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Noite de sábado, já passam das vinte e três horas, só agora me dei conta de que já é tão tarde, esse trabalho da especialização está me consumindo. Agora a pouco liguei para uma amiga e quando ela atendeu com um tom de voz alto como se não conseguisse me ouvir direito, percebi ao fundo um som de pessoas conversando e de música. Nem precisava ele me confirmar que estava em uma festa. – Liguei só para avisar que conclui o nosso trabalho e estou enviando por e-mail para o professor – gritei, e ouvi de volta o que me pareceu ser um agradecimento e uma dispensa para não atrapalhar a sua festa.
Antes que seja feito qualquer julgamento errado da minha amiga, devo dizer que se trata de uma pessoa muito responsável, e querida, e que ela não está cometendo nenhuma injustiça em me deixar fazer sozinha o nosso trabalho, foi um combinado entre a gente, eu faço esse e ela fará o outro. Talvez isso não seja realmente o ideal de “trabalhar em grupo”, mas foi a saída que encontramos para por em dia as nossas atividades, diante da loucura que está sendo conciliar trabalho, casa, família e especialização.
O que eu quero dizer é que me deu uma inveja danada dela Eu gostaria mesmo de nesse momento estar em uma festa, enchendo a cara e me divertindo. Ela me pareceu mesmo está curtindo, disse algo assim como – Ah, amanhã a gente se fala, agora eu já tô pra lá de Bagdá!
De repente comecei a me imaginar na tal festa – um aniversário de uma vizinha – ela disse – Com certeza eu iria começar com uma grande promessa para mim mesma de que seria maravilhosa, mas lá para as tantas (eu me conheço), eu já estaria duvidando se foi uma boa ideia ter ido.
Primeiro que todas as músicas iriam me lembrar daquele alguém que (você sabe), não vale a pena. Possivelmente eu iria fazer um esforço para evitar isso, então me encheria de esperança de que alguém maravilhoso iria se interessar por mim. O que provavelmente não aconteceria e aumentaria a minha frustração.
Teoricamente eu saberia bem me orientar (sou uma especialista em teorias) - que aproveitasse a noite, as amizades, que aproveitasse a minha própria companhia... – Diria ainda - que eu preciso me valorizar e me sentir completa – Ninguém se completa com alguém. Isso não existe! – gritaria para me fazer ouvir.
Na prática seria assim: Aparentemente eu estava seguindo as boas regras, mas, por dentro estaria esfolada, machucada.
Fico matutando por que eu sou assim. Só penso em uma explicação: - Complexo causado pela ausência do meu pai. Eu sempre acreditei nisso. Não sei realmente se tem algum fundamento, mas lembro-me que desde bem jovem o meu maior desejo era conseguir amar e ser amada por um homem. O meu olhar sempre era atraído para os casais de namorados apaixonados. Vê-los conversando olhando dentro do olho do outro era a maior inspiração para o meu desejo: vivenciar momentos assim com alguém.
Devo dizer que namorados não me faltaram, mas amor mesmo, do jeito que eu imaginava só me aconteceu uma vez, tardiamente (e com a pessoa errada). Tento me conformar dizendo que - pelo menos eu consegui um dia o que eu tanto desejava, há tantas pessoas que vivem a vida inteira sem saber o que é o amor de verdade.
Esse consolo não tem muita validade nenhuma. Nem sei o que é pior se é nunca sentir o sabor ou se é adoçar a boca e não conseguir sorver o mel.
Desistir desse sonho, ou obsessão tem sido um esforço sem sucesso. Às vezes me surpreendo examinando os homens na rua acreditando ser cada um deles um amor em potencial.
Penso que posso me classificar na categoria de mulher mal resolvida emocionalmente, embora isso só seja referência para relacionamento amoroso, com os amigos e com a família eu sou muito bem realizada.
Aonde isso vai chegar isso eu não sei, mas gostaria que tivesse uma solução rápida. Preferia, nesse caso, a certeza do impossível do que viver acreditando numa ilusão.
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