domingo, 22 de maio de 2011

KARMA, DEPENDÊNCIA OU AQUILO QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO?


Tá legal. Você deve estar pensando – O que faz uma mocinha como você em uma oficina suja como esta? – Eu poderia simplesmente responder – Não é da sua conta! – Mas, vou explicar.
Estou aqui por causa do carro da mamãe. Você sabe... desde que ela e o papai se separaram as coisas mudaram muito pra gente. Principalmente no lado financeiro. Papai vendeu a loja e com a parte dela nos mudamos para essa cidade – Para tentar uma vida nova. – palavras dela. O fato de eu haver completado dezoito anos também ocasionou grandes mudanças, sou de fato responsável por muitas coisas em casa agora, uma delas é o carro.
Mas, se há uma coisa que eu aprendi com a minha mãe foi gostar de homem cafajeste. Digo isso porque todo mundo sabe a respeito dos motivos que a fez deixar o meu pai. Eu prometi para ela e para mim mesma jamais cometer os mesmos erros. O problema é que parece haver um imã para me atrair para esse tipo de gente. Não sei se é genético, karma ou essas coisas de traumas psicológicos, sei lá. Só sei que estou entrando em outra fria, mais uma vez.
Na verdade, a razão de estar aqui na oficina é outra, o carro quebrado foi apenas um pretexto. Vim por causa do Everson, aquele rapaz que ajuda o Alemão na oficina. – O que ele tem demais? – Ora, você me pergunta isso porque não entende o que é sentir-se atraída por alguém. Não tem explicações razoáveis pra isso. Muitas vezes o menino é lindo, educado, parece um príncipe e você se interessa justamente pelo “cocheiro” do príncipe.
Os psicólogos de plantão já devem ter diagnosticado – O Problema dela é na autoestima! – Mas não é isso, tenho certeza. Talvez o meu exemplo de príncipe e cocheiro tenha sido infeliz. O fato é que mulheres como nós, escolhemos os homens pela “pegada”. O que nos atrai nesses cafajestes é justamente esse ar de – Se me quiser, tem que ser assim...
A primeira vez que vi o Everson foi na festa de Aleluia, lá no clube Itapetinga. Sabe como é cidade de interior, todo mundo se conhece e fica sempre cada um com a sua turminha. A minha turma, posso dizer assim, é das patricinhas e mauricinhos. Alguns são filhos de fazendeiros e outros dos comerciantes da cidade. A maioria estuda na capital como eu. Então, o interior acaba sendo o lugar da “zoeira” mesmo. Todo mundo bebe além da conta e fica com quem bem quer.
            Nessa noite, eu não tinha ficado com ninguém e já estava quase o dia amanhecendo quando o Everson passou por perto de mim, com a camisa aberta, suada, uma tatuagem aparecendo no peito. Eu sabia, pelo seu jeito e pelo tipo de roupa que não era ninguém do “nosso nível”, mas também poucos meninos na nossa turma tem esse jeito de – “Não tô nem aí...!”. – São uns filhinhos de papai que fingem ser rebeldes.
Estava indo em direção da cantina e eu o segui. Encostei-me nele e pedi uma cerveja no balcão. Como ele havia feito o pedido primeiro a sua cerveja foi entrega antes da minha, então, fingindo-me de desentendida, segurei junto com as suas mãos a garrafa. Foi nesse instante que o Everson me enxergou pela primeira vez e... Foi fisgado!
Quando penso que o Everson é um cafajeste, não posso deixar de concluir que talvez eu seja mais do ele. - Aposto como você pensou isso também. - Afinal, quem lançou a armadilha fui eu. Mas, é sempre assim! Eu soube depois, que ele era um tremendo encrenqueiro, já havia se metido em várias brigas pela cidade e preso por causa disso. Esse alerta só fez aumentar ainda mais o meu interesse por ele.
Everson já me pediu mil vezes para não procura-lo na oficina pois o Alemão será o seu sogro – Daqui há dois meses. – E eu lá tenho culpa dessa cidade só ter uma oficina? - Eu bem que insisti com ele no início para a gente nunca mais nos encontrarmos. Na verdade eu só queria mesmo naquela noite da festa. Mas parece até uma droga depois que a gente experimenta, tornamo-nos dependentes um do outro.
- Pensa que é fácil é? - Estamos mesmo lutando para nos livrar dessa dependência e o nosso ultimato será a data do seu casamento. Até lá... talvez morramos de Overdose.

(imagem http://www.melhoramiga.com.br/wp-content/uploads/2009/10/sexo-homem.jpg)

12 comentários:

Valéria disse...

