De todos os desafios na gestão de uma escola, descobri que o maior é liderar pessoas. Não apenas pelo fato de lidar com individualidades que, naturalmente, é a causa de várias divergências de opiniões, mas, principalmente, pela dificuldade em estabelecer um elo forte entre todos. Não se pode liderar onde não há um grupo e só existe grupo onde há um objetivo comum que os motivam a serem unidos.
Para uma escola, a qualidade da educação merecida por toda e qualquer criança, sem distinção, obviamente, deveria ser o objetivo que nos torna um grupo.
Pode-se até dizer que há, pelo menos teoricamente, esse objetivo nas escolas. Mas, na prática ele se contradiz quando assistimos às pessoas pensando e reivindicando mais por si mesma do que pelas crianças.
Talvez as palavras choquem, sejam duras demais. Afinal, há realmente no dia a dia demonstrações de preocupações e compromissos com a educação dessas crianças. Não há, porém, ideologia. Aquela chama que une um grupo por uma causa maior, acima até dos interesses particulares.
Isso não foi aprendido nos bancos acadêmicos. Mas seria possível lá essa aprendizagem¿ Ideologia, principalmente quando se trata de uma luta pelo bem de outros, não teria mais a ver com formação de caráter do que com formação acadêmica¿
Todavia, é certo que o caráter é algo que se forma, se molda. E a escola deveria exercer esse papel de contribuir para a formação do caráter de seus alunos, principalmente se está formando alunos que serão novos educadores e futuros auxiliares na construção de outros carateres. As academias deveriam se ocupar do ensino da ética, tanto quanto com o da didática e outras disciplinas relevantes na formação de um professor.
Dentro da escola A visão do objetivo de educar ou da responsabilidade pela educação das crianças não pode ser fragmentada nos papeis de cada um. Isto é, eu enquanto professora de uma turma não sou a única responsável pela educação dos meus alunos. Antes de serem meus alunos, eles são alunos da escola, como um todo. Portanto, toda a escola, quer dizer, todo os funcionários dela são, em igualdade de valores e de deveres, responsáveis pela educação de cada uma daquelas crianças. Cada um na sua função, no seu papel.
Uma professora não deveria sentir-se invadida em seu território quando alguém interagisse com os seus alunos. Da mesma forma que não deveria sentir-se sozinha com os problemas que enfrenta em sua sala de aula.
Toda a escola deveria funcionar como um grupo. Um grande grupo formado pelos gestores, coordenadores, professores, funcionários, pais e todo mundo que se comprometesse com o objetivo único de fornecer oportunidades para um futuro melhor para todas as crianças colocadas sob os seus cuidados.
Seria irresponsável pretender ignorar as necessidades e anseios pessoais de cada profissional envolvido com o processo da educação, jamais pensaria de tal maneira. Porém, se a escola fosse realmente um grupo, encontraríamos uma maneira de eleger as crianças como prioridade máxima sem ferir ou desprezar os interesses e a importância da vida de cada educador.
Não é uma conquista fácil, esta. Mas, bastava aflorar nos profissionais da educação, pelos seus alunos, um sentimento que é comum encontrarmos nas mães: “- Os meus filhos, em primeiro lugar!
10 comentários:
Muito boa sua reflexão diante da escola e da função de diretor(a) Ivana, acredito que o espaço escolar deveria ser compreendida como uma comunidade de saberes, onde os envolvidos sentissem que estavam a todo momento sua inconclusão como "ser", em formação, os alunos, os educadores o pessoal de apoio, a familia, a gestão, o espaço da escola tem que focar na EDUCAÇÂO, que é processo,mas compreendo e concordo que esse sentimento depende muito de do sentir-se grupo, se saber que é possivel partilhar, é possivel criar diálogos, tão importantes e raros nos nossos "grupos"
compartilho com vc as ideias.
bjs!
Parabéns Ivana pelo texto belo e bastante emergente nesse momento histórico. É preciso reconhecer escola como um ecossistema de seres que se afetam e transformam continuamente. A criança tem muito a nos ensinar, basta sermos mais humanecentes que professores ou especialistas em educação. Implica novos risco e novos fazeres que credibilizem nossos discursos de qualidade na educação.
Agradeço a Kátia e a Eva pela contribuição com o texto. Gostaria de ressaltar, ainda, um agravante particular que implica como obstáculo hoje para a formação de "Grupo" nos Centros Infantis da cidade de Natal. Trata-se de uma evidente incomodação por parte da categoria Educadores Infantis com a presença de Professores no quadro do CMEI. O que não é simplesmente uma questão pessoal, mas, uma série de fatores que divergem as situações de ambas categorias, como o horário, os salários e outros, levam a essa situação. Estamos, talvez, colhendo os frutos de um erro cometido ao se criar uma outra categoria, com menos benefícios, dentro da educação. Embora esse não seja o foco da discussão proposta pelo texto, mas é uma dificuldade que eu apresento também, no meu caso, para a formação do grupo. Não implica em falar da não possibilidade de criarmos o grupo é apenas mais um desafio a ser superado com o diálogo e a sinceridade nos relacionamentos.
Querida Ivana, diante de textos tão ricos (seus e das comentaristas), com os quais concordo plenamente, resta-me apenas lembrar mais uma "carga" que nos compete enquanto professores.
Precisamos aprender a sublimar nossos problemas pessoais, dificuldades, arroxos e mostrar sempre nosso melhor lado, aquele que a criança, as famílias e a sociedade esperam de nós.
Não é fácil, só os verdadeiramente vocacionados conseguem, os demais, aqueles que foram parar acidentalmente no magistério, muitas vezes por falta de opção, estes vão sempre se colocar antes do aluno e descontar nele suas frustrações e incompetências.
Daí a dificuldade de se formarem verdadeiros grupos - as individualidades são bastante diferentes.
Um beijo.
Se pudessemos, ao menos uma vez a cada semana, parar para uma reflexão como essa , seria o máximo... Quanta responsabilidade nos cabe né não? Beijos...
Que belas e sábias palavras,Maria Luiza,"Precisamos aprender a sublimar nossos problemas pessoais, dificuldades, arroxos e mostrar sempre nosso melhor lado, aquele que a criança, as famílias e a sociedade esperam de nós.
Não é fácil, só os verdadeiramente vocacionados conseguem...".É exatamente isso. Obrigada por colaborar.
Meu amigo Dhota, Se o problema fosse a dificuldade de "parar para uma reflexão" seria fácil, o problema está na prioridade que se dá ao tempo. É preciso pessoas sensíveis como vocês para existir uma discussão como esta. Obg pela participação. Sou sua fã, cê sabe né? Adoro o seu Blog.
Muito interessante Ivana...Sou diretor de escola e você muito feliz nesse texto...Parabéns.
Obrigada Juliano. Fico feliz em saber que estou conseguindo levar algumas gotinhas para ajudar a apagar o incêndio da ignorância. Alegro-me com a sua cooperação também. Um abraço.
Amiga mais uma vez lhe parabeniso pelo lindo texto tão cheio de conhecimento . O mundo precisa de mais pessoas com essa coragem de reenvidicar os direitos . Continue escrevendo assim que um dia seu grito será ouvido Um abraço
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