Neste sábado, dia 15 de
fevereiro, eu entrei no Banco do Brasil, na agência que fica na Av. Pte Bandeira,
no bairro do Alecrim, em Natal-RN, por volta das oito horas da manhã e lá aconteceu uma situação inesperada.
Dentro da agência quase vazia, enquanto
eu realizava uma operação no caixa eletrônico, por duas vezes fui interrompida, e
as poucas pessoas que estavam lá, também, por um senhor que teimava em afirmar
que o seu cartão havia ficado preso dentro do caixa.
Um rapaz que estava do meu lado
fez sinal para mim de que aquele senhor parecia não ser bom da cabeça.
Mas, comecei a reparar na aflição
do homem e percebi que algo sério havia acontecido. Uma pessoa sugeriu que ele
voltasse á agencia na segunda-feira para reaver o cartão e ele respondeu que
era impossível, pois não era daqui e voltaria ainda esse final de semana para o
estado da Bahia. Ele já começava a demonstrar desespero falando alto que queria
o seu cartão “ Agora!”.
Precipitei-me em ajuda-lo e passei
a enfiar o meu cartão em todas as máquinas para ver se topava com o dele em
alguma. Nada!
– Senhor, com certeza o seu
cartão não está preso aqui. – disse-lhe eu.
Sem desistir de ajuda-lo, procurei
ajuda dentro do banco: um telefone para ligar para a central; um guarda, que eu
pudesse falar... Nada! – Imaginem: Final de semana, de manhã cedo...
Impossível.
O senhor me seguia o tempo
inteiro, confiante de que eu ia conseguir ajuda-lo. Pedi-lhe, calmamente, que
me descrevesse tudo o que ocorreu.
Foi quando comecei a entender que
ele havia sido vítima de um golpe.
Lembrei-me de imediato que no ano
passado a minha mãe, também em um dia de sábado, teve o seu cartão furtado por
uma pessoa que fingiu orientá-la junto ao computador do caixa eletrônico. O
caso dela, que ocorreu na agência da Av. Airton Senna, no bairro de Pirangi,
encontra-se até esta data em um processo judicial para reaver uma relativa
quantia que foi retirada pela quadrilha que realizou o golpe.
A descrição que o senhor me
apresentava, percebi, se assemelhava bastante com o caso da minha mãe.
Ele me contou que o seu cartão
havia ficado preso na máquina e que um rapaz se ofereceu para ajuda-lo,
inclusive pediu o numero da sua senha e do seu CPF.
Entendi que era esse o motivo pelo
qual ele entrava e saia da agência desesperado. O homem que fingia ajuda-lo disse
que ia pegar algo no carro e voltaria. Fui com ele lá fora e não havia mais
ninguém, é claro. “Rápido assim!”
Ciente do que estava acontecendo,
convidei-o para ir comigo até o meu carro onde o levaria até a uma delegacia
próxima para fazer um Boletim de Ocorrência.
Mais uma vez ele se viu obrigado
a confiar em outra pessoa. Foi interessante observar que mesmo tendo acabado de
ter sido enganado, ele, da mesma forma, confiou plenamente de novo. A sua demonstração
de ingenuidade me causou ainda mais uma revolta por constatar que existem “seres
desumanos” capazes de tais atos e outros ainda piores como sabemos.
No caminho até o carro, tive a
lembrança de que algumas vezes utilizo um telefone que tem registrado atrás do
meu cartão para me comunicar com a central do Banco do Brasil. Recorri a ele
para bloquear o cartão do seu João (era esse o seu nome).
Felizmente, nós conseguimos.
Mas, devo revelar que não foi
muito fácil. Seu João tem problemas de baixa audição e, imaginando a
dificuldade que nós com audição “normal” temos para nos comunicar com aquela
voz robotizada indicando qual “tecla” apertar, somos capazes de avaliar a
situação.
A cena:
Escorados no balcão da oficina onde havia
deixado meus óculos para consertar, razão pela qual fui pegar dinheiro para
pagar o serviço, estava eu; seu João; uma filha minha que andava comigo e o
dono da oficina. Envolvidos na torcida de que se conseguíssemos resolver o
problema pelo telefone celular.
