quinta-feira, 28 de abril de 2011

ENQUANTO O LIMITE NÃO CHEGA


De frente para o portão do condomínio, ainda discutia consigo mesma sobre a razão de voltar ali, mais uma vez. Tentava convencer-se de que a situação era diferente, afinal, a ligação que recebera ontem a noite deixava claro que ele não estava bem e, “só por isso”, ela tomou a decisão de vê-lo.
Abaixou o vidro do carro para identificar-se na portaria. O olhar que o porteiro lançou parecia acusa-la de ser incapaz de manter a palavra.
– No mínimo ele deduz que se eu demorei a vir aqui é porque teria tomado vergonha na cara, de uma vez por todas e não voltaria mais. – pensava isso, enquanto a razão lhe chamava de volta – Que bobagem, o que saberia este pobre porteiro do papel de besta que venho desempenhando há quase um terço da minha vida? – Ainda poderia dar a volta no carro e ir embora. – Mas aí  sim... - pensou, novamente – chamaria a atenção do porteiro e de todos ali. Isso poderia recobrar a lembrança deles sobre aquela noite infeliz em que mais uma vez a promessa de um encontro cheio de alegrias e amor, transformou-se, sem “quê-nem-mais” em uma praça de guerra.
Apesar de todo o esforço para convencer-se do contrário, aquela ida ao seu apartamento, às sete da manhã, parecia em tudo com a rotina que tinha se estabelecido desde que ele havia sido demitido do emprego.
Tinha momentos em que perdendo a paciência jogava-lhe na cara o quanto “sem futuro” ele havia se tornado e em outros deixava-se levar pelo lado “samaritano” de tentar ser mais compreensiva e dar-lhes outra chance.
Aliás, outras chances, pois essa coisa de que - além dela, não havia mais ninguém no mundo capaz de compreendê-lo.-  foi fermentada em sua mente e durou por todos esses anos.
O que verdadeiramente ela tinha certeza era de que possuía um limite. Só não sabia ao certo em que tempo este chegaria. Muitos lhes afirmava que – Nunca!
Agora, parecia, enfim que o limite chegara. As suas chantagens e promessas ilusórias já não surtiam o tal resultado enfeitiçador e antes. Já não sofria tanto a sua ausência. Descobriu que era capaz de respirar sozinha.
            Mas, se assim fosse, o que significava estar ali novamente, atendendo a mais um chamado seu? – Essa era uma incógnita, já que se recusava a crer que haveria se enganado a respeito do seu limite. – Limite de tolerância. – Limite de amor próprio. – Limite de não deixar-se persuadir. – Limite de independência. – Limite de vergonha na cara...
Apanhou a chave embaixo do prato do vaso de plantas e introduziu-a na fechadura. Começou a deduzir tudo o que se passaria lá dentro. Já havia se preparado em casa para o encontro, a calcinha nova, a pele bem hidratada, depilada, perfumada... – Que loucura estou fazendo de novo? – pensava isso sem a menor força mais para resistir.
A bagunça do apartamento delatava que tudo realmente continuava como antes.
Caminhou até o quarto e lá estava aquele a quem por tanto tempo chamara de “seu homem”, deitado de bruços, com o lençol jogado sobre as pernas e as costas á mostra, de longe sentia o seu cheiro... a armadilha estava novamente armada.
“O lobo” virou-se para a sua presa e disse, em meio a um sorriso largo e irresistível – Tire essa roupa!
Enquanto se despia, ainda discutia consigo mesma, como se fosse capaz de encontrar um meio para não cair naquela cilada. A única constatação possível era – Não deveria ter vindo. – Mas... – Da próxima vez...!


sábado, 23 de abril de 2011

MUDANÇAS NO VISUAL


O meu novo “look” tem provocado muitos elogios.

Sorte minha que ficou bom, porque o que pouca gente ficou sabendo foi a resenha que ocorreu para eu chegar a esse visual tão elogiado.

Pois bem, vou contar.

