quinta-feira, 23 de junho de 2011

SAUDADES DE SÃO JOÃO


Sabe o que mais gosto da festa de São João?

Das recordações que ela me traz.

Eu embaixo dos pés de mangas juntando os pedaços de paus com a minha irmã e meu avô para fazer as fogueiras. Eram duas no terreiro em frente à casa - coisas do meu avô - a grande, feita por ele, e a pequena feita com os gravetos que nós duas conseguíamos carregar.
 
Na cozinha, vovó mexendo canjica com a colher de pau e a panela de barro no fogão a lenha. Depois, como uma artesã, ela preparava os saquinhos e enchia com aquele outro caldo mais grosso de milho que se transformava em pamonhas.

Não tinha festa, nem nada. Aliás, tinha sim, nós duas erámos a festa dos nossos avós. E eles, a nossa.

Quando a noite caía, chegava o momento tão esperado de acender as fogueiras. O céu, uma escuridão só, ficava todo picadinho de estrelas, que nem o São João das letras das músicas de forró. A gente ficava ali sentada se esquentando perto do fogo, assistindo as faíscas subirem em direção das estrelas e esperando a madeira virar brasa para assar as espigas de milho. 

Nem dava tempo da fogueira acabar, o sono já vinha e a gente caminhava para dentro da casa seguindo o caminho guiado pela lamparina na mão da minha avó. E a gente adormecia ouvindo o estralar das labaredas da fogueira lá fora e vendo o alaranjado da sua luz entrando pelas brechas das janelas.

Hoje o céu está mais escuro, as estrelas perderam a sua força para as lâmpadas da cidade. Mas as poucas fogueiras que ainda existem, o cheirinho que a sua fumaça deixa nas roupas, as comidas de milho..., essas coisas trazem de volta a minha infância e eternizam os meus avós em mim.

domingo, 19 de junho de 2011

O HOMEM – ESSE SER INCONFORMADO


Tem um ditado que diz: – A única certeza da vida é a morte. - Penso: - Se morrer é tão certo como estarmos vivos, porque será que é tão difícil aceitar a morte?

A resposta pode estar no medo do desconhecido, quando pensamos na nossa própria morte. Mas, e quando não nos conformamos, por exemplo, com a morte de alguém que já ultrapassou um século de vida e esse fato torna-se, evidentemente, mais esperado? Pode ser a dor antecipada da saudade, talvez. Ou, simplesmente o fato de que não aceitamos de forma alguma a condição de morrer um dia.

Na verdade, muita gente vive como se isso nunca fosse acontecer. Sabemos as consequências disso.

Dizem que quando o homem foi criado, antes do pecado original, era um projeto para ser eterno e perfeito. Daí o motivo para a não aceitação da morte e a resposta para a capacidade de estar sempre em evolução.

Já reparou que gente nunca está totalmente satisfeito com as coisas ou com as pessoas? Talvez a tal essência humana de eterno e perfeito, provoque esse sentimento de inconformismo.

A casa nunca está totalmente limpa ou arrumada; o nosso corpo, cabelo nunca é do jeito que desejamos; o que se escreve, o que se faz, o que se fala, nunca está bom o suficiente; o marido, o emprego... é tudo tão cheio de defeitos.

Por um lado, é bom sentirmos assim, serve-nos de propulsor para o nosso crescimento. Para o que fazemos, buscamos sempre o aperfeiçoamento e com relação ao outro, procuramos sempre melhores companhias, pessoas que colaborem com a nossa evolução.

Não está conformado, por outro lado, pode se tornar negativo ao associar-se a um sentimento de desvalorização das nossas conquistas e condições.

Já observou que muitas vezes precisamos conhecer outras pessoas menos favorecidas para compreender o valor do que temos? Quando encontramos, por exemplo, uma pessoa cega, descobrimos o quanto somos privilegiados por enxergar. Alguém que não tem onde morar faz-nos compreender a sorte que temos em possuir um teto para nos abrigar, e coisas assim.

