domingo, 22 de julho de 2012

ABANDONO SOCIAL- EXIGE UMA POLÍTICA URGENTE PARA SOLUCIONÁ-LO


Ontem à noite, voltando para casa de carro com as minhas duas filhas mais novas e passando pelo cruzamento da avenida Bernardo Vieira com a Jaguararí,, nos deparamos com um desses meninos que pedem dinheiro nos sinais.

Isso era por volta das seis horas da noite, mas, estranhamente havia poucos deles neste sinal, aliás, somente ele. O comportamento do jovem, de aparência débil, me chamou atenção. Pareceu-me alguém com um tipo de deficiência mental. O que não é nenhuma estranheza em se encontrar nesse tipo pessoa que vive sob tais condições. Como não tinha nenhuma moeda no momento, eu lhes dei um pacote de biscoitos recheados que as minhas filhas traziam dentro do carro para o caso de sentirem fome pelo caminho.

A minha atitude deu início um debate polêmico dentro do carro sobre ser certo ou errado dar dinheiro a essas pessoas que pedem nos sinais.

Uma das filhas, de dezenove anos, que há pouco tempo teve o seu celular roubado em uma parada de ônibus e ainda encontra-se bastante revoltada por isso, defende que a maioria desses jovens se acomoda com esse dinheiro que damos e passam a vida inteira sem procurar trabalho. Argumenta que a maioria deles não “são esses coitadinhos que a gente pensa”, que basta deixar alguma bolsa ou um objeto de valor fácil e eles não terão o menor escrúpulo em roubá-lo ou ainda em nos fazer um mal para conseguir isso. Por isso, afirma ser extremamente contra darmos dinheiro a eles nos sinais, concluindo ainda que esse dinheiro servirá unicamente para a compra de drogas.

A filha mais nova, de dezessete anos apresenta um argumento contrário ao da sua irmã. Segundo ela, ninguém tem condições de julgar a todos os jovens e crianças que pedem nos sinais, de maneira generalizada. Alguns deles, afirma, certamente não tem outra opção na vida. Ela levanta uma tese de que se qualquer um deles tivessem recebido a educação devida, a atenção e o carinho da família, certamente não estaria ali nessas condições. Alguma dessas coisas deve ter lhes faltado, senão todas, afirma.

Penso que, ambos os argumentos, embora aparentemente convergentes, tornam-se complementares para traçarmos o perfil das pessoas que vivem nas ruas, pedindo dinheiro e até roubando.

Não podemos, realmente, ter sempre a postura ingênua de acreditar que só pelo fato de estarem naquela condição de “abandono social”, trata-se de “coitadinhos”, cujas condições lhes tornaram “almas humildes”, capazes de gratidão e reconhecimento pela ajuda que recebem de nós.

Também, ao contrário, embora reconhecendo que são pessoas criadas sem educação para a ética e para o reconhecimento da solidariedade, mesmo assim, isso não as redime da condição de necessitarem de ajuda.

Sem dúvida alguma, a ajuda de que necessitam efetivamente seria a de ter-lhes devolvido o direito de ter um lar, de estudar e de um emprego... Todavia, a ajuda que carecem no momento é imediata. Seja para saciar a sua fome ou o vício em drogas, que a maioria adquire. Porém, devemos ter a clareza de que a fome e o vício em drogas serão saciados de alguma forma e eles não podem esperar pelos programas sociais de resultados à longo prazo.

Ou seja, não é o fato de nos negarmos a dar-lhes dinheiro que irá tirá-los da rua.  

O erro está em considerarmos ter cumprido o nosso dever social apenas assumindo a posição de ajudar ou deixar de ajudar essas crianças e esses jovens que perambulam pelas ruas.

A nossa dívida social está longe disso. Ela vai muito além de discutirmos confortavelmente dentro do nosso carro, no aconchego dos nossos lares, nas escolas ou no nosso merecido trabalho, se é certo ou errado dar dinheiro aos pedintes nas ruas.

Em um período como esse, de campanha política, o momento é propício para exercitarmos um grande dever social: escolher representantes políticos que apresentem projetos vislumbrando resolver problemas como esse.