Já tinha algum tempo que eu estava incomodada com o meu cabelo, ele havia crescido um bocado e estava sem um corte. Jogado para trás das orelhas, lembrava-me assim... Sabe aquele cara do interior, cabeludo, que faz o maior sucesso no “forró” quando chega com a sua bicicleta enfeitada? Era eu, no espelho.

Resolvi que ia dar um jeito nisso. E aí, cadê encontrar tempo para ir a um salão? Então apareceu uma oportunidade, depois do trabalho, no horário do almoço, não tinha que pegar nenhuma filha na escola naquele dia, resolvi aproveitar a chance.

Saí pelo bairro inteiro, próximo ao meu trabalho, procurando um salão de beleza que tivesse aberto. Qual o quê?! Comecei a achar que todos os cabelereiros do mundo tinham ido almoçar na mesma hora.

Já estava desistindo quando me lembrei de um amigo que tem uma avó cabelereira. Liguei para ele que me incentivou a ir lá na sua casa pois, segundo ele, havia visto há pouco tempo ela cortando o cabelo de alguém.

Arrisquei. Chegando lá, a avó cabelereira me atendeu com a maior gentileza. Lavou os meus cabelos e questionou a respeito do modelo do corte. (Pense em três coisas que eu tenho a maior dificuldade de escolher: peixe, carne e corte de cabelo).

 - Quero somente que a senhora dê um jeito no meu franjão. – Disse eu  imaginando sair com uma imagem bem próxima a de Ivete Zangalo. – Com a diferença apenas na altura. Por que isso, claro, era pedir demais à cabelereira.

Devo dizer que cadeira de cabelereira, para mim, é semelhante a de dentista, impossível de relaxar.

Confesso que achei muito estranho o modo como ela juntou quase todo o meu cabelo em um molho no alto da cabeça. Ainda consegui soltar um – É pra cortar só um pouquinho... – Tarde demais, a tesoura dela foi mais rápida!

Olhei para o espelho e vi na hora Xitãozinho e Xororó (no início da carreira).

Não teve como disfarçar. A coitada ficou arrasada com a cara que eu fiz. Desculpou-se como pode, justificou que eu não havia sido clara com o pedido do corte e negou-se a cobrar pelo serviço.


Saí de lá com os vidros do carro levantado e, como criança que faz uma arte, fui direto para a casa da minha mãe, pedir socorro.

Quando cheguei na casa dela, foi pior ainda, dei de cara com a sua cachorrinha poodle, com um corte de cabelo igualzinho ao meu.

Mamãe tentou me ajudar como pode. Não conseguindo me convencer de que “- Não ficou tão ruim, assim...”, ela catou lá por dentro do quarto uma xuxa para eu amarrar o cabelo e dois tic-tacs para prender os tufos que sobravam dos lados. Olhei no espelho e a coisa estava pior ainda.

Soltei os cabelos. Resolvi ser uma pessoa assumida, que não estava nem aí para a opinião dos outros quando mangassem de mim ao olhar para o meu cabelo ridículo.

Desisti. Entrei no primeiro salão de beleza que encontrei e, para minha sorte, encontrei uma cabelereira que depois de ouvir todo o meu drama resolveu que poderia dar um jeito.

Daí Here is my beautiful new look!!” …Ufa!!!! 
(o inglês é só para dar uma ideia mais chique do resultado) – Tomara que vocês aprovem!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

AS RECORDAÇÕES VÊM ASSIM... DE DIAS CHUVOSOS, AS VÊZES.


Hoje, o dia chuvoso fez-me recordar a minha infância lá no sítio dos meus avós. Dias assim sempre fazem isso. Os outros dias também (risos).


(Imagem do terreno que fica em frente a minha casa - Ele tem sido um bom auxílo para as minha recordações - Sorte a minha o tê-lo, numa cidade onde quase tudo já é de concreto.)


Lá, a chuva caía forte sobre as árvores que cercavam a casa. Coqueiros, mangueiras, jaqueiras, laranjeiras, goiabeiras..., ficavam todas com um verde lustrado pelas águas das chuvas.

A mim e a minha irmã restava apenas assistir a este espetáculo já que não podíamos estar correndo e brincando pelo sítio a fora como fazíamos sempre.

