Antes de postar no Blog, ou até de começar a escrever algumas coisas que acontecem comigo, me vem sempre o receio de parecer pretenciosa ou de querer me enaltecer com os atos. Todavia, a vontade de contar o que experimento é muito forte e não me contenho, acabo socializando para os meus amigos e leitores. As experiências que tenho publicado, relacionadas à solidariedade tem sido sempre com o intuito de anunciar às pessoas de que qualquer uma no meu lugar poderia fazer o mesmo e, felizmente, alguns fazem.
Pois bem, tudo isso que falei, todo esse “arrodeio”, como diz o povo por aqui, foi simplesmente para justificar a experiência que irei contar agora.
Embora, confesso, que em muitos momentos da minha vida eu tenha duvidado da existência de Deus ou de qualquer realidade pós morte, ao mesmo tempo tenho experimentado situações que atingem uma parte de mim que vai muito além do racional. Sim, claro, somos emocionais, mas exatamente essa condição que me dificulta crer na ausência total de uma razão para eu existir.
Vamos ao caso. Eu estava vindo nesse domingo de carnaval, por volta das duas horas da tarde, por ali, cortando as ruas de candelária no sentido da Cidade da Esperança para o Centro Administativo. Os vidros do meu carro não estavam totalmente abaixados, devido aos cuidados que sempre tenho com medo de roubos, assaltos, essas coisas. As ruas estavam bastante desertas devido o carnaval e, embora estivesse com o som ligado em “Chiclete com Banana”, eu estava também atenta para o meu redor.
Quando parei no semáforo novo que fica no cruzamento da rua do ginásio do DED e a av. Prudente de Morais, Por um instante me virei para a direita e vi um menino, com idade aparente de treze ou quatorze anos, subindo a ladeira com um skate na mão, olhei para ele que me fitou nos olhos. Desviei o olhar para a frente mas algo me incomodou, eu havia traduzido naqueles olhos alguma mensagem de pedido de ajuda que eu não tinha entendido direito, se não houvesse me enganado também.
Olhei novamente, o mesmo olhar, ainda subindo a ladeira e dessa vez já quase passando por trás do meu carro para seguir o seu caminho. - Eu iria perdê-lo - pensei - Se acaso estiver precisando de ajuda?
Nesses momentos (é isso o que eu quero transmitir) eu nunca penso em deixar pra lá, nunca penso que outra pessoa pode ajudar ou que pode não ser nada. Eu penso, se não for nada, melhor ainda, mas se for eu estou ali para ajudar.
Então, botei a cabeça para fora do carro e perguntei: - Meu filho, aconteceu alguma coisa? – Ele voltou um passo atrás e visivelmente controlando o choro, me fitando, quase sem conseguir falar, soltou – Levaram o meu celular.
Entendi no mesmo instante o que aconteceu e disse-lhe, buscando um tom de voz que transmitisse confiança, o que ele buscou também encontrar o tempo inteiro em meu olhar – Entre aqui que eu vou lhe deixar em casa.
No caminho, que foi bastante curto, procurei conversar para entender direito o que havia acontecido, tentando acalmá-lo e deixando-o a vontade, sem bombardeá-lo de perguntas. Perguntei como foi que aconteceu e ele, com aquele “choro preso” falou que um rapaz puxou a faca para ele e mandou que “passasse” o celular. Não tinha mais ninguém por perto, ele me disse e certifiquei-me também de que ele não tinha sido machucado fisicamente. Porque emocionalmente eu estava vendo o que o bandido provocou nele. Busquei convencê-lo de que essas coisas, infelizmente, acontecem todos os dias (quase me vi informando que era uma coisa normal). Tentei fazer com que compreendesse “a sorte que teve” por não sair ferido, por ter perdido apenas o celular...
Chegamos finalmente em sua casa, desci do carro junto com ele e fiquei diante da porta, ao seu lado, esperando enquanto a mãe ou a avó, por quem ele chamava viesse atender. Veio a avó, uma senhora aparentando ser apenas um pouco mais velha que eu e que me pareceu bastante familiar.
Deixei que ele respondesse a sua pergunta – O que aconteceu? – Mas, vi que não iria conseguir, a voz já estava muito embargada pelo choro que segurava e quando chegou na palavra “faca” ele gaguejava tão fortemente que só conseguia pronunciar a primeira silaba repetidamente. Resolvi contar eu mesma e transmitir o controle que já estava estabelecido na situação, “o pior já havia passado”. Enquanto a minha conversa com a avó continuava e dessa vez já se encaminhava para o esclarecimento de que ela fora minha professora na faculdade, o menino, cujo nome nem sei, entrou para o refugio da sua casa, certamente para derramar toda a sua tristeza, revolta, mágoa, medo e sei lá mais quantos sentimentos ficam dentro de uma criança, um jovem ou de qualquer pessoa quando passa por uma situação de violência.
Quando parei no semáforo novo que fica no cruzamento da rua do ginásio do DED e a av. Prudente de Morais, Por um instante me virei para a direita e vi um menino, com idade aparente de treze ou quatorze anos, subindo a ladeira com um skate na mão, olhei para ele que me fitou nos olhos. Desviei o olhar para a frente mas algo me incomodou, eu havia traduzido naqueles olhos alguma mensagem de pedido de ajuda que eu não tinha entendido direito, se não houvesse me enganado também.
