolução industrial. Nessas condições, vez por outra os trabalhadores cruzavam os braços e se recusavam a trabalhar, exigindo melhorias na sua condição. Recuperando o antigo termo, começou-se a dizer que eles estavam en grève... E foi assim que surgiu a greve.”
Nem é preciso ilustrar, creio eu, as consequências assumidas por estes trabalhadores pela “ousadia” de enfrentar os patrões e os poderosos governantes que, não resta dúvida, estavam do lado oposto aos pobres trabalhadores. Sabemos que esses heróis arriscavam não somente a perda dos seus empregos, mas a própria vida para não se submeterem a uma condição desonrosa de exploração e desvalorização humana.
E agora, no século XXI, era da tecnologia digital, o que muda no cenário de lutas dos trabalhadores? Muitos direitos foram conquistados, graças aqueles primeiros que arriscaram as suas vidas por isto. A nossa lutar é hoje para garantir que esses direitos sejam cumpridos pois as leis sem a intenção política de efetua-la é inexistente. Mas, o instrumento de luta continua o mesmo, a GREVE.
O que eu questiono não são os direitos ou a necessidade dos trabalhadores para reivindicar que a justiça seja cumprida. A minha proposta é uma reavaliação dos recursos utilizados para isto.
Pensando nas greves da classe proletária, podemos avaliar que os maiores atingidos pela paralização dos operários eram os patrões, os donos de fabricas e ainda são até hoje, nos movimentos dessa categoria de trabalhadores.
E nos casos dos funcionários públicos, como médicos; professores; garis; policia; Detran... e também os empregados que atendem o setor público como o caso do motorista de ônibus, quem podemos classificar como os mais atingidos pela greve decretada por tais categorias? Os patrões? Em qual sentido?
Certamente, eu creio que a conjuntura atual é bem mais relacionada a política, felizmente. Assim, o principal foco das greves deixa de ser o de atingir o domínio da situação econômica e lucrativa dos patrões e passa a ser o de expor para toda a população os desmandes e descompromissos dos mesmos.
Resumindo, o que os atuais patrões temem hoje, não a perda dos seus lucros, isso talvez sim, mas esta perda agora está associada ao estrago na sua imagem e credibilidade perante o povo.
Desta forma, compreendo que a própria tecnologia da internet já demonstrou o seu poder como instrumento democrático de reivindicação e de conquistas sociais. Haja vista os diversos exemplos de mobilizações dentro da rede que acabam tornando-se documentos, colhidas as assinaturas e encaminhados para os órgãos competentes.
Durante muito tempo convivemos sob o domínio total da mídia televisiva e sabemos muito bem quem são os donos e detentores das mesmas. Hoje, elas próprias estão se rendendo ao poder que a população demonstra através da internet. Um dos exemplos mais recente disso é o caso da professora Amanda Gurgel. Não foi o fato de estar numa greve que a levou ao Faustão, foi a repercussão que as pessoas promoveram à sua fala utilizando-se dos recursos das redes sociais da internet que fez o Brasil inteiro refletir sobre os problemas enfrentados pela educação. Poderia citar vários outros casos, inclusive de alcance internacional como os boicotes contra o Irã e lutas por anistia de presos políticos e injustiças cometidas afrontando os direitos humanos.
Porque, pergunto finalmente, a gente não tentar parar de atingir a pobre e sofrida população para afetar os governos e patrões e, ao invés disso, conquistamos a mesma como aliadas para desmascarar a realidade? Será possível conseguirmos isso? Será que o efeito da greve tem realmente um novo instrumento? Talvez, mas só saberemos se estivermos disposto á tentar.
É preciso deixar claro que acreditar que somente a internet resolve o problema pode ser ingênuo realmente, mas através dela e de outros recursos da mídia as mobilizações como passeatas e paralizações dos trabalhadores podem ser mais eficientes e não ser necessário se arrastar mais por desgastantes períodos de greves que tem demonstrado muito mais efeitos colaterais do que resultados satisfatórios.
Talvez os mais opositores a minha tese seja realmente os que ainda não tiveram a oportunidade de ser beneficiado com os recursos que a tecnologia moderna nos oferece. E, infelizmente, devemos declarar, ainda é uma grande parcela da população, principalmente dos trabalhadores. Mas isso está tomando um novo cenário, considerando que os jovens que estão hoje fazendo as suas provocações e denuncias no Twitter e em outras redes, são os futuros trabalhadores no planeta.
11 comentários:
Oi Ivana!
(Aplausos!)
Texto totalmente oportuno!
Concordo em gênero, número e grau!
Hoje a greve é um recurso onde quem menos é afetado é o empregador, a população é quem mais sofre e no total desgoverno os gestores não dão a mínima para isto. Já se poderia comos recursos que dispomos rever e criar novos meios de barganha. Bjos e boa tarde!