Mas, outro espetáculo nos aguardava. Quando a chuva diminuía um pouco a gente descia do alpendre da casa em direção aos coqueiros que formavam uma fila, seguindo uma ladeira. A gente levava barquinhos de papel e alguns bonequinhos minúsculos de plásticos, chamávamos esses bonequinhos de “cuzinho pra trás”, devido a sua posição rígida, sentada. (risos).

A brincadeira consistia em colocar os tais bonequinhos, “cuzinho pra trás”, dentro dos barquinhos e soltá-los correnteza abaixo, a partir do primeiro coqueiro, no topo da ladeira. Dependendo da força que a água ainda tinha, era preciso correr para acompanha-los, rodopiando ao redor dos coqueiros e descendo ladeira abaixo.

Aquele espetáculo dos pequenos redemoinhos, cachoeiras e correntezas, pareciam enormes na nossa imaginação e desafiadores para os barquinhos.

Certamente, a minha irmã ao ler isso aqui será também transportada no tempo (risos). A gente sempre conversa sobre essas coisas.

Dizem que depois de uma certa idade, vivemos de recordação. Se assim o for, temos combustível bastante para muitos anos de vida.

Porém, hoje eu digo que não acredito muito nessa premissa mais não. Percebo que agora os idosos vivem de boas recordações sim, os afortunados que as tem, mas também vivem, felizmente, do presente, de experiências novas que são aprendidas a cada dia.

Não poderia deixar aqui, de lembrar o exemplo glorioso da minha querida amiga, pessoal e de Blog, D. Águida, http://vovocibernetica.blogspot.com/,  que depois dos oitenta e três anos de idade descobriu a internet como possibilidade de sair de casa, de visitar os amigos e conhecer o resto do mundo.

Todavia, reafirmo o prazer de recordar, sempre, não importa a idade.

 Precisamos ter experiências gostosas, prazerosas para alimentar as nossas lembranças e confirmar que viver sempre valeu e vale a pena.

Vamos recordar os dias de chuvas? ...E os de sol? ...E os nublados? (risos).



domingo, 17 de abril de 2011

É POSSÍVEL TRANSFORMAR O MUNDO, TIÃO ROCHA PROVOU ISSO


Tião Rocha é um brasileiro, um EDUCADOR , na supremacia do valor que esta palavra pode expressar.

Tomei conhecimento a respeito dele no Blog http://educa-tube.blogspot.com , um canal excelente para pesquisas de vídeo exclusivos para a educação.

O trabalho que esse homem vem conseguindo realizar reascende em nós a certeza de que somos capazes de mudar o mundo.

Ele mudou o mundo. O mundo daquelas pessoas que vivem lá no interior de Minas Gerais. Se alguém duvida disso, é só pesquisar e só refletir como seria a vida delas se Tião Rocha não tivesse sido teimoso e acreditado no seu sonho.

Hoje a ONG que ele idealizou e mantém atende mais de 30 mil pessoas em espaços educativos localizados nos estados de MG, SP, BA e até fora do Brasil em países como Moçambique e Guiné Bissau.


Não há dúvidas de que nem tudo são flores, de quem nem tudo foi sucesso, foram glórias e acertos.

Mas há uma certeza plena a de que ele conseguiu provar que podemos fazer a diferença para a vida das pessoas se nos despirmos um pouco dos nossos próprios interesses pessoais.

Seja no plano da educação, da saúde, da espiritualidade, da assistência social, da assistência jurídica, da arte, ou seja lá qual for a nossa possibilidade de contribuir, é possível sim transformar vidas.

Basta acreditar no sonho e buscar pessoas para sonharem juntos. Foi o que Tião Rocha fez
mo dizia o nosso poeta Raul Seixas:
“Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade.”


Confira esse vídeo. Ele mostra bem direitinho o trabalho realizado pelo CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A ESCOLA ENSINA A ODIAR LITERATURA


Frequentemente ouço alguém queixar-se de que “os jovens de hoje em dia não gostam de ler ou de escrever”.

