domingo, 12 de julho de 2015

QUANDO A GENTE FICA "COROA"



Depois dos cinqüenta a gente começa a acreditar que a velhice  também chega para nós, ela não é uma condição exclusiva dos outros. A ficha começa a cair.

 As rugas, os cabelos brancos, a carne flácida... Tudo está ali amostra, no espelho, nas fotos...  para não deixar dúvidas. Está acontecendo mesmo com a gente. 

A reflexão chega depois que a gente passa dos cinqüenta anos. Antes, não havia nenhuma necessidade de se pensar sobre isso. 

 Lembro-me que eu, quando criança, como qualquer uma, acredito, encarava as pessoas velhas com a obviedade  de que elas sempre foram assim, naturalmente.  Não havia a menor hipótese em enxergá-las como alguém que percorrera um caminho semelhante ao que eu fazia agora.

Confesso que quando eu comecei a ouvir alguém se referindo a mim como “essa senhora”, “minha tia”, “a coroa”... esses tratamentos que os jovens utilizam para se reportarem as pessoas que já não fazem parte da sua fase, me soou estranho, quase inaceitável.

A impressão que eu tenho é que certas pessoas envelhecem naturalmente, ou seja, o espírito também vai amadurecendo e envelhecendo em conformidade com o corpo. Penso que para estas, o processo seja menos dolorido. 

Ao refletir sobre essas coisas de velhice, eu sempre me recordo do meu pai. Lembro-me de uma coisa que ele repetia: - Eu nunca irei ficar velho. Fiz um pacto com o demônio – dizia ele – e nunca vou envelhecer.

 Aquilo me parecia insano. Como alguém, ainda mais na condição de pai e de avô, já, negar que estava envelhecendo? Só hoje entendo o meu pai, nesse sentimento louco de não se admitir sujeito às condições do tempo. Morreu aos cinqüenta e cinco anos. Eu as vezes penso que ele optou por isso ao se entregar a bebida.

Quanto a mim, não consigo eu mesma me identificar se sou daquelas que aceita naturalmente ou daquelas que relutam em permanecer jovem. Há momentos em que sou uma e momentos em que sou a outra.

Uma coisa é certa, o meu espírito envelhece bem mais lentamente do que o meu corpo. Por isso, as vezes ignoro os espelhos, os conselhos... e faço o que me dá na telha. 

Quando o corpo empacar de vez, eu espero deitar em uma rede e, balançando, lembrar maliciosamente: - Aproveitei o máximo que pude!  

4 comentários:

Juliano Carvalho Bueno disse...

Show!!!

Ivana Lucena disse...

Juliano, obrigada pela visita.
Fiquei tão feliz em ver que você gostou do texto.

Ivana Lucena disse...

Juliano, obrigada pela visita.
Fiquei tão feliz em ver que você gostou do texto.

Ivana Lucena disse...

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