 Esse é um mais um estágio que devemos empenhar as nossas forças para superar. Podemos ser gratos pelo que temos apenas olhando para as nossas dádivas. A dor e a carência alheia deve ser referência apenas para o empenho em contribuir em ajudar.

O nosso inconformismo deve se manifestar, essencialmente, se por acaso tivermos de sobra coisas que faltam a alguém. Aí, sim! E só valerá a pena se o sentimento for transformado em ação.



quarta-feira, 15 de junho de 2011

A FARSA


Olhou pelo vidro da janela a neve que se acumulara durante toda a noite e pensou o quanto deveria ser significante aquela paisagem para alguém que vinha dos trópicos.
Não ela. Desde cedo compreendera que odiava aquele clima gélido e desconfortante, belo nas fotos, mas inconveniente para quem é obrigado a conviver com ele. Caminhou pelo quarto toda enrolada no edredom, sobre várias camadas de moletons e meias, em direção à cozinha para providenciar um chocolate quente ou um café. Algo que ajudasse a aquecer, ao menos por dentro.
http://www.imagensdeposito.com/
De volta ao quarto, trazendo duas canecas esfumaçantes, parou um instante para contemplar a própria sorte o que para ela traduzia-se basicamente naquele homem deitado sobre os travesseiros, dormindo sossegadamente denunciando o domingo, dia sem obrigações nenhuma, a não ser a de relaxar e ser feliz. Resolveu deixar o café pra depois e entregou-se a cumplicidade daquele descanso.
Com os olhos fechados, sem sono, apenas preguiça, a mente trabalhava em descompasso com o corpo. Permaneceu durante algum tempo na mesma posição na cama, pressentia que ao ceder a vontade de se virar, todo o encanto se quebraria.
Pouco a pouco foi se entregando a razão e compreendendo que de nada adiantaria permanecer assim imóvel o sol lá fora já se tornara forte demais para continuar fingindo.
Aproveitou para denunciar a si mesma todas as mentiras que se havia contado: -  Conhecer um país que nevasse era um sonho que sabia nunca teria condições de realizar. - Assim, foi mais fácil se convencer do quanto não iria gostar da neve.  - Acordar com alguém era um sonho do qual já havia desistido. - Bem mais fácil pareceu aceitar a tese de que é possível se bastar sozinha e ser feliz.
Enxugou as lagrimas, levantou-se e foi procurar qualquer coisa que lhe ocupasse a mente para esquecer a farsa que se tornara a sua vida.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

HOMOSSEXUALISMO - DIFERENÇA ENTRE EDUCAR E FAZER APOLOGIA


Em nome de uma educação contra a homofobia (aversão aos homossexuais) tem-se criado mais polêmicas do que ações verdadeiramente educativas.
Acredito que o vídeo abaixo é realmente um material esclarecedor e não uma apologia ao homossexualismo como temos assistido ultimamente nas mídias.
Vale a pena conferir.

sábado, 4 de junho de 2011

CUIDAR DE UM DEPENDENTE QUÍMICO – UM DESAFIO QUE EXIGE SABEDORIA

A família que convive com alguém que se tornou um dependente químico, involuntariamente, adoece junto com esta pessoa. Precisará de muita força, muita firmeza.

 Conversar com pessoas que passam pelo mesmo problema ajuda. Geralmente o dependente é uma pessoa carismática e manipuladora. Se quisermos ajuda-lo é preciso manter certa distância para não perdermos o foco das coisas.

Nada é fácil e também não há receitas infalíveis. Há tentativas e experimentos que variam de pessoa para pessoa. Apenas uma regra serve para todo mundo, não permita ser arrastado para o fundo do poço também, desta forma jamais poderá ajudá-lo. Antes de se preocupar com a saúde e o bem estar do outro você tem que garantir o seu. Isso não é egoísmo, pelo contrário. O mandamento é "amar o próximo como a ti mesmo", lembra?