O certo é afirmar que eles não gostam de ler ou escrever o que, particularmente, é de nosso interesse ou de entendimento de que é relevante para eles.

(Imagem do site http://www.habbid.com.br )

Participo de algumas redes sociais na internet e, francamente, tenho percebido muito mais jovens se comunicando, trocando ideias do que adultos.

Não estou ignorando o fato de que esta é a praia deles de que sendo frutos da era tecnológica é  natural que assim o seja.

Também reconheço que, na maioria das vezes, os conteúdos das suas comunicações são fúteis, ou, melhor dizendo, são relativos as suas experiências juvenis, sem aprofundamento,  reflexão ou um conduto qualquer que extrapole os limites dos seus próprios entendimentos e idéias.

Por outro lado, refletindo sobre a afirmação acima, sinto uma tendência em revè-la quando recordo-me de quanto nos surpreendemos com eles pela capacidade de descobrir, inventar e  assimilar  as coisas que se renovam e se superam a cada dia nesse mundo da tecnologia digital.

De tudo, o que realmente ignoro ou lamento é observar que muitos adultos, alguns deles educadores e, portanto, formadores de opiniões, ou colaboradores delas, quase não se utilizam da internet para se comunicar.

Não estou me referindo aos adultos que não tem acesso a ela. Mas aqueles que se associam as redes sociais da internet e não se disponibilizam a interagir com ou outros através delas com a prioridade que deveria.

Ou, quando muito, o fazem como os jovens, sem aprofundamento, sem leituras, sem reflexões, ou seja, sem agregar maiores conhecimentos e possibilidades de evolução, apenas para “bater papo”.

Estes não tem o direito de falar dos jovens que não se esforçam para gostar de ler e aprofundar os seus conhecimentos.

Também as escolas, no geral, não têm sido, infelizmente, nenhum modelo de incentivo para os jovens adquirirem o gosto pela leitura.

Muito pelo contrário, e principalmente naquelas que oferecem ensino médio, o que se assiste são jovens sendo desestimulados a gostarem de Literatura, através de exercícios e cobranças de uma disciplina sem nenhum significado para eles. Apenas o de garantir a nota da prova.

Lamento profundamente por esses professores que não buscam acompanhar a evolução das ciências nos meios de comunicação e, principalmente, por aqueles que não conseguem, tendo a oportunidade, fazerem seus alunos se apaixonarem pela tradição da palavra escrita.

Não é realmente uma contradição, a escola, espaço legítimo do aprendizado da leitura e da escrita, ensinar os nossos jovens a odiar a Literatura?

Certamente a metodologia das aulas maçantes de Literatura, devem ser revistas.

Assim como a metodologia daquelas que também colaboram para os alunos odiarem Física, Inglês, Matemática, Química, Biologia, História, Geografia, Lingua Portuguêsa, Artes, Espanhol e etc.

Por enquanto não é muito fácil convencer os jovens a largarem a internet e se deliciarem com um bom exemplar literário.

O que nos alivia é observar que aqui e acolá eles superam a barreira criada pela escola e se interessam por algum livro que faz sucesso no seu meio e que tem a ver com os seus interesses. 

terça-feira, 12 de abril de 2011

A VIDA SEM HOMEM


- Gente, o mundo é um harém!

Ouvi dizer que aqui em Natal, são onze mulheres para cada  homem.

Some-se a isso o fato de muitos deles serem homossexuais.

Ser homossexual passou de tabu para a coisa mais natural do mundo. Para mim, não é uma coisa nem outra. Em nome de uma educação contra o preconceito a sociedade não pode ficar por aí divulgando que o relacionamento sexual de um homem com outro homem é algo comum.

 Passou até a ser moda, grandes artistas, ídolos de muita gente, declarando-se homossexual. Acabam tornando-se exemplos para os jovens que ainda estão se definindo na sexualidade.

A gente vai para uma festa e se espanta com tantos homens bonitos, corpos musculosos, aparentemente másculos, flertando com outros homens. – Pelo amor de Deus, isso dá uma tristeza danada na gente!

O que sobra então?

