Ontem
à noite, voltando para casa de carro com as minhas duas filhas mais novas e
passando pelo cruzamento da avenida Bernardo Vieira com a Jaguararí,, nos
deparamos com um desses meninos que pedem dinheiro nos sinais.
Isso
era por volta das seis horas da noite, mas, estranhamente havia poucos deles
neste sinal, aliás, somente ele. O comportamento do jovem, de aparência débil,
me chamou atenção. Pareceu-me alguém com um tipo de deficiência mental. O que
não é nenhuma estranheza em se encontrar nesse tipo pessoa que vive sob tais
condições. Como não tinha nenhuma moeda no momento, eu lhes dei um pacote de
biscoitos recheados que as minhas filhas traziam dentro do carro para o caso de
sentirem fome pelo caminho.
A minha
atitude deu início um debate polêmico dentro do carro sobre ser certo ou errado
dar dinheiro a essas pessoas que pedem nos sinais.
Uma
das filhas, de dezenove anos, que há pouco tempo teve o seu celular roubado em
uma parada de ônibus e ainda encontra-se bastante revoltada por isso, defende
que a maioria desses jovens se acomoda com esse dinheiro que damos e passam a
vida inteira sem procurar trabalho. Argumenta que a maioria deles não “são
esses coitadinhos que a gente pensa”, que basta deixar alguma bolsa ou um
objeto de valor fácil e eles não terão o menor escrúpulo em roubá-lo ou ainda
em nos fazer um mal para conseguir isso. Por isso, afirma ser extremamente
contra darmos dinheiro a eles nos sinais, concluindo ainda que esse dinheiro
servirá unicamente para a compra de drogas.
A filha
mais nova, de dezessete anos apresenta um argumento contrário ao da sua irmã.
Segundo ela, ninguém tem condições de julgar a todos os jovens e crianças que
pedem nos sinais, de maneira generalizada. Alguns deles, afirma, certamente não
tem outra opção na vida. Ela levanta uma tese de que se qualquer um deles
tivessem recebido a educação devida, a atenção e o carinho da família,
certamente não estaria ali nessas condições. Alguma dessas coisas deve ter lhes
faltado, senão todas, afirma.
Penso
que, ambos os argumentos, embora aparentemente convergentes, tornam-se complementares
para traçarmos o perfil das pessoas que vivem nas ruas, pedindo dinheiro e até
roubando.
Não
podemos, realmente, ter sempre a postura ingênua de acreditar que só pelo fato
de estarem naquela condição de “abandono social”, trata-se de “coitadinhos”,
cujas condições lhes tornaram “almas humildes”, capazes de gratidão e
reconhecimento pela ajuda que recebem de nós.
Também,
ao contrário, embora reconhecendo que são pessoas criadas sem educação para a ética
e para o reconhecimento da solidariedade, mesmo assim, isso não as redime da
condição de necessitarem de ajuda.
Sem
dúvida alguma, a ajuda de que necessitam efetivamente seria a de ter-lhes
devolvido o direito de ter um lar, de estudar e de um emprego... Todavia, a
ajuda que carecem no momento é imediata. Seja para saciar a sua fome ou o vício
em drogas, que a maioria adquire. Porém, devemos ter a clareza de que a fome e
o vício em drogas serão saciados de alguma forma e eles não podem esperar pelos
programas sociais de resultados à longo prazo.
Ou
seja, não é o fato de nos negarmos a dar-lhes dinheiro que irá tirá-los da rua.
O
erro está em considerarmos ter cumprido o nosso dever social apenas assumindo a
posição de ajudar ou deixar de ajudar essas crianças e esses jovens que
perambulam pelas ruas.
A nossa
dívida social está longe disso. Ela vai muito além de discutirmos confortavelmente
dentro do nosso carro, no aconchego dos nossos lares, nas escolas ou no nosso
merecido trabalho, se é certo ou errado dar dinheiro aos pedintes nas ruas.
Em
um período como esse, de campanha política, o momento é propício para exercitarmos
um grande dever social: escolher representantes políticos que apresentem
projetos vislumbrando resolver problemas como esse.
Muito
embora, a ninguém compete conhecer verdadeiramente ás intenções de um candidato,
é possível reconhecer um bom projeto quando constamos que este apresenta ações
capazes de serem realizadas. A única pista confiável que temos para avaliar um
candidato é a análise do seu histórico político. Devemos conhecer sobre a sua
postura e os seus atos anteriores, realizados á serviço da sociedade.
Temos
que ter em mente, ainda, que somente eleger o nosso represente político não põe
fim no nosso compromisso social. Acompanhar a sua trajetória, unindo-nos aos
grupos ou comunidades para cobrar os projetos prometidos na campanha é a
continuação do nosso dever.
Além disso, sabemos que existem muitas ações
sociais que independem de governos e que é possível descobrirmos uma maneira de
contribuirmos para acabar com toda essa desigualdade social que nos cerca.
Cada
um a sua parte e todas as partes estarão unidas no resultado final.
2 comentários:
Este é um problema que levará muito tempo a ter solução porque, como tu dizes e bem, cada um puxa para o seu lado em vez de unir forças para dar resposta a estes casos.
Beijocas e boa semana.
Graça
Bom texto. Infelizmente essa é uma questão que vai muito além do dar ou não dar moedas, ou um lar. Essas crianças ou mesmo adultos abandonados são vitimas da realidade, onde uma pedra de crack sacia a fome por mais de 10 horas,e os faz esquecer que são margens da sociedade. O tratamento real é com terapeutas, médicos, família. Pessoas que se importem, que os tratem feito gente e que lhes dê o tempo certo para errar e quem sabe aprender a confiar. A verdade é que tudo acontece na célula, se você pode ajudar, ajude e mesmo com preconceito, não descrimine.
Parabéns pelo texto. Vou acompanhar seu blog; www.ligadosfm.com
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