Muito embora, a ninguém compete conhecer verdadeiramente ás intenções de um candidato, é possível reconhecer um bom projeto quando constamos que este apresenta ações capazes de serem realizadas. A única pista confiável que temos para avaliar um candidato é a análise do seu histórico político. Devemos conhecer sobre a sua postura e os seus atos anteriores, realizados á serviço da sociedade.

Temos que ter em mente, ainda, que somente eleger o nosso represente político não põe fim no nosso compromisso social. Acompanhar a sua trajetória, unindo-nos aos grupos ou comunidades para cobrar os projetos prometidos na campanha é a continuação do nosso dever.

 Além disso, sabemos que existem muitas ações sociais  que independem de governos e  que é possível descobrirmos uma maneira de contribuirmos para acabar com toda essa desigualdade social que nos cerca.

Cada um a sua parte e todas as partes estarão unidas no resultado final.

terça-feira, 17 de julho de 2012

LIBERTANDO-SE DO VÍCIO


Vício. Muita gente não sabe ao certo o significado real dessa palavra. Algumas pessoas declaram, por exemplo, em tom de brincadeira – Ah, eu sou uma viciada em internet.  – ou em outra coisa que ela gosta muito e que julga satisfazer-se com seu uso mais do que deveria. Todavia, isso ainda está muito distante do que se caracteriza realmente ser uma pessoa viciada.

Ultimamente a palavra viciada está muito associada ao uso de drogas, por motivos bem óbvios que todos nós sabemos, mas, o ser humano pode tornar-se viciado em qualquer coisa, tipo: comida, bebida, jogo, comportamento, tarefa, sexo, entre outros e, principalmente, drogas.

O vício não se inicia como tal. Na verdade, ele se instala de maneira sorrateira. Ou seja, no princípio, e até durante muito tempo, é comum a ilusão de que se tem o domínio sobre aquela determinada coisa. A autoafirmação de que se está viciado vem muito depois da constatação feita pelas outras pessoas ao redor.

Ser viciado quer dizer: perder o controle sobre si mesmo.

Uma americana que perdeu setenta e seis quilos, segundo ela, sem o recurso de remédio ou cirurgia, apenas através da “reeducação alimentar e exercícios físicos”, relata em entrevista que continua frequentando festas mas resiste em comer “o primeiro docinho”.  A mulher afirma que de acordo com as suas experiências frustradas para emagrecer, chegou a conclusão de que se ela permitir-se comer “apenas um”, com certeza acaba perdendo o controle e comerá compulsivamente vários.

Todos nós sabemos que o principal lema do Grupo do AA (Alcóolicos Anônimos) é “Evite o primeiro gole”.

Essa é uma regra que vale para todo o tipo de vício. Não é nada fácil mantê-la, mas sem ela é impossível combater o vício. Não se consegue dominar um vício fazendo uso de poucas dosagens. Isso é mera ilusão. Aceitar essa condição já é meio caminho andado para a vitória. Daí em diante é se abastecer de coragem e perseverar.

Quando se retira da vida algo em que se viciara, logicamente, de uma forma ou de outra, abriu-se mão de um prazer, de uma coisa que preenchia parte da pessoa e que, apesar das consequências, tinha uma justificativa para existir. Portanto, é necessário que alguma recompensa seja posta em seu lugar.

Libertar-se de um vício é uma atitude bem mais emocional do que racional. Por isso, as vantagens que são obvias para os observadores tem outra conotação para quem está envolvido.  Esse dilema interior é um grande causador de sofrimento, pois ao raciocinar sobre o que está fazendo o viciado enxerga de uma forma alterada a própria fraqueza.

Dizer que o apoio da família é crucial para o tratamento é tão obvio quanto lembrar que esta é a parte mais afetada em toda a história. Assim, tão forte quanto o amor que empurra para o apoio, a compreensão e a parceria, encontra-se a mágoa, o rancor, o cansaço e a descrença. Não é errado dizer que todos estão doentes e todos precisam ser tratados de acordo com a forma em foram afetados.

Felizmente existem muitas instituições para ajudar a pessoas que se encontram nessas condições. Muitas delas criadas justamente por quem já enfrentou esses sofrimentos.

Devo esclarecer também que  as instituições e  os órgãos que tratam sobre esse assunto preferem utilizar o termo “dependência”. Eu estou chamando aqui de vício como uma provocação para refletirmos mais profundamente a situação.
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