Oi Ivana!
Muuuito legal!
Suas heroinas parecem que gostam de sofrer.rsrs
A autoestima é um tanto baixa, mas desta dependência muitos padecem, infelizmente, muitas vezes nem se dão conta e estão em uma armadilha bem camuflada, tudo em nome do amor...rsrs
Você está se aprimorando, quando eu crescer quero escrever como você.rsrsrs
Beijão e otima semana!

Ivana Lucena disse...

Ah, amiga Valéria (Do que eu gosto...), é muita gentileza tais elogios e humildade de sua parte pois escreves muito bem. A propósito, a heroína tinha então razão, você como psicológa já diagnósticou de imediato uma baixa autoestima na moça. rsrsrs bjs

Alberto Valença Lima disse...

Olá Ivana. Tenho sentido falta de seus comentários. Mas o motivo de minha participação aqui é pra lhe dizer que se não fosse trágico, é cômico demais. Desculpe. Não é minha intenção ridicularizá-la mas é muito engraçado. Mas se valorize. Ninguém merece tamanha sina. Karma existe sim, é verdade mas podemos superar.

PR RUI RICARDO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PR RUI RICARDO disse...

Concordo com a sua amiga de cima.
Parece que está na veia de algumas pessoas, gostarem de sofrer. Qto mais batem com a cara na parede, mais gostam de apanhar. Todo homem no seu raciocinio lógico, ele presa pelos principios e valores que lhe é oferecido de direito. Então qdo uma pessoa dessa não usa desses recursos e faz da sua vida um trapo de imundície, se expondo ao rídiculo nessas situações, que retorno bom ela pode esperar da vida, com certeza coisas ruis. Ela não se ama e não se valoriza, quem mais vai se importar com essa criatura? Porém, para todo problema existe uma solução, qdo se tem vontade de mudar, as coisas acontecem. O homem é um ser dotado de capacidade para fazer da sua vida um instrumento para praticar o que é certo ou o errado, ele decide. É mais ou menos por aí!!!!!!!
Um abraço querida!!!

Chimarrão disse...

Ivna!! A pessoa quando está obsecada por um objetivo não mede as consequências. O texto expelha bem essa experiência que a protagonista passou, perseguiu, mesmo sabendo que o futuro dela não foi construído pedra sobre pedra, mas assim, derepente, com um sentimento abrupto que teimou em conseguir obeter seui frofeu. Realmente, o texto foi muito bem elaborado e a hoverdose de se ter não se importou com o que poderia vir a seguir. Foi um momento de...

abraços!!

www.blogdochimarrao.blogspot.com

Maria Luiza Vargas Ramos disse...

Querida Ivana, finalmente consegui retribuir suas visitas, sempre tão generosas!
E me dei bem, pois é uma delícia ler seus textos!
Temos algo em comum, qual seja a capacidade de zoarmos de nós mesmas.
Também ando ás voltas com oficinas e mecânicso e nisso acho que sempre estaremos em desvantagem, pois , meso que nos levemos a sério, os mcânicos sempre nos olham com cara de quem não acredita em nossos conhecimentos (poucos, na verdade).
Um beijo, apareça sempre e eu voltarei sempre que der.

Ivana Lucena disse...

Fiquei admirada com tantos comentários e mais admirada ainda em perceber que as pessoas se envolveram com o drama, a ponto até de me confundirem com a mocinha da história. O que até certo ponto é lisongeador para quem já passa dos quarenta. rsrsrs Devo dizer que essa história é fictícia, não tem nada a ver comigo. Mas vou tomar tudo isso como elogios à minha habilidade em escrever. Tomara mesmo ter alcançado um grau a mais de eficiência nessa arte, que eu tanto admiro. Um abraço a todos e obrigada por participarem.

Alberto Valença Lima disse...

Desculpe Ivana pela interpretação equivocada. Realmente imaginei que a personagem era você. Ou melhor, não pensei em nenhum personagem.

Ivana Lucena disse...

Oh, meu querido Alberto, é muita gentileza sua vir se desculpar, realmente não precisava. O importante é que você vem sempre me visitar e participa enriquecendo os meus trabalhos. Fico muito feliz em tê-lo como amigo aqui na blogosfera, admiro muito o seu blog e indico aos demais amigos. Um grande abraço.

Fátima Mota disse...

Oi Ivana, uma delícia o texto. Nada demais em criar personagens cheios de qualidade e defeitos, personagens muito humanos, a ponto de serem confundidos com a vida real e aí está a beleza da literatura, esse enorme leque de interpretações. Parabéns pela criação.

Ivana Lucena disse...

rsrsrs Pois não é, menina, causou até um certo reboliço,fico feliz que tenha gostado. Fico muito feliz mesmo com a participação de tantos amigos aqui.É muito legal, isso.

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