De alguma
forma todo mundo já deve ter ouvido falar da campanha que objetiva sensibilizar
as pessoas para contribuírem com um trânsito menos violento e que utiliza o
seguinte slogan: “GENTILEZA GERA GENTILEZA”.
Pois bem, eu considero
que os idealizadores da campanha foram muito felizes com a idéia e com a
escolha do slogan.
É uma campanha
bem inteligente, se a gente pensar que realmente muitos acidentes, muitas brigas
de trânsito e, principalmente, muita agressão e morte podem ser evitadas
simplesmente pela decisão pessoal de “ser gentil” com o outro que está do meu
lado.
Veja que não
se trata somente de ser correto no trânsito, trata-se de enxergar o outro, de
facilitar a sua passagem, de tentar compreender algum ato de falha ou barbeiragem,
sem partir para a agressão oral ou física.
Eu tento
exercitar sempre essa campanha quando estou dirigindo e tenho percebido muitas
pessoas também fazendo isso. O que me deixa bastante feliz porque, sem sombra
de dúvida, isto humaniza mais esse universo de domínio das máquinas.
Mas, como em
tudo nesta vida, nem todas as pessoas agem ou reagem como deveriam, ou seja,
não se comportam de acordo com o slogan, praticando gentileza para recebê-la de
volta.
Acontece que neste
final de semana eu passei por uma experiência no transito da minha cidade Natal
que me deixou bastante indignada. Mais do que isso, me deixou deveras triste em
presenciar o egoísmo humano e o seu preconceito, no sentido etimológico da
palavra, de julgamento antecipado, baseando-se apenas na opinião formada pela
sua impressão imediatista, sem aprofundamento na avaliação.
O fato
aconteceu ali na saída do Conjunto Satélite para a BR quando eu objetivava
alcançar o sinal do retorno que conduz para o acesso à Avenida Maria Lacerda.
Quem já fez essa travessia sabe que não é nada fácil de ser realizada, principalmente
se for em um horário de pico. Isto porque você tem poucos metros para atravessar
quatro vias e, nesses horários, se não contar com a gentileza de alguém que te
permita passar na frente e ir se encaixando em cada faixa até alcançar a faixa
do retorno é impossível realizar.
Acontece que,
neste sábado, por volta de meio dia ou uma hora da tarde, os carros formavam um
engarrafamento enorme neste local. Quando chegou a minha vez de colocar-me na
posição da frente, no local da saída da marginal para a principal, estiquei a
mão com o polegar em direção de um motorista que prontamente me permitiu entrar
na fila. Assim, superei a dificuldade de acessar a primeira faixa. Depois,
vagarosamente consegui entrar na segunda. Agora só me faltava entrar na
terceira e seguir calmamente para fazer o retorno quando o sinal abrisse.
Aí foi que tudo
deu errado. Eu não conseguia de forma alguma entrar na terceira faixa.
Aconteceu que
todos os carros nos quais eu emparelhava estavam com os vidros totalmente
fechados e os motoristas não percebiam, ou fingiam não perceber, o meu pedido
de ajuda. Em vão eu buzinava, falava e gesticulava com o polegar pedindo a
gentileza de me deixar passar.
Na medida em
que eu avançava no insucesso de ser atendida, aquilo ia me dando uma sensação
de exclusão, um pânico de não perceber a possibilidade de conseguir entrar se
ninguém parecia disposto a colaborar comigo.
Para piorar
ainda mais a minha situação, um motorista, ou uma motorista, não dava para distinguir,
de um desses carros grandes e altos, que impõem um status de riqueza e
superioridade, me fechou literalmente. Eu vi que a criatura ao perceber a minha
intenção de entrar na sua frente, adiantou o carro e puxou seu volante para
encostar-se no meu retrovisor. Eu confesso que fiquei em choque. Compreendi então
que todos ali estavam julgando que eu agia com esperteza, que eu estava sem
querer enfrentar a fila e por isso tentava passr na frente de todos.
Acontece que
minha impossibilidade de comunicar-me com eles, já que estavam todos com vidros
trancados, deixava-me isolada e excluída. Eu nem preciso dizer o quanto me senti mal com
tudo o que estava me acontecendo.
E se ainda
havia possibilidade de tornar essa situação ainda pior, o fato de estar
ocupando uma via que deveria estar liberada para quem seguia em frente na BR,
provocava buzinadas estridentes por parte dos que se sentiam prejudicados por
mim.
Eis que, quando,
de fato, eu já não sabia mais o que iria acontecer comigo, eu me deparei com um
desses motociclistas que entregam gás de cozinha e, tentando me controlar para
não chorar, pedi que ele me fizesse o favor de me deixar entrar. Senti
necessidade de explicar para ele que eu não estava querendo “furar a fila”, simplesmente
eu não tinha conseguido ainda a chance de entrar.
Para minha
sorte, o rapaz foi gentil realmente e me cedeu a vaga. Ocorre que no mesmo
instante percebi um carro em situação semelhante a que enfrentei. Eu, imediatamente propaguei a gentileza que havia recebido do
rapaz da moto, buzinei e acenei que entrasse na minha frente. A experiência de
receber a gentileza e a de fazer a gentileza provocaram em mim a mesma sensação
de alegria e bem estar.
Acredito que é
assim mesmo que deve funcionar. Nós precisamos ter mais paciência com as outras
pessoas; precisamos evitar julgar precipitadamente os atos dos outros;
necessitamos nos poupar de fazer questão de expor exageradamente a nossa razão,
por qualquer motivo... O importante é sermos sempre Gentil como as outras
pessoas, motoristas e pedestres.
Eu espero de
verdade nunca mais passar por outra situação dessa e também não gostaria de saber que outra pessoa
passou por uma experiência semelhante.