sexta-feira, 29 de junho de 2012

O HOSPITAL DAS PROPAGANDAS X O HOSPITAL DA VIDA REAL


Gente, confesso que repasso muitas vezes às críticas à prefeita de Natal, Micarla de Souza, veiculadas pela internet, movida mais pela admiração à capacidade criativa dos brasileiros de produzir humor à partir das suas próprias desgraças.

Não é do meu feitio gostar de desmoralizar ninguém, ainda que essa pessoa já faça isso por si mesma.

Mas, também não é do meu feitio observar passivamente as injustiças e as mentiras proferidas por alguém para enganar os outros.

Quando comecei a ver na televisão as novas propagandas da prefeitura municipal de Natal, mostrando a beleza e a perfeição dos hospitais da rede publica eu fiquei realmente confusa.

Acontece que há menos de um mês, eu estive em um desses hospitais administrados pela prefeitura e o que assisti lá foi exatamente o inverso do que se apresenta nas propagandas.

O hospital do qual estou me referindo é o Hospital dos Pescadores, no bairro das Rocas. Tão antigo e maltratado quanto a comunidade onde está inserido. Em meio às ruas esburacadas e cheias de lamas, cercado por barracos e casebres, envolto ao cheiro de peixe apodrecido vindo do porto, recebe pessoas de todos os bairros da cidade em busca de alívio para as suas dores e sofrimentos.

Pesquisando sobre o hospital, na internet, encontrei matérias do ano de 2009 denunciando o descaso e as condições precárias das instalações. Nada me pareceu mudar, o quadro que vi era o mesmo: Gente demais, funcionários de menos; pessoas atendidas pelo corredor; paredes mofadas, com infiltrações; demora no atendimento; soros pendurados em pregos pelas paredes ou segurados pelas pessoas por não ter suportes suficientes para coloca-los e ainda, funcionários atendendo mal-humorados, visivelmente chateados pela condição de trabalho.

Então eu me pergunto que hospital limpo, espaçoso e eficiente é aquele mostrado na propaganda? Será que o povo está preferindo ser atendido no Hospital dos Pescadores porque gosta de sofrer, abrindo mão de hospitais de excelências como os da propaganda?

Qual é a verdade dessa história? Quem está mentido?

Se a prefeitura apresenta imagens para comprovar a beleza da rede publica hospitalar eu também apresento as imagens captadas durante a minha triste experiência de passar quase um dia inteiro tentando um atendimento médico para uma amiga.

Enfermeira demonstrando como deve ser segurado o soro por não dispor de suporte para colocá-lo
Pacientes com dor e com ferimentos, tomando soro, dividindo um banco de madeira no corredor.


A sorte de quem achou um prego na parede para pendurar o soro.
Soro pendurado no prego da janela e aparelho coletivo de inalação  no corredor.


domingo, 17 de junho de 2012

A MOBILIZAÇÃO E A PRISÃO DOS ESTUDANTES DA UNIFESP – QUE LIÇÃO NOS DÁ?


Assistindo na TV, esse sábado, 16 de junho, a matéria sobre a libertação dos estudantes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) detidos na quinta-feira (14), após protesto no campus de Guarulhos, fiquei, como muitas pessoas, acredito eu, questionando– Como as coisas chegaram a esse ponto?

Nos depoimentos dos funcionários da Universidade consta que chamaram a polícia por sentirem-se ameaçados quando os alunos começaram a quebrar vidros; derrubar coisas e pichar as paredes.

Pergunto-me então, - Antes disso, qual era a repercussão do movimento desses estudantes?

Vejam bem, não estou aqui defendendo atos de violência ou depredação do espaço público. O que estou na verdade é propondo uma análise sobre os “culpados” de tal acontecimento.

