sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A DOR ALHEIA


Sempre compreendi a dificuldade que há em se avaliar a dor do outro. Principalmente quando esta se distancia muito da nossa realidade.

Fica difícil, por exemplo, entender o que é sentir fome quando se está de barriga cheia ou se tem a confiança de poder comer a qualquer momento.

Certa vez eu tive uma experiência muito interessante, que me fez refletir mais ainda sobre essa questão.

Na época eu estava bastante envolvida com os trabalhos de evangelização de crianças na Capela católica que ficava no meu bairro e também fazia parte do grupo musical.

Experimentei praticar o jejum. Buscava uma introspecção de uma tentativa de sentir na minha fragilidade humana uma aproximação maior com a minha espiritualidade. Penso que realmente necessitava disso naquele momento.

Li a respeito da prática do jejum e certifiquei-me de seguir os preceitos biblicos de não revelar nem transparecer aos outros. Deveria ser uma experiência muito pessoal, discreta e humilde.

Em um dia desses de jejum, já por volta das onze da manhã, desde cedo acordada, a minha barriga começava a doer de fome. Fui até a farmácia, a pé, que ficava a certa distância da minha casa.

Na volta da farmácia, eu trazia na mão o troco do remédio que havia comprado e ao dobrar a esquina que dava para uma lagoa fui abordada por um rapaz todo molhado. Refeita do susto prestei atenção no que me dissera.

- Senhora... – disse-me ele – estou tomando banho nessa lagoa para ver se passa a minha fome, mas não estou mais suportando, a minha barriga está doendo demais. A senhora entende?

Nesse momento eu consegui entende-lo perfeitamente, pois na minha barriga também sentia a mesma dor. Dei-lhe o troco que eu tinha nas mãos.

Agradeci a Deus por tal experiência.

Entre aquele rapaz e eu, certamente, havia uma grande diferença: Eu trazia a certeza que ao chegar em casa o alimento me aguardava para aliviar a dor da fome.

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Eu me recordei dessa história porque estava, esta semana, assistindo a um filme com minha filha, , deitadas no sofá, enroladas em uma colcha quentinha, enquanto lá fora caía uma chuva fortíssima, com raios e trovões de amedrontar.

Lembrei-me do que está acontecendo no sudeste do país e pensei em quantas pessoas não estavam como nós, amparadas. 


Orei por elas e agradeci por nós que felizmente não experimentamos aquela dor.

O importante é mantermos a sensibilidade para compreender a dor alheia e ajudar sempre que estiver ao nosso alcance. Não esqueço nunca isso.


5 comentários:

Néia Lambert disse...

Ivana, quando sentimos na pele a dor dos outros, então temos a real visão do que eles estão passando.
Sua experiência foi profunda e te enriqueceu espiritualmente.
Beijos

Jeanne Geyer disse...

a questão é a empatia, com esta qualidade podemos nos colocar no lugar do outro sem sentir a mesma intensidade. Claro que quando a gente vive o mesmo problema, a empatia é maior ainda, por isto os grupos de auto-ajuda funcionam bem.
beijos

vovo cibernetica disse...

Ivana seria muito bom se o mundo soubesse sentir a dor alheia . Foi muito importante a sua experiencia . com sertesa Deus se agrada quando fasemos algo de bom por alguem e vc pode sentir a dor da fome daquele rapaz e o socorreu . Parabens pelo seu gesto de humanidade ,Um grande abraço da sua amiga Aguida al

o mar e a brisa do prazer de aprender disse...

Ivana, aqui é muito triste ver o desespero do pessoal quando chove e enche as casas. Embora eu não sofra com a enchente a angústia de alguns joinvilenses quando chove chega a nos deixar comovidos e com vontade de ajudar e rezar por eles.
A sensibilidade e a caridade nos faz melhores espiritualmente. Quem é solidário não é solitário. Amei sua visita no blog. Bjs carinhosos.

Unknown disse...

Mãe, Quando li seu texto estranhamente te vi nele,consegui imaginar você completamente ... É incrível como você consegue passar tudo o que você sente para mim e para as meninas.Creio que você não tem noção dos ensinamentos que você nos passa ! Cada vez mais sinto orgulho de ser sua filha ! Te amo Mãe.

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