Quando menina, eu
vivia cercada dos ensinamentos da minha avó. Cercada de crenças, de rezas e dogmas.
“Oh meu Jesus
perdoai-me e livrai-me do fogo do inferno. Levai as almas todas para o céu.
Socorrei, principalmente, as que mais precisarem.”
Essas palavras
ecoavam dentro de mim provocando um terror inexplicável.
Eu realmente sentia
muito medo de, por algum motivo, não alcançar o perdão de Jesus e acabar no
fogo do inferno.
Essa ideia, aliás, a
maioria das ideias que eu tinha a respeito de Deus, era relacionada ao medo, ao
castigo, a condenação eterna para pagamento dos pecados.
Nem posso dizer que
isso era estranho naquela época: década de setenta. Estranho mesmo é hoje em
dia assistir ainda, pessoas repetindo essas orações.
Das duas uma: Ou
elas não prestam muita atenção no sentido das palavras que repetem ou continuam
sob o julgo do medo dos castigos de um Deus severo que não titubeia em condenar
um filho à eternidade de “um fogo do inferno”
.
Para falar a
verdade, eu nunca consegui lidar muito bem com a acepção do termo “eternidade”.
Como também não absorvo a ideia da coexistência eterna de dois arqui-inimigos:
Deus e o Diabo.
Pensando Deus como
um pai, reflito: Como poderia um pai permitir em sua casa a permanência de
alguém que só provoca o mal aos seus filhos?
Acaso seria Deus
refém do Diabo e os seus filhos incapazes de serem avaliados ou julgados pelas
suas próprias ações e decisões, sem precisar da inteligência do Diabo para
conduzi-los?
Devo esclarecer
também que essa visão de “Deus Pai” é muito difícil também de assimilar. A não
ser que venha acompanhada do “Filho” e do “Espírito Santo”, em uma só pessoa.
Gosto dessa ideia de
mistério. Não de mistério fruto de dogma, mas, de mistério fruto da nossa
limitação humana de “incompreender” a Deus.
O Deus que concebo é
algo assim como uma energia cósmica que está ligada a todos os seres. Algo
realmente inexplicável.
Para mim, a evolução
que esses seres que compõem a energia cósmica, alcançam através da sabedoria os
conduzem a um nível tal que por isso são chamados de “Anjos” e “Deus”. Os seus declínios causado pela ignorância leva-os
a uma transformação espiritual que os tornam conhecidos como “demônios” e “Diabo”.
Acredito também ser
muito provável a sobrevivência da energia vital à morte da matéria.
O que me afasta
mesmo das religiões, de todas elas, é essa mania de acharem-se descobridores da
“verdade” e apresenta-las de forma tão simplificada que se torna um afronte
acreditar nesse Deus tão falho do qual são porta-vozes.
Sigo o que indica o
poeta: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha
opinião formada sobre tudo.”
Penso que enquanto
eu fizer parte dessa vida terrestre sou movida pelo potencial de construir
conhecimentos, de buscar respostas e pela certeza de que nunca alcançarei a
verdade suprema, pela minha limitação para compreendê-la.
Todavia, muitas
vezes invejo os que se acomodam às respostas que obtêm e sentem-se felizes com
elas. Embora eu não consiga ser um desses, condeno quem tente arrancá-los de
forma irresponsável desse conforto espiritual.
Mas, condeno mais
ainda, aqueles que tiram proveitos próprios da fé dos outros.
De tudo isso, creio que
o que realmente importa é evoluirmos sempre em busca da harmonia entre todos os
seres.