domingo, 20 de março de 2016

GENTILEZA GERA GENTILEZA


De alguma forma todo mundo já deve ter ouvido falar da campanha que objetiva sensibilizar as pessoas para contribuírem com um trânsito menos violento e que utiliza o seguinte slogan: “GENTILEZA GERA GENTILEZA”.

Pois bem, eu considero que os idealizadores da campanha foram muito felizes com a idéia e com a escolha do slogan.

É uma campanha bem inteligente, se a gente pensar que realmente muitos acidentes, muitas brigas de trânsito e, principalmente, muita agressão e morte podem ser evitadas simplesmente pela decisão pessoal de “ser gentil” com o outro que está do meu lado.

Veja que não se trata somente de ser correto no trânsito, trata-se de enxergar o outro, de facilitar a sua passagem, de tentar compreender algum ato de falha ou barbeiragem, sem partir para a agressão oral ou física.

Eu tento exercitar sempre essa campanha quando estou dirigindo e tenho percebido muitas pessoas também fazendo isso. O que me deixa bastante feliz porque, sem sombra de dúvida,  isto humaniza mais esse universo de domínio das máquinas.

Mas, como em tudo nesta vida, nem todas as pessoas agem ou reagem como deveriam, ou seja, não se comportam de acordo com o slogan, praticando gentileza para recebê-la de volta.

Acontece que neste final de semana eu passei por uma experiência no transito da minha cidade Natal que me deixou bastante indignada. Mais do que isso, me deixou deveras triste em presenciar o egoísmo humano e o seu preconceito, no sentido etimológico da palavra, de julgamento antecipado, baseando-se apenas na opinião formada pela sua impressão imediatista, sem aprofundamento na avaliação.

O fato aconteceu ali na saída do Conjunto Satélite para a BR quando eu objetivava alcançar o sinal do retorno que conduz para o acesso à Avenida Maria Lacerda. Quem já fez essa travessia sabe que não é nada fácil de ser realizada, principalmente se for em um horário de pico. Isto porque você tem poucos metros para atravessar quatro vias e, nesses horários, se não contar com a gentileza de alguém que te permita passar na frente e ir se encaixando em cada faixa até alcançar a faixa do retorno é impossível realizar.

Acontece que, neste sábado, por volta de meio dia ou uma hora da tarde, os carros formavam um engarrafamento enorme neste local. Quando chegou a minha vez de colocar-me na posição da frente, no local da saída da marginal para a principal, estiquei a mão com o polegar em direção de um motorista que prontamente me permitiu entrar na fila. Assim, superei a dificuldade de acessar a primeira faixa. Depois, vagarosamente consegui entrar na segunda. Agora só me faltava entrar na terceira e seguir calmamente para fazer o retorno quando o sinal abrisse.

Aí foi que tudo deu errado. Eu não conseguia de forma alguma entrar na terceira faixa.

Aconteceu que todos os carros nos quais eu emparelhava estavam com os vidros totalmente fechados e os motoristas não percebiam, ou fingiam não perceber, o meu pedido de ajuda. Em vão eu buzinava, falava e gesticulava com o polegar pedindo a gentileza de me deixar passar.

Na medida em que eu avançava no insucesso de ser atendida, aquilo ia me dando uma sensação de exclusão, um pânico de não perceber a possibilidade de conseguir entrar se ninguém parecia disposto a colaborar comigo.

Para piorar ainda mais a minha situação, um motorista, ou uma motorista, não dava para distinguir, de um desses carros grandes e altos, que impõem um status de riqueza e superioridade, me fechou literalmente. Eu vi que a criatura ao perceber a minha intenção de entrar na sua frente, adiantou o carro e puxou seu volante para encostar-se no meu retrovisor. Eu confesso que fiquei em choque. Compreendi então que todos ali estavam julgando que eu agia com esperteza, que eu estava sem querer enfrentar a fila e por isso tentava passr na frente de todos.

Acontece que minha impossibilidade de comunicar-me com eles, já que estavam todos com vidros trancados, deixava-me isolada e excluída. Eu  nem preciso dizer o quanto me senti mal com tudo o que estava me acontecendo.

E se ainda havia possibilidade de tornar essa situação ainda pior, o fato de estar ocupando uma via que deveria estar liberada para quem seguia em frente na BR, provocava buzinadas estridentes por parte dos que se sentiam prejudicados por mim.

Eis que, quando, de fato, eu já não sabia mais o que iria acontecer comigo, eu me deparei com um desses motociclistas que entregam gás de cozinha e, tentando me controlar para não chorar, pedi que ele me fizesse o favor de me deixar entrar. Senti necessidade de explicar para ele que eu não estava querendo “furar a fila”, simplesmente eu não tinha conseguido ainda a chance de entrar.

Para minha sorte, o rapaz foi gentil realmente e me cedeu a vaga. Ocorre que no mesmo instante percebi um carro em situação semelhante a que enfrentei. Eu,  imediatamente  propaguei a gentileza que havia recebido do rapaz da moto, buzinei e acenei que entrasse na minha frente. A experiência de receber a gentileza e a de fazer a gentileza provocaram em mim a mesma sensação de alegria e bem estar.

Acredito que é assim mesmo que deve funcionar. Nós precisamos ter mais paciência com as outras pessoas; precisamos evitar julgar precipitadamente os atos dos outros; necessitamos nos poupar de fazer questão de expor exageradamente a nossa razão, por qualquer motivo... O importante é sermos sempre Gentil como as outras pessoas, motoristas e pedestres.

Eu espero de verdade nunca mais passar por outra situação dessa e  também não gostaria de saber que outra pessoa passou por uma experiência semelhante.  


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