O jornal oline g1.globo.com, na quinta feira, dia 15, publica o seguinte texto referindo-se às “Reivindicações” do grupo: ““Os estudantes estão em greve há cerca de 80 dias para reivindicar uma melhor infraestrutura para o campus. Eles pedem a construção de novas salas de aula, a reforma do restaurante universitário e o encerramento de um processo criminal contra cerca de 40 alunos que começou em 2008 devido a um protesto contra a direção da Unifesp em um dos campi da universidade.”. Acredito que isso nos dá uma pista para avaliar a atenção que estava sendo dada às vozes desses estudantes.

Possivelmente, eles ficariam ali a vida inteira tentando uma negociação que jamais seria atendida. Por que? E, onde estavam os professores que não apareceram ao lado dos alunos? Afinal, a reivindicação não era em prol da melhoria da Universidade? Talvez se eles tivessem acrescento aumento de salários dos professores...

Desculpem o sarcasmo, não é que eu considere injusta a luta dos professores por aumento de salário, longe de mim isso, afinal só um deles e sinto-me bastante desestimulada em minha profissão, cujo desgaste emocional, maior que físico, dificilmente poderia ser recompensado por dinheiro algum. É notório o desrespeito dos governos e de toda a sociedade civil pelo professor no Brasil, isso é causa de tristeza e motivação de luta para reverter tal realidade.

Todavia, o que não consigo conceber é a fracionalização das lutas. Porque nas lutas dos professores os alunos ao invés de se somarem a elas são, ao contrário, subtraídos? Inclusive, diretamente, os mais prejudicados com a ferramenta de luta utilizada pelos professores: A GREVE.

Ainda, no jornal citado, na data da libertação dos jovens, registra-se o argumento do advogado Sérgio Augusto Pinto de Oliveira. Segundo ele, a justificativa apresentada foi que os alunos “Não cometeram nenhum ilícito penal, que têm residência fixa, que não podem ser molestados quanto ao direito de ir e vir por conta de um legítimo direito de manifestação, que está previsto na Constituição Federal”.

Temos que compreender que a escola, seja em que nível for de ensino, pertence ao público atendido por ela. Esse publico deve sempre ser ouvido com relação a qualidade do trabalho que lhes está sendo prestado. Isso é um direito que vem sendo ignorado por todos nós.

O estudante precisa ser um aliado do professor na luta pelos seus direitos e vice e versa. Essa deveria ser a primeira conquista reivindicada por todos os que fazem parte da educação nesse país: A UNIÃO DE TODOS PELA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO.

(Fonte da imagem utilizada:

domingo, 3 de junho de 2012

O NAUFRÁGIO



 A data era 17 de fevereiro de 2012, véspera de carnaval.

 Nesse dia, a tempestade que já estava prevista e já começava a cair, provocou uma onda gigante e derrubou violentamente o navio, antecipando o fim da viagem.

O dia tinha amanhecido e apesar dos sinais da tempestade a viagem parecia continuar como estava de uns tempos para cá, sem rumo e sem previsão, apenas mantendo o navio na água.

 De repente ouvi o anuncio do naufrágio iminente. Todas as tripulantes começaram a selecionar os seus pertences que podiam carregar para tentar salvar as suas vidas.

Era uma luta individual, mas, apesar disso, refleti imediatamente que o desespero não deveria destruir o grupo. - De alguma forma, no meio do oceano, deveríamos buscar umas as outras para decidir os novos rumos - propus.

Assim fizemos e cá estamos unidas e salvas.

Porém, até hoje, passados mais de três meses do ocorrido, os sinais dos flagelos causados, principalmente nas almas das sobreviventes, ainda são fortes.

Algumas já alcançaram um porto seguro, outras ainda se equilibram nos destroços do naviostentando chegar à margem segura, ameaçadas pelas ondas que insistem em derrubá-las.

Para cada uma, um aprendizado, um renascimento.

Certamente, saímos mais fortes dessa tempestade. Descobrimos novos rumos, novas possibilidades e aprendemos mais sobre navegar.
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