Tá legal. Você deve estar pensando – O que faz uma mocinha como você em uma oficina suja como esta? – Eu poderia simplesmente responder – Não é da sua conta! – Mas, vou explicar.
Estou aqui por causa do carro da mamãe. Você sabe... desde que ela e o papai se separaram as coisas mudaram muito pra gente. Principalmente no lado financeiro. Papai vendeu a loja e com a parte dela nos mudamos para essa cidade – Para tentar uma vida nova. – palavras dela. O fato de eu haver completado dezoito anos também ocasionou grandes mudanças, sou de fato responsável por muitas coisas em casa agora, uma delas é o carro.
Mas, se há uma coisa que eu aprendi com a minha mãe foi gostar de homem cafajeste. Digo isso porque todo mundo sabe a respeito dos motivos que a fez deixar o meu pai. Eu prometi para ela e para mim mesma jamais cometer os mesmos erros. O problema é que parece haver um imã para me atrair para esse tipo de gente. Não sei se é genético, karma ou essas coisas de traumas psicológicos, sei lá. Só sei que estou entrando em outra fria, mais uma vez.
Na verdade, a razão de estar aqui na oficina é outra, o carro quebrado foi apenas um pretexto. Vim por causa do Everson, aquele rapaz que ajuda o Alemão na oficina. – O que ele tem demais? – Ora, você me pergunta isso porque não entende o que é sentir-se atraída por alguém. Não tem explicações razoáveis pra isso. Muitas vezes o menino é lindo, educado, parece um príncipe e você se interessa justamente pelo “cocheiro” do príncipe.
Os psicólogos de plantão já devem ter diagnosticado – O Problema dela é na autoestima! – Mas não é isso, tenho certeza. Talvez o meu exemplo de príncipe e cocheiro tenha sido infeliz. O fato é que mulheres como nós, escolhemos os homens pela “pegada”. O que nos atrai nesses cafajestes é justamente esse ar de – Se me quiser, tem que ser assim...
A primeira vez que vi o Everson foi na festa de Aleluia, lá no clube Itapetinga. Sabe como é cidade de interior, todo mundo se conhece e fica sempre cada um com a sua turminha. A minha turma, posso dizer assim, é das patricinhas e mauricinhos. Alguns são filhos de fazendeiros e outros dos comerciantes da cidade. A maioria estuda na capital como eu. Então, o interior acaba sendo o lugar da “zoeira” mesmo. Todo mundo bebe além da conta e fica com quem bem quer.
Nessa noite, eu não tinha ficado com ninguém e já estava quase o dia amanhecendo quando o Everson passou por perto de mim, com a camisa aberta, suada, uma tatuagem aparecendo no peito. Eu sabia, pelo seu jeito e pelo tipo de roupa que não era ninguém do “nosso nível”, mas também poucos meninos na nossa turma tem esse jeito de – “Não tô nem aí...!”. – São uns filhinhos de papai que fingem ser rebeldes.
Estava indo em direção da cantina e eu o segui. Encostei-me nele e pedi uma cerveja no balcão. Como ele havia feito o pedido primeiro a sua cerveja foi entrega antes da minha, então, fingindo-me de desentendida, segurei junto com as suas mãos a garrafa. Foi nesse instante que o Everson me enxergou pela primeira vez e... Foi fisgado!
Quando penso que o Everson é um cafajeste, não posso deixar de concluir que talvez eu seja mais do ele. - Aposto como você pensou isso também. - Afinal, quem lançou a armadilha fui eu. Mas, é sempre assim! Eu soube depois, que ele era um tremendo encrenqueiro, já havia se metido em várias brigas pela cidade e preso por causa disso. Esse alerta só fez aumentar ainda mais o meu interesse por ele.
Everson já me pediu mil vezes para não procura-lo na oficina pois o Alemão será o seu sogro – Daqui há dois meses. – E eu lá tenho culpa dessa cidade só ter uma oficina? - Eu bem que insisti com ele no início para a gente nunca mais nos encontrarmos. Na verdade eu só queria mesmo naquela noite da festa. Mas parece até uma droga depois que a gente experimenta, tornamo-nos dependentes um do outro.
- Pensa que é fácil é? - Estamos mesmo lutando para nos livrar dessa dependência e o nosso ultimato será a data do seu casamento. Até lá... talvez morramos de Overdose.
(imagem http://www.melhoramiga.com.br/wp-content/uploads/2009/10/sexo-homem.jpg)
12 comentários:
Oi Ivana!