Ah, tem os homens de verdade. Sim. Mas, a maioria deles já está comprometida. A outra parte não quer compromisso nenhum.

Não sei como se explica o fato de alguns homens ainda se dizerem sozinhos. Vai ver é porque as possibilidades de escolhas são tantas que eles acabam se acomodando em pular pra cá e pra lá, sem se fixar em galho algum.

Para quem, como eu, já passa dos quarenta, as escolhas tornam-se mais escassas ainda. Os homens da minha idade ou estão em relacionamentos firmes, antigos, graças a Deus, ou preferem mulheres mais jovens, com os corpinhos mais sarados. Não os recrimino, - Eles realmente estão podendo escolher!

Mas e aí? Como é que fica?

Reaprendemos a viver só.

 Durante toda a minha vida achei que isso seria impossível. Conhecia muitas mulheres que nunca casaram ou que se separam e se acostumavam com uma vida sem parceiro. Esse era um dos maiores temores que eu tinha uma vida de solidão.

Não havia quem me convencesse que não ter um companheiro não fosse sinônimo de solidão. Mas quando você experimenta a solidão a dois, é fácil compreender que estar só não tem ligação apenas ao fato de não haver uma pessoa do seu lado.

O ideal realmente seria que cada pessoa encontrasse seu companheiro, seu amor.

Mas na vida real não funciona assim. Então o jeito é aproveitar o que viver sozinha pode ter de melhor. Primeiro, que não vivemos sozinhas, temos os filhos ou a família e os amigos.

Viver só, assim como viver com alguém, tem as suas vantagens e desvantagens, temos que compreender isso. Temos também que aprender a nos amar o suficiente para não morrermos se alguém não o fizer por nós.

Penso que não se trata de desistir do sonho de encontrar alguém, trata-se simplesmente de garantir sempre um trunfo na manga para o caso desse alguém não aparecer. A jogada é ser feliz, seja quais forem as condições que a vida nos oferece.

Tem um ditado popular que diz, - Se a vida te oferecer um limão, faça uma limonada. – Ou uma caipirinha – acrescento.





sexta-feira, 8 de abril de 2011

OS DESAFIOS DA ARTE E DE ESCREVER


Alguém certa vez me disse que escrever era semelhante a arte de pintar um quadro, se inicia com uma ideia e pelo caminho ela vai tomando vida própria, juntando-se a outras, adquirindo formas e no final, - voilà! – A sua idéia inicial está toda transformada!


É quase impossível de se acreditar que obras de arte tão perfeitas como as que vemos por aí tenham alguma fuga do domínio do artista.

 

 Penso que o mais importante, considerado pelo artista, é conseguir manter a essência.

 

É por isso também que quando escrevemos lançamos mão da revisão, de aparar as arestas e de escolher melhores palavras para alcançar o fio condutor. O que, no caso do pintor, certamente, faria mergulhando o pincel em outras cores.

 

Compreendi que na escrita, assim como na pintura, não está em jogo apenas a criatividade, mas também a técnica. Esta é tão primordial quanto à primeira para a obra expressar de forma harmoniosa a mensagem do criador.

 

A técnica que me refiro não é somente relacionada aos conhecimentos ortográficos e gramaticas, mas o domínio sobre as palavras para que elas expressem exatamente o que queremos dizer ou, ainda mais difícil, o que estamos sentindo.

 

Outra hora, penso que escrever é semelhante à atividade de dirigir um automóvel. No inicio experimentamos total insegurança. À medida que treinamos e nos exercitamos no volante, vamos reconhecendo a nossa capacidade, adquirindo mais domínio e, consequentemente, mais confiança para enfrentar maiores desafios no trânsito e na literatura.

 

Uma coisa muito legal também é reconhecer o quanto as experiências de outras pessoas são importantes para o nosso aprendizado.


Escrever é um ato de humildade, um reconhecimento de que nunca alcançamos o ideal, que sempre podemos melhorar.  E melhoramos à medida que nos inspiramos no outro, que nos colocamos no lugar de admirador.

 

Descobri que a leitura do que o outro escreve é o principal alimento para o meu aprendizado como escritora.