Primeira tentativa: Eu segui
todos os passos indicados pela voz até chegar a um dos “nossos atendentes”. A
voz de uma moça surgiu para atender. Porém, quando me ouviu falar que estava
ajudando a um senhor que acabava de ter sido roubado, ela desligou bruscamente
na minha cara, sem dar nenhuma satisfação.
Ficamos atônitos, olhando uns
para as caras dos outros. Sem querer crer que aquilo havia ocorrido.
Retornei a ligação. Todo o
percurso de teclas novamente. Dessa vez eu não falei mais em roubo, fui direto
para a proposta de cancelar o cartão. Já tinha em mãos o numero da conta e da
agência, repassados por seu João para mim. A moça me pediu o CPF. No instante
em que eu pedi o numero do CPF ao seu João, ela também encerrou, sem
justificar, a ligação.
Liguei pela terceira vez.
Agora eu pus no “viva voz” para
tentar que o próprio seu João se comunicasse diretamente e conseguirmos o bloqueio.
Ele, com dificuldade de entender as perguntas, ia tentando responder, até que
não conseguiu de forma alguma compreender quando o rapaz (dessa vez era um
rapaz) perguntou: - O senhor compreende que o bloqueio é definitivo? – Eu tentei
cochichar – Sim! – Mas, por azar, o moço ouviu e também acabou desligando.
Dessa vez até que justificou: - Estou ouvindo duas pessoas falando e assim eu
não posso atender – disse ele.
Tentando controlar o desespero,
que agora também era meu, recomecei tudo no telefone. Dessa vez tinha que dá
certo.
Depois de algumas apertadas, a
voz de uma moça atendeu e seu João começou a responde-la, até que empancou em
uma das perguntas. Nisso, nós três já estávamos quase com as respirações
presas, com medo de que a atendente desconfiasse de que ele não estava sozinho
e desligasse sem concluir o cancelamento. E nada de seu João entender o que ela
perguntava. Sem ver saída, me arrisquei em avisá-la de que ele era surdo, que
repetisse a pergunta. Por sorte, dessa vez, ela foi até o final, cancelou o cartão
repassou o protocolo de atendimento para que anotássemos e orientou-nos a ir
até a delegacia para fazer o “BO”.
Teve um momento nessa ultima
ligação que chegou a ser até engraçado.
A moça pergunta ao seu João se ele
havia informado a senha do seu cartão para o bandido. Seu João respondeu: - Dei
tudo! – E, prontamente questiona, indicando a intenção de atender: - A senhora
também quer a minha senha? – Imediatamente, nós três, juntamente com a moça da
central que falava no “viva-voz”, gritamos em coro: -NÃO!
Acabei deixando seu João na
delegacia. Quase que eu ainda continuava com ele ao vê-lo meio aturdido sem encontrar
a porta de entrada. Mas, ao vê-lo entrando, convenci-me de que a partir dali
ele estava bem e que agora era a vez da policia ajuda-lo. Espero mesmo que o
tenha feito da melhor maneira possível e que tudo dê certo para ele depois
desse susto.
Creio que todo esse acontecido serve
de alerta para nós.
Em uma situação como esta o
caminho é: Procurar no verso de algum cartão do banco o telefone da central,
ligar para realizar o cancelamento imediato e ir até a uma delegacia fazer o
Boletim de Ocorrência.
Se ainda assim, os bandidos
conseguirem sacar antes algum dinheiro, devemos procurar um advogado e entrar
com um processo para o banco ressarcir o prejuízo.
Fica, para variar, em nós, a
sensação de tristeza, revolta e impotência diante de um mundo que vemos, a cada
dia, tornar-se mais violento e desgovernado.
Eu me pergunto ainda: - Se esses
bandidos usam a inteligência para planejar com eficiência o melhor dia, o
horário ideal e a vítima mais fácil, onde está “a inteligência da policia” para
montar um esquema e pegá-los? – Sei bem que no caso da policia o problema não é
só a falta da “inteligência”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário