Não sei o que vocês fariam no meu lugar.
Noite passada, adormeci cedo, mas, por volta da meia-noite, fui acordada por minhas filhas avisando que tinha uma mulher na calçada de casa, em trabalho de parto, pedindo ajuda.
Levantei-me ainda atordoada, tentando compreender o que estava acontecendo. Fui até o portão e dei com uma mulher vestida em um pequeno short e uma blusa dobrada deixando á mostra uma barriga enorme. Ela se contorcia dando entender que estava sofrendo fortes dores de parto.
Cumprimentei-a e questionei sobre o que ela estava querendo. Explicou-me que era uma moradora de rua, que estava abrigada embaixo de um cajueiro próximo á minha casa e havia entrado em trabalho de parto. - Naquela hora – lembrou-me, ela – não havia mais transporte para ir para a maternidade. -Esclareceu que estava pedindo uma ajuda para pegar um taxi.
Quando questionei a respeito de chamar a SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ela me disse já haver tentado, mas foi informada de que estavam em ocorrência e não poderiam atendê-la.
Fiquei compadecida daquela pobre criatura, mas não sabia ao certo qual deveria ser a minha atitude. Por fim, decidi ajuda-la e me prontifiquei para leva-la em meu carro até a maternidade.
Demonstrando-se agradecida, disse-me que ia até o local onde estava acampando pegar algumas coisas para levar e chamar um filho seu para acompanha-la.
Enquanto me vestia para leva-la, muitos questionamentos começaram a surgir. Passamos a analisar a hipótese de se tratar de uma farsa, talvez uma cilada para um assalto, ou coisa desse tipo.
A essa altura da história, eu e as minhas filhas já estávamos bastante assustadas. Tivemos a ideia de buscar ajuda por telefone.
Tudo tinha que ser muito rápido, antes que a mulher voltasse.
Telefonei para o 192 (SAMU) e fui atendida por uma telefonista que depois de ouvir a minha narrativa pediu que aguardasse na linha enquanto passava para o ramal do médico. A ligação acabou caindo, sem eu conseguir falar com ele.
Voltei a ligar, desta vez um rapaz atendeu, expliquei novamente o que estava acontecendo, ele transferiu a ligação e por sorte deu certo, desta vez. Quando narrei todo o ocorrido, o tal médico, que concluía cada frase sua com um – Tá bom? - me explicou que essa não era uma ocorrência para o serviço da SAMU. – Tá bom?
Aflita, ainda tentei explicar a real situação dos fatos – A mulher é uma moradora de rua – disse eu - está em trabalho de parto e não tem como ir para a maternidade nesta hora da madrugada. – Ele, sem nenhuma comoção, se limitou a me esclarecer que não se caracterizava em uma emergência. – Trata-se, apenas, do curso normal da natureza. Tá bom? – concluiu.
- Mas e aí? O que fazer em uma situação como essa? – Infelizmente a SAMU não pode atender. – Tá bom? – Ela tem que procurar um transporte ou a senhora, se quiser, pode leva-la à maternidade. – Disse-me ele, jogando um balde de água gelada na minha cabeça e finalizando com um - Tá bom?
Explodi. – Não! Não tá bom coisa nenhuma! Não tem nada bom aqui! O que vai ser dessa criatura, se nós não temos a quem recorrer em uma situação como esta?
Percebendo a minha alteração, o tal médico falou que a culpa não era dele e, antes que desligasse o telefone na minha cara ainda ouviu – A culpa é sua sim, é minha também, porque estamos elegendo, o tempo todo, incompetentes e corruptos incapazes de atender as nossas necessidades...
Resolvi tentar a policia, 190. O policial me atendeu e quando expliquei tudo o que estava acontecendo ele simplesmente me disse – Isso não é um trabalho da polícia. – e desligou o telefone.
Fiquei parada, com o aparelho telefônico ainda nas mãos, as minhas filhas me fitando assustadas e eu sem saber o que fazer. Parecia que a todo instante ouvia os passos da mulher se aproximando, acompanhada, sei lá por quem, para cobrar a promessa que fiz de socorrê-la.
Liguei de novo para a policia e desta vez já fui logo contando a história e esclarecendo que já estava informada de que não era um dever da policia socorrer a mulher em trabalho de parto. O que eu estava solicitando agora era simplesmente uma proteção à minha pessoa e à minha família para que eu pudesse prestar um socorro sem correr nenhum risco de vida. Pedi que mandasse uma guarnição até a minha casa.
Meia hora depois chega dois policiais em uma viatura. Após escutar detalhadamente toda a história e questionando sobre o tempo que fazia desde a hora em que a mulher tinha ficado de retornar, eles explicaram que com certeza tratava-se de um golpe.
Repasso agora as orientações dadas pelos policiais, por considerar muito importante e válida para qualquer um de nós que por ventura seja envolvido em uma situação semelhante.
- Jamais abra a porta para nenhum estranho. Jamais! Pode ser pedindo água, comida, ou qualquer tipo de ajuda.
- Em casos de pedidos de socorro, digam que tem um irmão, um marido ou um parente que é policial e está de plantão e que irão ligar para ele vir ajudar. Isso serve como um teste. Se for um golpe, com certeza não ficarão aguardando.
Só para concluir a minha história. A tal mulher grávida desapareceu misteriosamente naquela madrugada, da mesma forma que surgiu.
7 comentários:
Esse dia foi uma aventura, sorte que acabou tudo bem, adoro o jeito de como consegue passar tudo detalhadamente para as pessoas, tudo o que sentimos e passamos naquele momento.
Oi Ivana!
Que situação, heim?!
Em uma hora dessas você se arrepia só de pensar no final de uma situação dessa. E as perguntas sem respostas, e os se..., nooossa é muito complicado! Ainda bem que tudo terminou bem! Beijão!
Ivana, como é difícil e perigoso hoje em dia tentar ajudar alguém desconhecido. Costumo dizer que até para fazer caridade está difícil sem correr riscos.
Beijos
Minha amiga, você e suas filhas escaparam de um perigo e tanto... mas quem não tem maldade e tem consciência dos problemas que a maioria da população enfrenta, só poderia agir dessa forma, mesmo sem saber ao certo o que aconteceu com a mulher e se era uma tentativa de golpe ou não. A verdade é que somos por natureza solidários e generosos diante da dor de alguém e por isso muitas vezes pagamos um preço muito alto. Eu também, teria agido como você mesmo correndo riscos. bjs
Olá amiga querida!!!
Enquanto lia, um turbilhão de pensamentos aflorava minha mente... Mas, embora não pareça, sou muito emotiva também... rsrsrs... No entanto, me pergunto: haveria a possibilidade dela ter sido "ajudada" por outra pessoa? Afinal, creio como você, que ainda existem pessoas honestas e verdadeiras. Mas, a esta pergunta, ficaremos sem resposta... Continue postando. Adoro suas crônicas, poemas, alegrias, você...
Beijo carinhoso.
Ivana que cituação dificil voces enfrentaram ! Graças a Deus que saiu tudo bem. Do contrario teria sido um grande golpe . Deus livrou voces porque ELE é fiel .
Meu DEUS!!! Já vivi situação semelhante.Uma mulher tentando me convencer para ir buscar o "filhinho" de 1 ano que tinha recebido alta do Hospital Mª Alice no Parque dos Coqueiros- Zona Norte...Tudo um golpe!!!
Mas...O PIOR DE TUDO não é sermos ludibriados e sim nos tornarmos INSENSSÍVEIS aos problemas dos outros que muitas vezes são reais.
Resta-nos pedir SABEDORIA a DEUS!
Abraços!
Angélica Dantas
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