 

 

Escrever, pode até ser considerado por muitos como um dom, mas verdadeiramente trata-se do exercício de uma paixão.

 

 

Já nem sei mais se esse texto está do jeito que eu planejara. Lembro vagamente que pretendia expor sobre a importância do tamanho do texto, considerando os leitores e o veículo utilizado e sobre a escolha do título, para instigar o interesse das pessoas, essas e outras coisas que nem cheguei a falar.

 

Só tenho a certeza de que consegui comentei sobre os desafios da arte de escrever, e era exatamente isso que eu queria registrar quando tive a ideia do texto.

domingo, 3 de abril de 2011

VIAGEM AO PASSADO


Neste final de semana eu fiz uma pequena grande viagem.

Fui com a minha mãe até a cidade de Monte Alegre que fica aqui pertinho, a menos de oitenta quilômetros de Natal. Uma viagem pequena, portanto.


Revi lugares e pessoas que me transportaram à infância. Uma viagem grande, de lembranças e saudades, tornou-se.

A pracinha, a igreja, a feira livre, o mercado, o cemitério, as casinhas antigas, miúdas que teimam em coexistir entres as construções modernas que dão um novo aspecto à cidade laboram como reforço para a minha memoria.

Ali onde agora funciona um órgão da prefeitura, que eu não sei exatamente o que é, era em 1970 o posto de saúde e também era a nossa casa.

 A minha era parteira e tomava conta do posto. Eu e a minha irmã tínhamos sete e seis anos e as pessoas nos chamavam de “as meninas do posto”.

Lembro que uma quadra depois da nossa casa havia um grande armazém, hoje é um supermercado, lá funcionava o cinema, uma vez por mês.

            Nós duas passávamos o mês inteiro juntando os vidrinhos das injeções que a nossa mãe aplicava, para vendê-los na farmácia e com o dinheiro pagar a entrada do cinema.

            Toda cidade estava lá, principalmente a meninada. O armazém as vezes exalava um cheiro de xixi que a gente não sabia ao certo se ele já existia lá ou se eram os meninos aproveitando o escurinho do cinema.

 De vez em quando a fita quebrava e as luzes acendiam em meio aos protestos e a conversa que rolava enquanto a gente esperava consertar para retomar o filme.

            Na grande tela de lençol branco o foco de luz amarelado projetava aventuras de tirar o fôlego. Muitos gritos e assovios eram ouvidos dentro do cinema. Aventuras do Vellho Oeste, do Zorro, Rim tim tim, Durango Kid, 007 mexiam com a nossa emoção e imaginação.

            Quando o filme acaba, eu e a minha irmã nos colocávamos de pé na esquina gritando até a nossa mãe aparecer na porta em sinal de que estávamos sob a segurança do seu olhar.

Mesmo assim a gente ia em disparada, de mãos dadas, não queríamos correr o risco de dar de cara com a assombração que afirmavam existir no curral de vaquejada, por trás da nossa casa. Diziam que se tratavam de um negrinho pelado. O que para mim, na época, tratava-se de um menino careca.

            Esse era o maior risco que a gente corria.

 Hoje, infelizmente, a cidade está extremamente insegura. São constantes os casos de assaltos e violências praticados por pessoas que vêm de fora, sabendo que o contingente policial é pequeno, desprovido de recursos e condições para garantir a segurança dos moradores.

 Assim, fica cada um a mercê da própria sorte.

            Felizmente, nem o pior e maior bandido do mundo tem a capacidade de roubar as lembranças.

Assim eu guardo comigo a recordação de uma cidade pacata onde a gente brincava de roda, de tica e outras brincadeiras no meio da rua e nos finais de semana nos juntávamos nos quintais para brincar de cozinhado com panelinhas de barro, comida e fogo de verdade.

            Tempo em que as novidades que mais deixavam a cidade em polvorosa era à chegada do circo, do parque ou dos ciganos. Aí era uma nova aventura para mexer com a nossa emoção e imaginação.

 Tempo bom, que vale a pena viajar até ele de vez em quando.


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