Depois
dos cinqüenta a gente começa a acreditar que a velhice também chega para nós, ela não é uma condição
exclusiva dos outros. A ficha começa a cair.
As rugas, os cabelos brancos, a carne
flácida... Tudo está ali amostra, no espelho, nas fotos... para não deixar dúvidas. Está acontecendo
mesmo com a gente.
A reflexão
chega depois que a gente passa dos cinqüenta anos. Antes, não havia nenhuma
necessidade de se pensar sobre isso.
Lembro-me que eu, quando criança, como
qualquer uma, acredito, encarava as pessoas velhas com a obviedade de que elas sempre foram assim, naturalmente. Não havia a menor hipótese em enxergá-las como
alguém que percorrera um caminho semelhante ao que eu fazia agora.
Confesso
que quando eu comecei a ouvir alguém se referindo a mim como “essa senhora”, “minha
tia”, “a coroa”... esses tratamentos que os jovens utilizam para se reportarem
as pessoas que já não fazem parte da sua fase, me soou estranho, quase
inaceitável.
A
impressão que eu tenho é que certas pessoas envelhecem naturalmente, ou seja, o
espírito também vai amadurecendo e envelhecendo em conformidade com o corpo.
Penso que para estas, o processo seja menos dolorido.
Ao
refletir sobre essas coisas de velhice, eu sempre me recordo do meu pai.
Lembro-me de uma coisa que ele repetia: - Eu nunca irei ficar velho. Fiz um
pacto com o demônio – dizia ele – e nunca vou envelhecer.
Aquilo me parecia insano. Como alguém, ainda
mais na condição de pai e de avô, já, negar que estava envelhecendo? Só hoje
entendo o meu pai, nesse sentimento louco de não se admitir sujeito às
condições do tempo. Morreu aos cinqüenta e cinco anos. Eu as vezes penso que
ele optou por isso ao se entregar a bebida.
Quanto
a mim, não consigo eu mesma me identificar se sou daquelas que aceita
naturalmente ou daquelas que relutam em permanecer jovem. Há momentos em que
sou uma e momentos em que sou a outra.
Uma
coisa é certa, o meu espírito envelhece bem mais lentamente do que o meu corpo.
Por isso, as vezes ignoro os espelhos, os conselhos... e faço o que me dá na
telha.
Quando
o corpo empacar de vez, eu espero deitar em uma rede e, balançando, lembrar
maliciosamente: - Aproveitei o máximo que pude!
4 comentários:
Show!!!
Juliano, obrigada pela visita.
Fiquei tão feliz em ver que você gostou do texto.
Juliano, obrigada pela visita.
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