quinta-feira, 23 de junho de 2011

SAUDADES DE SÃO JOÃO


Sabe o que mais gosto da festa de São João?

Das recordações que ela me traz.

Eu embaixo dos pés de mangas juntando os pedaços de paus com a minha irmã e meu avô para fazer as fogueiras. Eram duas no terreiro em frente à casa - coisas do meu avô - a grande, feita por ele, e a pequena feita com os gravetos que nós duas conseguíamos carregar.
 
Na cozinha, vovó mexendo canjica com a colher de pau e a panela de barro no fogão a lenha. Depois, como uma artesã, ela preparava os saquinhos e enchia com aquele outro caldo mais grosso de milho que se transformava em pamonhas.

Não tinha festa, nem nada. Aliás, tinha sim, nós duas erámos a festa dos nossos avós. E eles, a nossa.

Quando a noite caía, chegava o momento tão esperado de acender as fogueiras. O céu, uma escuridão só, ficava todo picadinho de estrelas, que nem o São João das letras das músicas de forró. A gente ficava ali sentada se esquentando perto do fogo, assistindo as faíscas subirem em direção das estrelas e esperando a madeira virar brasa para assar as espigas de milho. 

Nem dava tempo da fogueira acabar, o sono já vinha e a gente caminhava para dentro da casa seguindo o caminho guiado pela lamparina na mão da minha avó. E a gente adormecia ouvindo o estralar das labaredas da fogueira lá fora e vendo o alaranjado da sua luz entrando pelas brechas das janelas.

Hoje o céu está mais escuro, as estrelas perderam a sua força para as lâmpadas da cidade. Mas as poucas fogueiras que ainda existem, o cheirinho que a sua fumaça deixa nas roupas, as comidas de milho..., essas coisas trazem de volta a minha infância e eternizam os meus avós em mim.

4 comentários:

vovocibernetica disse...

Ah ! Ivana o São João pra mim tras uma grande recordação. No ano de 1948 eu fui passar a noite de São João em uma fazenda pra ficar longe do namorado q meu pai não queria nem ve-lo pq ele era descinhecido. Aí não deu outra :ele foi me encontrar lá e fugimos p Campina Grande e lá casamos. Foi um riboliço muito grande pq , eu era professora primaria e deixei os alunos na saudade. Mas g a Deus casamos e vivi 39 anos de casada até ele morrer . Essa é uma data que me trás recordações e muita saudade
Seu texto como sempre é lindo bjsssmilitt

Natalícia Alfradique disse...

Que lindo texto, cheio de belas recordações e delícias que só os que tiveram uma infância colorida de bandeirinhas sabe do que estamos falando.
Um abraço
Natalícia

Remédios disse...

Amiga, eu acho que você estava falando da minha infancia também., pois era exatamente assim e qdo fui crescendo ainda pegava a aliança de minha mãe ou de minha avó ( em um sítio no Piauí ) e pendurava em um fio de cabelo sobre uma bacia com água, pra ver quantas vezes batia na beira da bacia ou copo e então eu sabia quantos anos faltavam pra eu me casar...rsrsrs. eita!! saudade grande... infância feliz e sem violência...bjs

lusinez disse...

Ôh Vaninha faz isso não... quase não consegui terminar de ler.
Que saudade daquele tempo... e hoje tudo ficou na nossa memória, mas que bom que temos coisas muito boas pra recordar.
Espero que um dia os meus filhos, suas filhas e meus netos possam lembrar dos nossos araiá com carinho assim com nós lembramos daquele tempo.
Xero!

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