 Certa vez ouvi uma alegoria que descreve bem o que significa querer ajudar alguém sem ter condições para isso. Você sabia que o pescador de caranguejo nunca coloca um caranguejo sozinho dentro do balde? Ele espera pegar outro e aí sim, coloca os dois lá dentro para começar a pescaria. Sabe por quê? Um caranguejo sozinho é capaz de sair sem dificuldades escalando o balde. Já os dois, lá dentro, é praticamente impossível de conseguir, isso por que a cada vez em que um tenta subir o outro o puxa para baixo.

A dependência, seja ela qual for, é antes de tudo uma fraqueza do espírito. Isso é uma verdade.

A cura para tal vem, principalmente, da força de vontade e, geralmente, esse estágio só chega quando o estrago está grande. Enquanto enxergar possibilidades de conviver com o vicio, mesmo percebendo o sofrimento que vem causando a si e aos outros, ainda é possível se iludir e adiar o esforço para mudar. A consciência de aceitar ser ajudado se dá no momento em que não enxerga mais outra saída. Ou é isso, ou ficará sozinho, por exemplo. Ou então, é isso ou morre, razões desse tipo, radicais.

A motivação para sair dessa vida também é importante. A partir do momento em que a pessoa aceitou ser ajudada ela precisa enxergar as vantagens que terá se continuar firme na sua decisão. Proporcionar o bem estar e a paz na família; a possibilidade de arranjar um trabalho; de voltar a estudar, são exemplos de projetos que auxiliam no processo de desejar continuar em frente com a decisão.

O maior problema é, trata-se de uma doença que requer tratamento para toda a vida. Há qualquer momento pode haver uma recaída, um retorno ao sofrimento e, com sorte um novo recomeço no tratamento. Estes são os momentos mais difíceis. A credibilidade da família e até a credibilidade do doente em si próprio já está totalmente abalada.

O lema é: - Compreender? Sempre. – Aceitar? Nunca.

Assim, buscar conhecimento a respeito de tudo o que envolve a doença é a grande arma para quem está nas condições de ajudante. Buscar fortalecer-se espiritualmente, também.

Jamais deveremos pretender ser melhor que Deus. O que quero dizer com isso é o seguinte: Se observarmos a vida  de todos nós, estamos sempre arcando com as consequências das nossas escolhas, estamos passíveis ás reações causadas pelas nossas ações. Ou seja, Deus não passa a mão na cabeça de ninguém. Não são assim os seus ensinamentos. Se buscamos sofrimentos, temos que conviver com eles até o dia em que decidirmos tomar outro caminho.

Outra lição que aprendemos é: Ninguém muda ninguém. Você só pode mudar a si mesmo e esperar que através da sua mudança a outra pessoa se motive a construir a sua própria.

A coisa, talvez, mais difícil de lidar seja a insegurança de saber quando ceder e quando negar. Para ceder é preciso avaliar antes se a pessoa fez por merecer ou, pelo menos, se assume algum compromisso em ceder em algo também. É sempre uma negociação ou uma recompensa. Do contrário, sem merecimento ou sem assumir e respeitar compromissos, o mais apropriado é que seja negado.

O que importa é deixar bem claro para o outro e para si que, enquanto houver respeito e confiança mutua, caminharão juntos. Falhando, não há nada que justifique permanecer  juntos. Cada um deverá cuidar de si. Não deve haver espaço para culpa ou para o ilusório papel de redentor do outro.


Devemos ter a vida que fizermos por merecer. Sem culpa e com total direito de ser feliz. Quem quiser que nos acompanhe ou fique para trás sozinho. A única coisa que podemos oferecer sem o risco de nos prendermos é a oração e o desejo profundo, transformado em energia positiva de que aquela pessoa encontre o seu caminho (sem atrapalhar o nosso).

Cuidar do outro exige a sabedoria de cuidar antes de si mesmo.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

COMO SE MEDE A FELICIDADE?


Adoro essas coincidências, eu estava justamente pensando sobre esse assunto e, de repente, assisto na tv um debate sobre o mesmo.

