quarta-feira, 4 de abril de 2012

QUEM NOS AMPARA QUANDO O GOVERNO DESGOVERNA?



Dona Maria de Fátima, depois de ser esclarecida de que eu não era a “Fortinha, filha de dona Raimunda", deixou se convencer de que eu, apesar disso, me colocava a sua disposição para tentar resolver o seu problema e acabou me contando que era funcionária aposentada da educação, que tinha vindo para Natal em um carro fretado a fim de descobrir o motivo de não haver recebido o seu salário.

Observei a sua aparência humilde, exibia aquele ar que transmite a fragilidade de uma senhora idosa, mas ao mesmo tempo revela a fortaleza de quem vive no interior e já enfrentou as muitas precariedades dessa vida.

Acho que a raridade em que se tornou o cumprimento às pessoas desconhecidas, coisa que nos interiores, antigamente, era muito comum, pois ninguém passava um pelo outro sem dar um bom dia, boa tarde ou boa noite, foi o que fez a dona Maria de Fatima acreditar me conhecer e estender seu cumprimento a uma conversa, revelando a situação pela qual passava ali na Secretaria Estadual de Educação.

Ouvi tudo e fiquei conhecendo a resposta que ela tinha recebido da secretaria e com a qual iria voltar para casa: - O dinheiro será pago apenas no final do mês, junto com o próximo salario.

Dona Maria de Fatima voltava, sem entender ainda o motivo da suspensão do seu pagamento, oscilando entre estar “conformada” por reconhecer a sua impotência para resolver o problema e “inconformada”, pois não concebia ser surpreendida com a perda de um direito com o qual contava para “pagar o aluguel” da sua casa e comprar os seus “medicamentos controlados”.

A primeira ideia que me veio a mente foi a de ligar para o Sindicato, a fim de receber alguma orientação. Para minha surpresa (aliás, nem sei por que ainda me surpreendo) a resposta que recebi da pessoa da coordenação que me atendeu foi: - Esse problema não tem nada a ver com o sindicato, não. Ela tem que resolver por ai mesmo, na Secretaria da Educação.

Ao me dirigir ao RH, tentando resolver o problema junto com a dona Maria de Fatima, acabei descobrindo que esse não era um caso isolado. Coincidentemente, na hora em que estávamos lá, outra senhora aparentando idade semelhante, entrou rispidamente no setor e dirigindo-se a chefe que se encontrava na sala ao lado, gritou: - Eu quero o meu dinheiro hoje! Ninguém tem o direito de meter a mão no que é meu!

Nesse instante o clima começou a ficar complicado porque a chefe do setor mandou chamar o segurança.

 A senhora, que estava visivelmente abalada, sentiu-se ofendida com tal atitude e bravejou com a sabedoria que a idade e as experiências lhes permitiram adquirir: - Por que uma pessoa reivindicando o que é seu por direito é tratada como se estivesse errada? – Alertou ao segurança: - Não se atreva a por a mão em mim para me retirar daqui, pois estou em um local publico e não estou agredindo ninguém, apenas exigindo que seja devolvido o que me foi tirado.

Acabei tendo que deixar a dona Maria de Fátima de lado por uns instantes para, dessa vez, ir a auxilio da outra senhora.

Fiz questão de esclarecer aos presentes que ela estava coberta de razão e que merecia todo o nosso respeito. Convenci a sentar-se em uma cadeira para tomar um pouco de agua a fim de se acalmar um pouco. Outras funcionárias se aproximaram e ofereceram-lhe chá, dessa vez demonstrando solidariedade e confessando que também uma delas havia ficado sem receber o pagamento neste mês.

Saímos daquela sala com a promessa de ter o dinheiro recebido em uma folha suplementar no próximo dia 10, mas, sem compreender ainda de quem foi a culpa de toda essa injustiça. Pareceu que a ordem partiu lá de cima, do cargo maior da Secretaria de Educação. Um fato lamentável e revoltante.

Acompanhada das duas senhoras, ainda conversando sobre o assunto  nos corredores, em direção a saída do prédio, acabei me projetando para um futuro próximo, onde eu estarei, assim, uma senhora aposentada. Penso que certamente a minha postura se assemelhará com a da segunda.

Todavia, entendo hoje que: o fato de não abaixarmos a cabeça diante da injustiça, não isenta do sofrimento de nos sentirmos sós e desamparadas. É muito bom quando encontramos alguém que nos apoie e, principalmente, instituições que tem o dever de fazê-lo.

Continuo achando que o sindicato, instituição que mantemos através de um desconto em nosso salário, deve ser estar sempre a nossa disposição em situações como essa, para prestar esclarecimentos e apoio jurídico se for o caso.

Liguei mais uma vez para a coordenação do sindicato e dessa vez a pessoa concordou que os funcionários prejudicados deveriam recorrer ao órgão.

Tudo isso merecia mais divulgação.

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