Todo mundo já deve ter observado, pelo menos aqui em Natal, RN, que a cada saída pelas ruas se volta para casa com o carro abarrotado de panfletos.
São propagandas de supermercados; de lojas de móveis, eletrodomésticos, de concessionárias de automóveis; imobiliárias; salões de beleza; trabalhos de pai de santo e tudo o mais que possamos imaginar ou coisas que até excedem a nossa imaginação.
Muitos desses panfletos vão diretos para a lixeira sem nenhuma observação do seu conteúdo. Honestamente, eu nem dou conta.
Trata-se de uma dinâmica muito frenética. Basta parar em um sinal que lá vem dezenas de jovens disputando as janelas dos automóveis. Algumas pessoas nem descem mais o vidro para recebê-los. Eu só os recebo em consideração àqueles que estão ali tentando ganhar uns trocados honestamente.
Quando eu vinha hoje do trabalho para casa recebi mais um desses panfletos. A jovem que o entregou perguntou-me as horas. Respondi que era meio dia e trinta. Ouvi um suspiro de desilusão – Ah, meu Deus, daqui que dê quatro horas...!
Observei melhor a moça. Uma menina ainda. Lembrou-me até a minha filha mais nova. Com uma pele bem clarinha que já estava completamente vermelha do sol, apesar do boné que usava para tentar se proteger, aparentando os seus quinze, dezesseis anos.
Perguntei-lhe – Desde que horas você está aqui entregando panfletos? - Desde as sete horas da manhã – respondeu-me.
Antes que eu continuasse com a próxima pergunta ela se antecipou – Tudo isso para ganhar quinze reais – acrescentando – que só irei receber daqui a quinze dias.
Continuei o caminho com aquela imagem em minha cabeça até chegar na frente da escola da minha filha, que dessa vez, observando melhor, encontrei muito mais diferença entre ela e aquela menina.
Não diferenças físicas, pelo contrário, aquelas semelhanças foram até confirmadas, diferenças de realidade, de oportunidades de justiça.
A minha filha estava saindo da escola, a melhor que eu posso pagar, para a nossa casa, para ser alimentada, cuidada, amada e educada.
Aquela menina continuava lá, sob um sol escaldante, distribuindo panfletos para quem nem quer receber, colaborando como uma mão de obra “semi-escrava”, se é que esse termo existe, para enriquecer mais ainda os empresários, esperando uma hora que nunca chegava para ir para casa e aguardando uma mísera recompensa que iria demorar muito mais ainda.
8 comentários:
Pois é, essa é uma realidade perversa, mas é o jeito que essa mocinha e muitos outros arranjam pra ganhar algum dinheiro. Lembrei de um tempo atrás, (tempo bem apertado)em que meus filhos e uma amiga deles, ficavam na passarela do shopping planfletando pra fazer o dinheiro de ir participar de um acampamento de carnaval, lembro que fiquei preocupada e ao mesmo tempo triste em ver meus filhos batalhando daquele jeito. Mas sabe eles não gostavam muito, mas estavam felizes,pois tinham conseguido o dinheiro com o esforço deles e isso os deixavam maravilhados e não diminuiu a dignidade deles, hoje estão formados e caminhando em um fultoro bem diferente daquele, mais sei que essa experiencia ficou gravada neles.
Ivana essa situação é ainda mais deprimente em época de eleição, quando muita gente trabalha em condições precárias, sob sol e chuva, entregando panfletos. Oxalá esse povo pudesse estar num trabalho mais digno.
Beijos
Meu marido já havia comentado isso comigo: Que ao menos poderiam escolher um lugar mais ameno, com árvores e sombra e algum posto de ajuda com água e cadeiras para amenizar o calor e o cansaço, revezamento de turmas, etc. e não expô-los de forma cruel a um sol escaldante como o de Natal. Realmente a realidade deles os submetem a esse trabalho escravo sim, porque não dizer assim? A falta de oportunidade faz isso e a falta de ética das empresas também. Principalmente das grandes construtoras cujo lucro é exorbitante, eles deveriam sim ser chamados a responder pela falta de dignidade para com essas pessoas. É a ganância falando mais alto, sempre, não devem enxergá-las como seres humanos, infelizmente é isso. Mas enfim, melhor trabalhar duro do que roubar como dizia minha vô. Mas, dizem que temos um poder público cuja obrigação é fiscalizar e aplicar à lei aqueles que a desconhece. Com a palavra o poder público... onde será que está nessas horas? Omitindo-se como no caso de Ponta Negra???? Quem não sabe o que ocorre lá???? até os extraterrestres já sabiam.
Achei tão relevante que twitei para que outras pessoas possam opinar sobre o caso.
O mundo do trabalho realmente deve ser pensado, questionado, apenas algumas categorias são discutidas, e tem seus interesses representados. O trabalho informal precisa ser melhor regulamentado no nosso pais.
Toda atividade que busca algum resultado, para mim é positiva. Mas essa, como as demais, poderia remunerar melhor, visto que o resultado, por certo, deve ser bom para quem toma essa iniciativa, pois ao contrário não haveria tantos nos semáforos e como foi bem colocado, no sol escaldante, com fome e penso que poderia ser até regulamentada a atividade, como outras antes na informalidade. Se é trabalho deve ser tratado como tal pela CLT.
Abraços e bele abordagem!!!
IVANA
NÓS SABEMOS QUE EXISTE ESSE TIPO DE TRABALHO ESCRAVISADO ,E AS PESSOAS SE SUGEITAM A TAL PELA NECESSIDADE DE GANHAR ALGO.E LAMENTAVEL SE VER UMA JOVEM QUE NÃO TEM OUTRA OPÇÃO SE SUGEITAR A TAL CITUAÇÃO E O PIOR É SABER QUE AS AUTORIDADES NÃO FAZEM NADA PARA MUDAR ESSE QUADRO .UM ABRAÇO .
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