 Antes de apresentar a minha teoria sobre felicidade (creio que cada ser humano tem a sua), devo confessar que nunca havia pensado nela da forma como estava sendo exposta.

Se eu esclarecer que o tema felicidade estava sendo discutido por economistas, vocês podem bem tirar conclusões a respeito de que eles a relacionam. - É isso mesmo, para a economia a felicidade de uma pessoa está relacionada à sua satisfação traduzida no bem estar proporcionado pelo poder aquisitivo financeiro.

Segundo eles alguns governos até contratam economistas para calcular o nível de felicidade do seu povo. Este estudo está relacionado à Teoria Econômica da Felicidade. A teoria se baseia, praticamente, na análise de satisfação manifestada pela população por ter seus desejos realizados ou por experimentar bem estar e conforto.  

Como se trata de uma felicidade relacionada à área da economia, embora continue sendo uma questão subjetiva, é medida diretamente pelo índice de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), cálculo utilizado com o objetivo de avaliar a atividade econômica de uma região. Ou seja, se a região apresenta um índice econômico elevado, o povo dali é declarado feliz, do contrário, não há felicidade considerada.

Será mesmo possível medir-se dessa maneira a felicidade?

Já ouviu uma pessoa pobre considerar-se feliz? Se a sua resposta for positiva, as hipóteses para isso pode ser: Trata-se de uma pessoa iludida ou ignorante, ou seja, ela não entende nada de índice econômico e por isso acredita ser feliz. Podemos considerar também a hipótese de que a felicidade é um estado de espírito que pode não estar relacionada ao poder aquisitivo, mas, às sensações positivas experimentadas por tal pessoa.

A questão é: dificilmente alguém pode afirmar ser feliz não tendo saúde, passando fome, sem ter onde morar, sem estudos, sem progresso pessoal... Ou seja, sem uma infinidade de necessidades básicas que garantam uma sobrevivência digna, confortável e saudável.

Infelizmente sabemos que tudo isso, na nossa civilização tem um preço, um preço alto, diga-se de passagem, e é cobrado através de um papel chamado dinheiro. Daí a relação entre felicidade e poder aquisitivo.

Seria diferente se todo cidadão tivesse por direito, ao menos, o mínimo necessário para atender as suas carências obvias para viver dignamente. Mas não tem, sabemos disso. Embora, geralmente, pague por esse direito através de altos impostos que lhes são cobrados desde a hora que nasce.

A minha teoria de felicidade concorda em parte com essa necessidade em se ter supridas as carências e o bem estar, mas acredito que ela se completa apenas quando você se propõe ao papel de ajudar ao seu semelhante.

Aliás, eu não vejo outro motivo maior do que este para se haver nascido, que não seja o de servir aos outros.

Não posso conceber uma felicidade completa de um enquanto outros estão a mercê de um sofrimento involuntário. Essa sim me parece uma felicidade ilusória.

Se a minha teoria parece utópica é porque a pessoa que a avalia desta forma ainda não foi capaz de refletir sobre o motivo de existirmos nesse planeta  que mais parece uma poeirinha cósmica, vagando na imensidão do universo. Todo escavacado e rateado entre os mais sabidos. Estes, mesmo ajuntando o maior montante de riqueza que for capaz de conseguir, de nada lhe será útil quando a morte chegar e tudo ficará para trás como se nunca houvera existido.

Analisando a soberba de alguns, às vezes chego a achar ridículas as pessoas sentindo-se importantes por estar no interior de uma lataria luxuosa que foi inventada unicamente para suprir a nossa deficiência humana de locomoção. Sim, por que se fôssemos mesmo os “fodões”, perdoem-me o palavrão, não nos arrastaríamos pelo solo, flutuaríamos independentes de parafernálias.

Para mim a felicidade é pessoal e relativa. Penso que a felicidade pode ser bem medida pelo caráter da pessoa. As de maus caráteres são naturalmente egoístas e sua felicidade se relaciona, unicamente, com o TER. As que têm bom caráter associam a sua felicidade, principalmente com o SER.


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