Olhei novamente, o mesmo olhar, ainda subindo a ladeira e dessa vez já quase passando por trás do meu carro para seguir o seu caminho. - Eu iria perdê-lo - pensei - Se acaso estiver precisando de ajuda?
Nesses momentos (é isso o que eu quero transmitir) eu nunca penso em deixar pra lá, nunca penso que outra pessoa pode ajudar ou que pode não ser nada. Eu penso, se não for nada, melhor ainda, mas se for eu estou ali para ajudar.
Então, botei a cabeça para fora do carro e perguntei: - Meu filho, aconteceu alguma coisa? – Ele voltou um passo atrás e visivelmente controlando o choro, me fitando, quase sem conseguir falar, soltou – Levaram o meu celular.
Entendi no mesmo instante o que aconteceu e disse-lhe, buscando um tom de voz que transmitisse confiança, o que ele buscou também encontrar o tempo inteiro em meu olhar – Entre aqui que eu vou lhe deixar em casa.
No caminho, que foi bastante curto, procurei conversar para entender direito o que havia acontecido, tentando acalmá-lo e deixando-o a vontade, sem bombardeá-lo de perguntas. Perguntei como foi que aconteceu e ele, com aquele “choro preso” falou que um rapaz puxou a faca para ele e mandou que “passasse” o celular. Não tinha mais ninguém por perto, ele me disse e certifiquei-me também de que ele não tinha sido machucado fisicamente. Porque emocionalmente eu estava vendo o que o bandido provocou nele. Busquei convencê-lo de que essas coisas, infelizmente, acontecem todos os dias (quase me vi informando que era uma coisa normal). Tentei fazer com que compreendesse “a sorte que teve” por não sair ferido, por ter perdido apenas o celular...
Chegamos finalmente em sua casa, desci do carro junto com ele e fiquei diante da porta, ao seu lado, esperando enquanto a mãe ou a avó, por quem ele chamava viesse atender. Veio a avó, uma senhora aparentando ser apenas um pouco mais velha que eu e que me pareceu bastante familiar.
Deixei que ele respondesse a sua pergunta – O que aconteceu? – Mas, vi que não iria conseguir, a voz já estava muito embargada pelo choro que segurava e quando chegou na palavra “faca” ele gaguejava tão fortemente que só conseguia pronunciar a primeira silaba repetidamente. Resolvi contar eu mesma e transmitir o controle que já estava estabelecido na situação, “o pior já havia passado”. Enquanto a minha conversa com a avó continuava e dessa vez já se encaminhava para o esclarecimento de que ela fora minha professora na faculdade, o menino, cujo nome nem sei, entrou para o refugio da sua casa, certamente para derramar toda a sua tristeza, revolta, mágoa, medo e sei lá mais quantos sentimentos ficam dentro de uma criança, um jovem ou de qualquer pessoa quando passa por uma situação de violência.
Seguindo o meu caminho para casa, eu também soltei o choro que estava preso em mim, precisava ser grata a alguém que não fosse eu mesma pela oportunidade de servir. Eu sinto que essa necessidade de gratidão não é apenas uma coisa cultural, ensinada pelos que me educaram, é algo que vem de dentro de mim, que não me faz sentir diminuída ou sem discernimento para compreender as minhas qualidades éticas de solidariedade, mas soa como um alarme que anuncia algo muito mais forte a ponto de me deixar abalada e extasiada numa alegria me reconhecer como um instrumento de paz que certamente não me faz diferente de ninguém, mas poucos de nós estão atentos para “olhar novamente”, antes de seguir em frente em certos momentos.
Referencia da imagem http://i.olhares.com/data/big/46/461197.jpg
7 comentários:
Amiga, tu és um espírito bom que veio a este mundo para fazer o bem. Quase todos nós viemos com essa missão, entretanto, os vícios da terra, acabam intervindo dentro de nós e poucos conseguem pôr em prática o compromisso assumido lá no mundo espiritual, antes da reencarnação.
Um abração. Tenhas um ótimo feriadão.
Olá,
passei para conhecer o seu blog,
adorei aqui.
beijos
" Nunca deixes de fazer o bem que podes fazer" dizia-me sempre um padre jesuíta meu amigo que, já está no céu.
Aqui está neste relato, o pleno sentido de amor aos outros e a tua consciência de serviço, de solidariedade e de realização.
Partilhando-te, fizeste comunhão com o pequeno sofredor.
Sozinho, ninguém é completo!!Beijo carinhoso para ti.
Graça
Ivana voce é um instrumento nas mãos de Deus.Muito poucas Que pessoas têm essA VIRTUDE . Muito lindo o seu gesto de caridade com esse menino sofrido. Que Deus te recompense sempre. Parabens pelo lindo ato.
Gostei muito deste relato, Ivana. Tocou-me ainda essa sensibilidade para "detectar" pequenos sinais, que mais não é, no fundo, que a receptividade para a elevação das coisas da vida.
Fez bem em publicar, fez-me bem ler.
Beijo :)
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