Olhou pelo vidro da janela a neve que se acumulara durante toda a noite e pensou o quanto deveria ser significante aquela paisagem para alguém que vinha dos trópicos.
Não ela. Desde cedo compreendera que odiava aquele clima gélido e desconfortante, belo nas fotos, mas inconveniente para quem é obrigado a conviver com ele. Caminhou pelo quarto toda enrolada no edredom, sobre várias camadas de moletons e meias, em direção à cozinha para providenciar um chocolate quente ou um café. Algo que ajudasse a aquecer, ao menos por dentro.
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De volta ao quarto, trazendo duas canecas esfumaçantes, parou um instante para contemplar a própria sorte o que para ela traduzia-se basicamente naquele homem deitado sobre os travesseiros, dormindo sossegadamente denunciando o domingo, dia sem obrigações nenhuma, a não ser a de relaxar e ser feliz. Resolveu deixar o café pra depois e entregou-se a cumplicidade daquele descanso.
Com os olhos fechados, sem sono, apenas preguiça, a mente trabalhava em descompasso com o corpo. Permaneceu durante algum tempo na mesma posição na cama, pressentia que ao ceder a vontade de se virar, todo o encanto se quebraria.
Pouco a pouco foi se entregando a razão e compreendendo que de nada adiantaria permanecer assim imóvel o sol lá fora já se tornara forte demais para continuar fingindo.
Aproveitou para denunciar a si mesma todas as mentiras que se havia contado: - Conhecer um país que nevasse era um sonho que sabia nunca teria condições de realizar. - Assim, foi mais fácil se convencer do quanto não iria gostar da neve. - Acordar com alguém era um sonho do qual já havia desistido. - Bem mais fácil pareceu aceitar a tese de que é possível se bastar sozinha e ser feliz.
Enxugou as lagrimas, levantou-se e foi procurar qualquer coisa que lhe ocupasse a mente para esquecer a farsa que se tornara a sua vida.
Um comentário:
Oi Ivana!
Que peso ter de viver uma vida indesejada! Será que é viver?!
Beijo e um lindo dia!
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