Muuuito legal!
Suas heroinas parecem que gostam de sofrer.rsrs
A autoestima é um tanto baixa, mas desta dependência muitos padecem, infelizmente, muitas vezes nem se dão conta e estão em uma armadilha bem camuflada, tudo em nome do amor...rsrs
Você está se aprimorando, quando eu crescer quero escrever como você.rsrsrs
Beijão e otima semana!
Ah, amiga Valéria (Do que eu gosto...), é muita gentileza tais elogios e humildade de sua parte pois escreves muito bem. A propósito, a heroína tinha então razão, você como psicológa já diagnósticou de imediato uma baixa autoestima na moça. rsrsrs bjs
Olá Ivana. Tenho sentido falta de seus comentários. Mas o motivo de minha participação aqui é pra lhe dizer que se não fosse trágico, é cômico demais. Desculpe. Não é minha intenção ridicularizá-la mas é muito engraçado. Mas se valorize. Ninguém merece tamanha sina. Karma existe sim, é verdade mas podemos superar.
Concordo com a sua amiga de cima.
Parece que está na veia de algumas pessoas, gostarem de sofrer. Qto mais batem com a cara na parede, mais gostam de apanhar. Todo homem no seu raciocinio lógico, ele presa pelos principios e valores que lhe é oferecido de direito. Então qdo uma pessoa dessa não usa desses recursos e faz da sua vida um trapo de imundície, se expondo ao rídiculo nessas situações, que retorno bom ela pode esperar da vida, com certeza coisas ruis. Ela não se ama e não se valoriza, quem mais vai se importar com essa criatura? Porém, para todo problema existe uma solução, qdo se tem vontade de mudar, as coisas acontecem. O homem é um ser dotado de capacidade para fazer da sua vida um instrumento para praticar o que é certo ou o errado, ele decide. É mais ou menos por aí!!!!!!!
Um abraço querida!!!
Ivna!! A pessoa quando está obsecada por um objetivo não mede as consequências. O texto expelha bem essa experiência que a protagonista passou, perseguiu, mesmo sabendo que o futuro dela não foi construído pedra sobre pedra, mas assim, derepente, com um sentimento abrupto que teimou em conseguir obeter seui frofeu. Realmente, o texto foi muito bem elaborado e a hoverdose de se ter não se importou com o que poderia vir a seguir. Foi um momento de...
abraços!!
www.blogdochimarrao.blogspot.com
Querida Ivana, finalmente consegui retribuir suas visitas, sempre tão generosas!
E me dei bem, pois é uma delícia ler seus textos!
Temos algo em comum, qual seja a capacidade de zoarmos de nós mesmas.
Também ando ás voltas com oficinas e mecânicso e nisso acho que sempre estaremos em desvantagem, pois , meso que nos levemos a sério, os mcânicos sempre nos olham com cara de quem não acredita em nossos conhecimentos (poucos, na verdade).
Um beijo, apareça sempre e eu voltarei sempre que der.
Fiquei admirada com tantos comentários e mais admirada ainda em perceber que as pessoas se envolveram com o drama, a ponto até de me confundirem com a mocinha da história. O que até certo ponto é lisongeador para quem já passa dos quarenta. rsrsrs Devo dizer que essa história é fictícia, não tem nada a ver comigo. Mas vou tomar tudo isso como elogios à minha habilidade em escrever. Tomara mesmo ter alcançado um grau a mais de eficiência nessa arte, que eu tanto admiro. Um abraço a todos e obrigada por participarem.
Desculpe Ivana pela interpretação equivocada. Realmente imaginei que a personagem era você. Ou melhor, não pensei em nenhum personagem.
Oh, meu querido Alberto, é muita gentileza sua vir se desculpar, realmente não precisava. O importante é que você vem sempre me visitar e participa enriquecendo os meus trabalhos. Fico muito feliz em tê-lo como amigo aqui na blogosfera, admiro muito o seu blog e indico aos demais amigos. Um grande abraço.
Oi Ivana, uma delícia o texto. Nada demais em criar personagens cheios de qualidade e defeitos, personagens muito humanos, a ponto de serem confundidos com a vida real e aí está a beleza da literatura, esse enorme leque de interpretações. Parabéns pela criação.
rsrsrs Pois não é, menina, causou até um certo reboliço,fico feliz que tenha gostado. Fico muito feliz mesmo com a participação de tantos amigos aqui.É muito legal, isso.
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