Já era para eu ter contado esta história, mas, o mês de setembro é sempre tão corrido, muita gente amiga aniversaria nele, inclusive eu, no dia vinte e dois. – Ah... Aceito as congratulações atrasadas, obrigada! (risos).
Pois então..., continuando a história, eu havia ido a uma dessas comemorações, juntamente com a minha família quando no retorno para casa, por volta das dez horas da noite fomos parados num posto da policia rodoviária estadual.
Era uma noite de segunda-feira, depois de um dia inteiro de trabalho, por muita consideração nos dispomos a ir a este aniversário do outro lado da cidade, na zona norte. Naquele momento estávamos todos ansiosas para chegar em casa e descansar. Ao atravessar a ponte, de lá para cá, eu sem perceber passei em certa velocidade por cima da lombada que fica próxima ao tal posto.
Foi só o tempo de ouvir o apito e ver o guarda fazendo sinal para encostar o carro.Ele abaixou a cabeça para dentro da janela e foi dizendo, com um ar meio sarcástico – Está apressada? - respondi – Pois é, estou! – querendo aproveitar a graça da conversa – Mas, a senhora nunca ouviu falar que as vezes a pressa é inimiga da perfeição? – disse ele “cortando o meu barato”. Dei um sorrisinho amarelo, concordando que agora era uma dessas vezes.
Com aquela voz “treinada” de guarda ele foi dizendo – Seu documento e documento do carro! – Apesar de sentir a trágica mudança nos meus planos de chegar mais cedo em casa, eu tinha certeza de ser dispensada logo. Entreguei os documentos.
O policial examinou os documentos e questionou – Onde está o documento de 2011?- com naturalidade questionei – E esse aí é de quando? – delatando toda a minha desorientação – De 2010! – declarou, com firmeza. Não me abalei, pedi que aguardasse – Só um minutinho...! – Daí então, haja eu procurar o tal documento “pelas profundezas” da minha bolsa. Adivinhando o que estava acontecendo, ele nem esperou, – Pode deixar! – disse retirando-se com os meus documentos nas mãos, em direção àquela “casinha amarela”.
Não deu dois minutos, o policial me chamou pela janela. – Dona Ivana, venha até aqui, por favor... – eu muito tranquila, "sabendo que estava toda certa, ainda perguntei – Alguma coisa errada...? – “Alguma coisa errada?”´- repetiu ele, com aquele ar sarcástico, de novo. – Venha até aqui. – Disse, fazendo sinal para que eu entrasse, a fim de me mostrar algo no computador.
Sentei-me ao seu lado, sem enxergar direito pois estava sem os óculos, mas nem precisava, ele foi narrando – A senhora, Dona Ivana, simplesmente, não pagou a primeira parcela do IPVA. Não pagou a segunda... não pagou a terceira... não pagou a quarta... tem essa multa... essa outra... – Eu não acredito! – Disse eu com uma cara de surpresa que fez o guarda rir – E agora? – Ele foi respondendo: - E agora? Dona Ivana...? – Deu-me a resposta, citando o artigo da lei que referendava as suas palavras: - E agora é apreensão do carro e multa equivalente a sete pontos na carteira.
Olhando para aquela tela, sem enxergar nada, mas acreditando nas palavras do guarda, a única coisa que eu consegui dizer foi – Ei não faça isso não! Eu já estou com essas multas todinhas... se você me der mais uma, aí pronto, eu não dirijo nunca mais. – A senhora é professora né? – Como soube? – Pelo seu jeito, a minha mulher também é professora. Tá vendo, não quiseram estudar...? – Disse ele numa conversa mais amigável, que me deixou mais a vontade para me fingir de ofendida. – Ei, bichinho, saiba que professora estuda sem parar viu? – rimos, "já quase amigos".
Mas eu queria ter certeza logo onde aquela conversa ia dar, perguntei: - E aí, como é que fica? - A senhora quer que eu faça o que? – Ah, eu quero que o senhor me deixe ir pra casa dormir e não invente de botar mais essa multa, não! – rimos juntos novamente.
Voltando a ficar sério e sem me responder, ele se levantou da frente do computador e se dirigiu em direção à porta. Segui-o de perto.
De repente, ele se voltou e estirou a mão para mim com os documentos. – Eu não estou entendendo – disse eu estranhado o gesto, sem saber ao certo se era mesmo para eu pegar. – Ele insistiu com o gesto e disse: - Estão em suas mãos! – Entendendo menos ainda, peguei os documentos e falei: - Sendo assim, tá... Boa noite. Tchau!
Caminhei devagar em direção ao carro, com uma vontade de sair correndo dali e com o receio que ele estivesse vindo atrás de mim. Não veio. Vim mesmo embora, ainda confusa com o que aconteceu para ele me dispensar assim.
Contando essa história a alguns amigos, todos foram unânimes em afirmar: - Ele queria era uma bola! - o que significa dinheiro, suborno. Todo mundo sabia disso.
Eu, agora refletindo, comecei a compreender o sentido daquele gesto dele. Ainda bem que eu não percebi isso na hora, o meu constrangimento seria maior do que o que estou sentindo agora. Definitivamente, eu não tenho jeito para essas coisas. Não saberia como fazer
Fico admirada como esse tipo de prática tornou-se tão “normal” a ponto de todo mundo já saber que grande parte dos guardas já param os motoristas com essa intenção.
Lógico que eu não queria ficar a pé, naquelas horas da noite, tão longe de casa, com a minha mãe e as minhas filhas e também não queria correr o risco de ter mais uma multa que me levasse à suspensão da carteira.
Mas, o que eu gostaria de verdade, era que o guarda reconhecesse que tudo não passou de uma atrapalhada minha e que eu falei a verdade ao afirmar que no dia seguinte, com certeza, estaria regularizando tudo junto ao DETRAN (como o fiz).
Já que estamos, neste mês de setembro, em plena campanha de educação sobre o trânsito, acho muito apropriado começar educando os próprios profissionais responsáveis pela aplicação das leis do trânsito. Aula de ética, para eles.
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