Bravo Ivana, bravo mesmo. Até quando iremos permanecer com um mecanismo que, ao meu ver, não produz os resultados esperados? O teu texto é extremamente oportuno e direciona para uma reflexão sobre o que queremos, como queremos e a quem devemos atingir. Parabéns, colocaste lindamente o teu pensamento.
Ivana,
Não vou dissecar sobre a greve, apenas digo que os tempos mudam, e há que estar atento a isso. Quanto ao resto, digo apenas que a sua visão das coisas me merece simpatia.
Beijo :)
Oi, merece mesmo aplausos o seu texto, e concordo que mais sofre é mesmo o lado amis fraco, se é que somos memso fracos, pue se pensarmos bem, somos nós que elegemos os governantes de todas as esferas, então fica a lição, VAMOS ESCOLHER BEM NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES.
Bjs e gostei mesmo, muitissimo do texto.
Sempre fui contra a greve, pois é provado q o prejudicado sempre foi quem não esteve diretamente envolvido. Ademais os sindicatos de categorias estão "apelegados" com o governo instalado. Isso também é provado. Vide festas das centrais sindicais dia 1º de maio. Aliás, o governo, que veio dos movimentos estudantis e de portas de fábricas, sabe muito bem lidar com os movimentos grevistas. Enfim, esse instumento hoje serve não à classe dominante, mas aos dominados, o povo, que paga seus impostos para ter o serviço público, que além de ineficiente, tem esses detalhes das greves. Abaixo a greve!!! Não gosto. Não faço. Penso que realmente os tempos são outros. Abraços!!
Para encerrar esse tópico. Sou funcionário público. TEnho sindicato que promove greve, mas sou contra. As conquistas não valem uma greve.
Ce blog est une étude de la culture. Ivana félicitations.
@mineiropt comentou no Twitter: oi. Só agora tive tempo para ler o texto. Respeito sua opinião. Os movimentos deveriam, sim, buscar novas ferramentas de luta. Penso que o Gov. Rosa radicalizou de tal maneira que a situação estã crítica. Torço para que apresente propostas.
Concordo com a greve, se houver militância verdadeira, participação efetiva e não apenas comodismo de muitos e sacrifício de poucos. Greve tem que ter participação da sociedade ou grupo envolvido.Se for dos professores, deve envolver alunos e pais também, ações de engajamento de todos em prol da melhoria da qualidade de ensino e da valorização do magistério.
WALDIRA E RUI DE BEM COM A VIDA - 28 mai
escreveu em depoimento no Orkut:
Que assunto mais sugestivo em Ivana?! No calor das emoções em que estamos vivendo, é bom mesmo trocar opiniões sobre a greve.
Parabéns pela busca da origem da greve, legal.
Bom, eu não sou a favor da greve, apesar de ser uma maneira dos trabalhadores reivindicar os seus direitos, ela não traz a curto prazo beneficios na mesma proporção dos desgastes sofridos por essas pessoas e por todas que são envolvidas direta e indiretamente. Porque, como já escreveram seus amigos acima, quem mais sofre, são exatamente os usuários desses serviços públicos. Vemos que sem greve a situação já é bem difícil, temos uma saude precária, uma educação falida, uma segurança que não "existe", um transporte caro e escasso, e muitos outros serviços que a população necessita e não tem. Então é difícil ser a favor da greve, qdo se ver que não existe um retorno eficiente nem para os profissionais nem pra populção que sofre tanto com a presença desta.
Na verdade é vergonhoso isto, é como a profª Amanda diz, que os alunos passam na cara deles com ironia: "professora ficamos sem aulas esses dias todos, pra vcs terem vinte ou trinta reais de aumento!?! Então há ainda uma ineficiencia de resultados pra um ato tão grande como este, a greve.
Mas, tem um dito popular que diz: "A esperança é a última que morre", vamos continuar lutando por nossos direitos, talvez desponte um movimento mais eficiente do que a greve, que tem trazido prejuizos incalcuáveis para o povo.
Um xerooooooooo viu?!
[Palmas!!!]
Nunca tinha refletido por este ângulo. Parabéns pelo texto e pelas colocações. Excelente reflexão. Concordo em quase tudo com você. É necessário mesmo encontrar novos instrumentos de luta. Greve é uma coisa do passo. De um passado remoto e que não mais surte os mesmo efeitoquis como você colocou muito bem. Um dos mais poderosos instrumentos atual é o voto. Se ao invés de greves os professores lutassem mais por um voto mais consciente da população, as conquistas certamente seriam mais expressivas.
Se houvesse mais pessoas engajadas nos movimentos políticos, até mesmo se candidatando para substituir a grande massa de corrutos os benefícios seriam bem maiores do que com uma greve.
Parabéns!
[Palmas!!!]
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