Certo dia, uma amiga
envolta a um relacionamento que, de acordo com o seu discurso, estava
fracassando, confessava-me o seu sofrimento de abrir mão do "ninho", de reconhecer que não tinha mais "ninho". Dizia isso referindo-se a iminência do fim da base construída do relacionamento e também com relação a perda ou a mudança que ocorreria com relação ao próprio espaço físico.
Olhando para aquela
mulher, idade passando dos cinqüenta, filhos criados e tomados os rumos das
suas vidas, me veio uma cena que eu observara na praia e me pareceu muito
pertinente naquele momento para ilustrar a análise que eu pretendia lhes auxiliar.
A cena era a seguinte:
Ao cair da tarde, já
próximo ao anoitecer, nas palhas dos coqueiros eu observei que se inicia um espetáculo
de pousos dos urubus. Eles, ao retornarem daqueles vôos altos e distantes, decidem
que para descansar e recuperar as energias para os vôos do novo dia, um galho é
o suficiente. Demonstram não precisarem de ninho para isso. Sem dúvidas já necessitaram
um dia, para chocar seus ovos e protegerem as suas crias indefesas. Agora,
via-se que o ninho era totalmente dispensável e desnecessário para eles,
bastava-lhes um galho seguro para repousar e retornar aos vôos.
A minha amiga ouviu a
história que eu acabara de descrever e, com o olhar de quem acabara de ler por
dentro de si, deu um sorriso e falou pausadamente, ainda refletindo junto com
as palavras que saíam – É verdade! Eu não preciso mesmo mais de ninho...
Propus que ela começasse
a refletir sobre os galhos que ela poderia usufruir. Se precisava mesmo
abandonar o “suposto ninho”, ou seria suficiente passar a utilizá-lo como um
galho seguro, onde ela pudesse repousar dos seus vôos, já que gostava tanto de
viajar para outra cidade onde tem uma casa e uma filha, com quem se sente tão
bem estando junto e que seria, sem dúvidas, outro galho.
Essa história da minha
amiga também me ajudou a pensar sobre isso. É muito comum a gente ouvir falar
sobre a “Síndrome do ninho vazio”. Faço
agora a leitura de que trata-se pois da dificuldade em compreender, como os
urubus conseguiram, que agora só é preciso os galhos fortes, que nos ofereçam
repousos para os nossos vôos e nos
ampare das intempéries da natureza.
Um comentário:
Talvez o galho que sua amiga esteja pousando, no momento de ir embora o Sol, seja fragil o suficiente para ela se desestruturar por completo e cair todos os dias...cair e levantar faz parte mas todos os dias?...talvez ela nao tenha dito tudo, sentir falta do ninho pode ser, ou sentir falta de uma base mais sólida....a vida é assim, cheia de caminhos e árvores com galhos,e esses galhos nem sempre estão prontos para sustentar os pesos que lhe chegam com o vento.
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