Eis a questão!
Moro de frente para um terreno da aeronáutica, uma verdadeira mata, e, de vez em quando recebo visitas inesperadas de alguns de seus moradores, cobras, aranhas, sapos e outros.
Geralmente, tais visitas deixam a casa em polvorosa. É um tal de gente em cima de cadeira, com vassoura na mão e gritos alarmantes... Nenhum incidente que impediu boas risadas depois, felizmente.
O que muitos amigos estranham é o fato de existir na minha casa uma política de não matar nenhum animal. Aliás, a concessão há para mosquitos, baratas, formigas e outras pragas dessa espécie. Os demais são convidados a voltar para o seu habitat, acompanhados com a vassoura, geralmente, até o outro lado da rua.
Essa postura não foi imposta, ela se aditou naturalmente à medida que refletimos não haver por parte de tais visitantes nenhuma intenção de fazer o mal. Trata-se apenas de descuidos, na maioria das vezes em período de chuvas, que acaba atraindo-os para o quentinho de dentro de casa. Estou providenciando uma proteção para a grade do portão para inibir essas visitas.
O caso é que ninguém se acha no direito de matar um animal desses, indefeso, se no momento não está nos oferendo perigo. Matá-los, seria o ultimo e lamentável recurso nesse caso, ninguém tem a coragem de olha-los nos olhos, assustados, e fazê-lo.
Então, eu pergunto-me – Por que diacho, eu, com essa postura, alimento-me, sem peso algum na consciência, de carnes de animais, sabendo que eles foram mortos de maneiras cruéis e sem possibilidade de defesa?
Já tentei me convencer da soberania da raça humana e da função dos outros seres dos reinos animal, vegetal e mineral em atender as nossas necessidades de sobrevivência e até, muitas vezes, de comodidade e vaidade.
Porém, algo me diz que, a evolução humana deveria acompanhar uma evolução na mudança de certos hábitos. Como já houve com relação as vestes, hoje poucas pessoas ainda se atrevem a utilizar peles de animais, por exemplo. Muitas outras descobertas já foram feitas para substituir a matéria prima da natureza em necessidades nossas.
E na alimentação? Em que evoluímos? Continuamos comendo animais, desde o tempo das cavernas. Com uma diferença, depois que descobrimos o fogo; o fogão; as cozinhas industriais; os fornos de micro-ondas; certos condimentos e técnicas culinárias, as receitas tornaram-se cada vez mais saborosas e práticas.
Impor-me a deixar de comer um delicioso churrasco, ou outros quitutes de carnes de animais, que só em lembrar me deixa com água na boca é almejar uma evolução muito alta. Não estou preparada para isso, ainda. Embora tenha pensado bastante, ultimamente.
Gente, a música que mais traduz a minha sensação às vezes é aquela de Erasmos Carlos que diz – “Que culpa tenho eu, me diga amigo meu, será que tudo o que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?” (risos).
Mas, falando sério. Não é de se pensar em uma coisa dessas? Eu aqui, preservando a vida de cobras, aranhas, sapos etc. e comendo, tranquilamente, galinhas, vacas, carneiros e outros bichos? Sinto uma incoerência enorme.
Eu poderia alegar em minha defesa a necessidade de sobrevivência. A minha tese, certamente, seria contestada quando se apresentassem várias receitas culinárias vegetarianas que substituíssem as carências proteicas das carnes e até, como já ouvi falar, bem mais saudáveis.
Só me resta então, alegar a minha ignorância e fraqueza. Não me vejo com tempo suficiente para preparar comidas vegetarianas e não me sinto com autoridade ainda para conversa a minha família para deixar de comer carnes já que ainda adoro, por exemplo, um filé ao molho madeira ou um patê de frango.
Não sei como ficaria a questão da quantidade de animais no planeta, se todos virassem vegetarianos. Mas, talvez, parando de produzir em escala, a própria natureza se encarregasse do equilíbrio na sua cadeia alimentar, sem o homem no topo (pelo menos, não devorando animais).
Falando dessa forma parece mesmo uma utopia. Afinal, o nosso planetinha está a quilômetros luz da plena evolução. Tem muita gente ainda precisando aprender a valorizar a vida humana, que dirá valorizar a vida dos animais e dos outros seres. Muito embora, a própria natureza tenha dado umas liçõezinhas, como temos assistido por aí.
Eu, por enquanto, fico por aqui, com os meus conflitos. Já, já vou fazer uma macarronada de sardinha (tadinhos dos peixinhos).
O meu esforço precisa ser concentrado, urgentemente, é em providenciar a proteção do portão da minha casa para os bichinhos não entrarem.
O resto eu vou mudando devagarinho. Sei que nesses casos, não importa muito a postura dos outros, é a atitude individual que conta e quando ela se soma a “várias individuais” temos aí uma mudança consistente no planeta.
6 comentários:
Ivana,
As questões que levanta são pertinentes, mas normalmente acabam por tropeçar na nossa impossibilidade, na nossa dependência dum ritmo de vida pré-estabelecido. Na verdade é possível contrariar essa lógica, mas para isso precisamos revolucionar o nosso conceito de vida...
Beijo :)
Ivana
Primeiro quero lhe agradecer pela referencia feita a minha pessoa no
novo blog. E tambem lhe dizer que não tenho 83 anos não, tenho 84 completos.Voce é muito gentil e cuidado pra não iludir as pessoas a meu reaspeito e criar uma espectativa que não existe (risos)Quanto a sua postagem é realmente até polemico, como conservamos a naturesa e comemos animais ?Ser vegetariano não é muito facil. Eu vivi um tempo me alimentando com comidas vegetarianas e gostava, acho que contribuiu pra que hoje eu tenha a saude que tenho.
É minha cara, deixei de comer carne faz aproximadamente dois anos, a idade vai chegando e neste momento é que nos preocupamos com um melhor padrão de vida, procedimento que deveríamos ter adotado ainda em nossa juventude, mas a cultura manda, não é mesmo?
Não quer dizer que me abstenho totalmente da carne, um almoço em família, algum restaurante, para não ser chato acabo aceitando os restos mortais de algum animal.
Quero dizer que hj minha vida está bem melhor, o organismo sinto-o mais forte, a pressão tem se mantido em níveis baixos, o colesterol também baixou, enfim, sou prova viva de que o vegetarianismo realmente funciona.
Ótima matéria minha cara, logo mais retornaremos. Até.
Ah, que legal, Miguel! Mas é bem verdade que a sabedoria, para alguns, que é o meu caso, vem mais tardiamente, com a experiências, as vezes tão conturbadas da juventude. Ainda sorte minha pois há muitos, dizem, que apodrecem e não amadurecem. AC ainda é muito novinho pra entender isso mas Vovó cibernética sabe do que falo, né não, amiga? bjs a todos
Esse dilema é igual ão meu, não mato nenhum animal que entre em minha casa, mas não passo sem um bife. Acho que não se precisa de deixar de comer carne, apenas equilibrar o consumo...
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