Eu posso ser confusa com relação a existência da divindade única e suprema, mas, uma crença, a meu ver, pode ser comprovada materialmente: A divindade que há em cada pessoa. A esta, eu chamo de “energia”.
A energia que cada ser humano emite, consciente ou inconscientemente pode facilmente ser sentida e, muitas vezes absorvida pelo outro. Infelizmente, nem sempre a energia vem positiva. Para isso devemos sempre está preparado. O que não é uma tarefa fácil, principalmente, para quem se desprotege e espera sempre receber o melhor das pessoas.
Vou exemplificar o que digo com um episódio que aconteceu comigo no amanhecer deste domingo.
Acordei com a disposição de cuidar da frente da casa e do terreno que dá de frente para ela. Tarefa que para mim é sempre uma boa terapia pois me mantém em contado direto com a natureza.
Ao abrir o portão percebi a presença da vizinha visitando a casa que acabou de adquirir e planeja aluga-la. Com bastante gentileza e simpatia cumprimentei-a com – Bom dia, querida! – nem compreendi direito como me devolveu o cumprimento só entendi quando ela emendou-o com – Você viu o buraco que a sua cachorra fez aqui na frente da minha casa? – O meu sorriso se desmanchou e daquele momento em diante o que senti foi toda a energia boa com a qual eu havia me acordado ser atingida por uma totalmente negativa.
Nem bem eu conseguia me desfazer dessa para tentar impor o meu bom humor, ela despejou mais duas informações: - Ah, agora eu já sei de onde é esse gato que sempre dorme na minha varanda. É da sua casa, não é?- e, como se também fizesse parte do assunto, continuou – Menina, o acabamento desse pedreiro é horrível. Muito mal feito.
Confesso, ainda não adquiri o equilíbrio necessário para não permitir-me ser atingida por descargas assim. Tentei fingi-lo, mas ela percebeu nas minhas respostas o mal estar que provocara em mim.
O que fazer para que pessoas assim não consigam alterar a trajetória do nosso dia; dos nossos planos; da nossa vida?
Desde o episódio infeliz que me aconteceu no enfrentamento ao secretario municipal de educação, a minha reflexão a respeito disso aumentou.
Passadas as situações, eu me ponho a imaginar o que deve levar as pessoas a tornarem-se assim. Uma amiga respondeu-me que se trata da “valorização do ter, acima da valorização do ser”. Desenvolvi uma forte tendência para crer nessa explicação e isso tem sido motivo para me comover de tristeza, embora se trate na verdade de um simples amadurecimento a respeito do conhecimento humano.
Comecei a acreditar também que pessoas assim como essa vizinha, o secretario da educação e tantas outras que não poupam as outras pessoas das suas energias negativas, não tem solução. Quer dizer, pode até haver uma solução, mas independe de nós, deve antes partir de um despertar delas próprias para promover em si uma mudança interior.
A boa notícia é que cada vez mais acredito na força da educação. Não a educação simplificada na orientação para ter bons modos e para aprender os conteúdos das disciplinas. Mas aquela educação plantada no ensino infantil, que se inicia com a aprendizagem da convivência; da importância do carinho; do respeito ao outro, aos animais, às plantas, ao meio ambiente e, acima de tudo, o respeito a si próprio, tornando-se um cidadão de bem e um ser humano sensível. Essa educação, que não pode existir sem a parceria entre a escola e a família e sem a sensibilidade dos governantes para fornecer condições para a sua realização.
Quanto a nós, quando enfrentamos adultos já estragados, devemos estar atentos para não permitir jamais que consigam nos transformar, minimamente que seja, naquilo que transformaram-se. A nossa postura deve ser o exemplo e não a deles.
Para mim, não há reflexão maior do que a oração atribuída a São Francisco de Assis. É nela que busco o meu alimento espiritual.