sexta-feira, 4 de maio de 2018

A SINDROME DO NINHO



Certo dia, uma amiga envolta a um relacionamento que, de acordo com o seu discurso, estava fracassando, confessava-me o seu sofrimento de abrir mão do "ninho", de reconhecer que não tinha mais "ninho". Dizia isso referindo-se a iminência do fim da base construída do relacionamento e também com relação a perda ou a mudança que ocorreria com relação ao próprio espaço físico.

Olhando para aquela mulher, idade passando dos cinqüenta, filhos criados e tomados os rumos das suas vidas, me veio uma cena que eu observara na praia e me pareceu muito pertinente naquele momento para ilustrar a análise que eu pretendia lhes auxiliar.

A cena era a seguinte:


Ao cair da tarde, já próximo ao anoitecer, nas palhas dos coqueiros eu observei que se inicia um espetáculo de pousos dos urubus. Eles, ao retornarem daqueles vôos altos e distantes, decidem que para descansar e recuperar as energias para os vôos do novo dia, um galho é o suficiente. Demonstram não precisarem de ninho para isso. Sem dúvidas já necessitaram um dia, para chocar seus ovos e protegerem as suas crias indefesas. Agora, via-se que o ninho era totalmente dispensável e desnecessário para eles, bastava-lhes um galho seguro para repousar e retornar aos vôos.

A minha amiga ouviu a história que eu acabara de descrever e, com o olhar de quem acabara de ler por dentro de si, deu um sorriso e falou pausadamente, ainda refletindo junto com as palavras que saíam – É verdade! Eu não preciso mesmo mais de ninho...

Propus que ela começasse a refletir sobre os galhos que ela poderia usufruir. Se precisava mesmo abandonar o “suposto ninho”, ou seria suficiente passar a utilizá-lo como um galho seguro, onde ela pudesse repousar dos seus vôos, já que gostava tanto de viajar para outra cidade onde tem uma casa e uma filha, com quem se sente tão bem estando junto e que seria, sem dúvidas, outro galho.

Essa história da minha amiga também me ajudou a pensar sobre isso. É muito comum a gente ouvir falar sobre a “Síndrome do ninho vazio”.  Faço agora a leitura de que trata-se pois da dificuldade em compreender, como os urubus conseguiram, que agora só é preciso os galhos fortes, que nos ofereçam repousos para os nossos vôos  e nos ampare das intempéries da natureza.

Um comentário:

liz disse...

Talvez o galho que sua amiga esteja pousando, no momento de ir embora o Sol, seja fragil o suficiente para ela se desestruturar por completo e cair todos os dias...cair e levantar faz parte mas todos os dias?...talvez ela nao tenha dito tudo, sentir falta do ninho pode ser, ou sentir falta de uma base mais sólida....a vida é assim, cheia de caminhos e árvores com galhos,e esses galhos nem sempre estão prontos para sustentar os pesos que lhe chegam com o vento.

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